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Pastoral não recomenda a farinha multimistura

A polêmica levantada pela Câmara de Vereadores em torno dos indícios de irregularidades na aquisição de pães pela Prefeitura de Apucarana junto ao Instituto de Promoção Humana do Paraná (Iprohpar) chama atenção para a farinha utilizada na produção dest

Da Redação

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 Contrato entre Prefeitura e Iprohpar está sendo investigado pela Câmara
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Contrato entre Prefeitura e Iprohpar está sendo investigado pela Câmara
Escrito por Da Redação
Publicado em 15.04.2011, 09:33:00 Editado em 27.04.2020, 20:48:30
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A polêmica levantada pela Câmara de Vereadores em torno dos indícios de irregularidades na aquisição de pães pela Prefeitura de Apucarana junto ao Instituto de Promoção Humana do Paraná (Iprohpar) chama atenção para a farinha utilizada na produção destes alimentos. Conhecido como multimistura, o alimento composto por farelo de arroz, trigo e folhas de mandioca e abóbora ficou famoso no País após ser difundido pela Pastoral da Criança para combater casos de desnutrição infantil. O que poucas pessoas sabem é que a mistura não é mais recomendada pelo órgão desde 2005.

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Segundo a assessoria de imprensa da Pastoral da Criança no Paraná, pesquisas realizadas em parceria com universidades brasileiras, como a Universidade Federal de Pelotas (UFPel), já demonstraram que a farinha multimistura não melhora significativamente o quadro nutricional das crianças, não prevenindo, por exemplo, a anemia.


Conforme o órgão, a mudança de postura em relação ao uso do farelo foi incentivada também após o recebimento de críticas de entidades ligadas à saúde, como o Conselho Federal de Nutrição, e a falta de comprovação científica sobre a efetividade da multimistura. Além disso, a produção artesanal da farinha não poderia atingir a normas sanitárias exigidas.

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A freira Cecília Zanet, da Pastoral da Criança em Apucarana, explica ainda que o órgão deixou de estimular o consumo da farinha multimistura devido às novas necessidades na saúde infantil. “Tínhamos muitos casos de desnutrição quando a mistura foi criada. Hoje, o problema é o contrário. Estamos lutando para controlar a obesidade”, salienta. Ela também avalia que a multimistura produzida atualmente não é a mesma farinha idealizada pela pastoral anos atrás.


Sem ser mais estimulada pela entidade, a multimistura deixou de ser produzida em grande escala. Nos municípios onde este tipo de farinha continua sendo utilizado, como em Cambé, o uso passou a ser familiar. Até mesmo em Apucarana, a Pastoral da Criança não participa mais da distribuição da multimistura. A farinha é oferecida apenas nos pães fabricados pelo Iprohpar e vendidos para escolas e creches da cidade, através de um contrato com a Prefeitura.


Apesar de ser considerado dispensável até pela Pastoral da Criança, o ingrediente está presente em milhões de pães adquiridos pela Prefeitura de Apucarana desde 2001. Dados divulgados pela Câmara de Vereadores de Apucarana mostram que, somente entre 2006 e 2008, mais de R$ 2,7 milhões foram pagos pelo município ao Iprohpar. Criado e dirigido pelo ex-prefeito Valter Pegorer (PMDB), o instituto foi contratado sem passar por um processo de licitação, condição obrigatória para a prestação de serviços a órgãos públicos.

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Além disso, a presença de funcionários municipais na diretoria da entidade levantou suspeitas. O contrato entre o município e o Iprohpar é investigado pelos vereadores desde fevereiro. Inicialmente, o trabalho foi conduzido pela CPI da Dívida Pública. No entanto, a partir da gravidade das denúncias, a Câmara decidiu nesta semana criar uma CPI específica para apurar o caso.

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Outras entidades produzem farelo no Estado

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Depois que o consumo da multimistura deixou de ser incentivado pela Pastoral da Criança, o órgão passou a orientar as comunidades para a ingestão de produtos naturais regionais frescos. Bem por isso, hoje, o conceito de alimentação saudável, segundo a Pastoral da Criança, consiste na ingestão equilibrada de frutas e verduras. Há dois anos, a entidade desenvolve um trabalho focado no cultivo de hortas caseiras em comunidades atendidas e na prevenção da obesidade infantil.
Em contrapartida, o farelo multimistura continua sendo comercializado como complemento alimentar, pelo menos no interior do Estado. Embora na época da contratação do Instituto de Promoção Humana do Paraná (Iprohpar), a Prefeitura de Apucarana tenha apontado que o Iprohpar era o único a produzir a farinha e, em função disso, dispensado a licitação para o serviço, outras instituições paranaenses fabricam o farelo.


Em Guarapuava, por exemplo, a Casa da Farinha, produz o material há mais de 10 anos. Aproximadamente 600 quilos de farinha multimistura são produzidos mensalmente, com apoio da Prefeitura, e distribuídos gratuitamente a entidades cadastradas, como escolas.


Já a empresa Qualivida Ltda, de Francisco Beltrão, fabrica a farinha multimistura desde 2003. Segundo a empresária Diane Fávero, seus principais clientes são prefeituras do Paraná, que distribuem o material em postos de saúde e escolas públicas. (Com reportagem Adriana Savicki)

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Instituto já terceirizou produção

A produção dos pães a partir do farelo com a fórmula multimistura também pode ser feita em qualquer padaria, desde que haja capacitação. Em Apucarana, em 2009, até a padaria “Sonhos de Menina”, pertencente ao Centro Educacional Profissionalizante Esperança (Cepes), chegou a produzir os pães para o Instituto de Promoção Humana do Paraná (Iprohpar), contratado pela Prefeitura para fornecer o alimento.


O padeiro da “Sonhos de Menina”, Claudionor Aparecido de Andrade, recorda que o CEPES repassou os pães para, pelo menos, 18 escolas. “Fazíamos o pão com a multimistura que nos mandavam do Iprohpar”, conta. A freira Cecília Zanet lembra que a produção, no entanto, durou pouco. “Fabricamos durante um ano e depois o contrato foi interrompido”, pontua.

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