A divulgação de um suposto receituário médico por Pablo Marçal (PRTB), alegando que Guilherme Boulos (PSOL) teria sido internado em 2021 por uso de drogas em uma clínica no Jabaquara, zona sul de São Paulo, acrescenta mais um capítulo à disputa pela Prefeitura da capital. Porém, logo após a publicação, foram identificadas incoerências e controvérsias no documento apresentado por Marçal.
Em resposta ao post de Marçal, Boulos iniciou uma transmissão ao vivo no Instagram, afirmando que o documento divulgado por seu adversário é falso e que o dono da clínica mencionada seria um apoiador de Marçal. "Olha o nível que o cidadão chegou: falsificação de documento", disse o candidato do PSOL.
O laudo, divulgado por Marçal nesta sexta-feira, 4, no Instagram, já foi removido pela rede social. O documento afirmava que, às 16h45 do dia 19 de janeiro de 2021, Boulos teria dado entrada na Mais Consulta Clínica Médica com um quadro de surto psicótico grave. Segundo o texto, um exame toxicológico apresentado por um acompanhante de Boulos indicaria resultado positivo para uso de cocaína.
Entretanto, no dia da suposta internação, Boulos estava distribuindo cestas básicas na Comunidade do Vietnã, também na zona sul. Publicações nas redes sociais, tanto de Boulos quanto de seus apoiadores, comprovam que o agora candidato à Prefeitura de São Paulo teve compromissos públicos no dia 19 de janeiro de 2021. Além disso, ele participou de um podcast no dia seguinte e teve outras atividades públicas na véspera da alegada internação.
Outra inconsistência, mencionada pelo próprio Boulos durante uma transmissão ao vivo no Instagram, na qual pediu a prisão de Marçal, é o erro no número de seu documento de identidade no suposto receituário. A reportagem apurou a alegação de Boulos e confirmou que o RG no documento realmente está incorreto. Além disso, um dos sócios da clínica onde Boulos teria sido supostamente internado é Luiz Teixeira da Silva Júnior, médico amigo de Pablo Marçal, que aparece em vídeos ao lado do influenciador nas redes sociais. Ele já foi condenado por falsificação de documento público.
A reportagem tentou contato com a Mais Consulta Clínica Médica, mas os números disponíveis no suposto receituário e na conta da clínica no Instagram estão indisponíveis. Outro ponto é que o médico que assinou o receituário, Dr. José Roberto de Souza (CRM 17064-SP), já faleceu, de acordo com o Conselho Federal de Medicina (CFM).
Outra controvérsia envolve a escolha da própria clínica mencionada na suposta internação de Boulos. Ele é filho de dois médicos e professores de medicina da Universidade de São Paulo (USP). Seu pai, Marcos Boulos, já foi diretor da Faculdade de Medicina da USP. Quando, aos 19 anos, Boulos precisou de tratamento psiquiátrico devido a um quadro de depressão, foi internado no Hospital do Servidor Público Estadual, conhecido por sua excelência no atendimento. Isso levanta dúvidas sobre a veracidade da alegação de que ele teria procurado uma clínica de menor prestígio.
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