Preso há 68 dias no Batalhão da Polícia do Exército em Brasília, o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, é esperado nesta terça-feira, 11, na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro, onde deve ser questionado sobre a possível ligação do ex-presidente com os atos golpistas.
Os parlamentares da base do governo Luiz Inácio Lula da Silva traçaram diferentes estratégias para tentar extrair do militar informações que impliquem Bolsonaro nos ataques às sedes dos três Poderes. Um deputado da base governista disse em conversa reservada que pretende destacar no depoimento os mais 20 anos em que Cid trabalhou como oficial do Exército. Os congressistas adeptos da estratégia de exaltar a carreira do militar avaliam que essa abordagem pode levar o ex-auxiliar de Bolsonaro a repensar sua fidelidade ao ex-chefe do Executivo.
No roteiro elaborado por parlamentares governistas constam, ainda, questionamentos sobre como a família de Cid tem se mantido financeiramente desde que ele foi preso e em relação à falsificação de cartões de vacinação contra a covid-19. Cid foi detido em maio, suspeito de fraudar dados de imunização de familiares e de Bolsonaro.
Perguntas devem também abordar a viagem a Miami feita pelo ex-ajudante de ordens nove dias antes de Bolsonaro embarcar rumo a Orlando. Os dois viajaram aos Estados Unidos em dezembro do ano passado. Cid retornou ao País no dia 20 de janeiro; já Bolsonaro regressou no dia 30 de março.
Integrantes da base do governo preparam ainda perguntas sobre as trocas de mensagens de teor golpista identificadas pela Polícia Federal ao apreender o celular de Cid. Os investigadores encontraram um "roteiro" de golpe de Estado no telefone do tenente-coronel. Também foi registrada a participação do ex-ajudante de ordens em grupos de militares que defendiam uma intervenção das Forças Armadas para impedir a posse de Lula.
Na semana passada, a CPI Mista ouviu o coronel Jean Lawand Junior, que trocou mensagens golpistas com Cid. Nos diálogos, o militar pedia ao então ajudante de ordens de Bolsonaro que fizesse chegar ao presidente da República seus apelos para que ele decretasse uma intervenção das Forças Armadas no País.
Aos deputados e senadores da comissão, o general, no entanto, negou ter defendido um golpe e disse que jamais atentou contra a democracia. "A ideia minha desde o começo era que viesse alguma manifestação para poder apaziguar aquilo, as pessoas voltarem às suas casas e seguirem a vida normal", disse, na ocasião.
Silêncio
Apesar da extensa lista de perguntas elaborada pelos parlamentares governistas, é possível que o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro opte por ficar em silêncio. Cid apresentou pedido de habeas corpus ao Supremo Tribunal Federal (STF) para não comparecer à CPMI. A ministra Cármen Lúcia negou a solicitação do militar e decidiu que ele deve prestar depoimento à comissão, mas com o direito de permanecer calado em questões que possam incriminá-lo.
Antes da decisão da ministra, o presidente da comissão, deputado Arthur Maia (União Brasil-BA), chegou a pedir que o Supremo rejeitasse o pedido do ex-ajudante de ordens para não depor. Cid foi convocado na condição de testemunha, o que o obriga a dizer a verdade perante os parlamentares. Cármen Lúcia cobrou na decisão que os integrantes da CPMI tratem Cid "sem agressividade, truculência ou deboche".
O militar já prestou três depoimentos à Polícia Federal desde que foi preso e, em nenhuma das ocasiões, comprometeu Bolsonaro.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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