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PCC gastou R$ 5 mi para resgatar Marcola e atacar Moro; veja detalhes do plano

Era janeiro quando o promotor Lincoln Gakiya e o procurador-geral de Justiça de São Paulo, Mário Luiz Sarrubbo, desembarcaram em Brasília. Levavam na bagagem as informações bombásticas de uma testemunha protegida localizada pelo Grupo de Atuação Especial

Marcelo Godoy (via Agência Estado)

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Escrito por Marcelo Godoy (via Agência Estado)
Publicado em 23.03.2023, 17:54:00 Editado em 23.03.2023, 18:00:12
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Era janeiro quando o promotor Lincoln Gakiya e o procurador-geral de Justiça de São Paulo, Mário Luiz Sarrubbo, desembarcaram em Brasília. Levavam na bagagem as informações bombásticas de uma testemunha protegida localizada pelo Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado (Gaeco): o senador Sérgio Moro (União Brasil-PR), e sua mulher, a deputada federal Rosângela Moro (União Brasil-SP), e os dois filhos do casal estavam sendo seguidos pela Sintonia Restrita, o setor de operações especiais do PCC.

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Havia seis meses que os bandidos comandados por Janeferson Aparecido Mariano, conhecido como Nefo ou NF, receberam a ordem para monitorar o alvo. Alugaram chácaras na região de Curitiba - em uma delas foi construída uma parede falsa em um dos cômodos para esconder armas e dinheiro. Nefo também alugou uma casa perto da residência dos Moro e uma sala comercial ao lado do escritório político do senador, em Curitiba. Os bandidos fotografaram o cotidiano do casal e de seus filhos. Escola, academia, compras e reuniões: tudo foi acompanhado pelos bandidos.

O grupo contava ainda com Reginaldo Oliveira de Sousa, o Rê, integrante da Sintonia Final dos 14, o grupo responsável pelas ordens aos faccionados em liberdade. Eles teriam providenciado carros blindados para a ação. Investigadores do caso desconfiam que toda a vigilância sobre a família Moro tinha como mais provável objetivo o sequestro do senador, da deputada e dos filhos, que seriam mantidos reféns em uma das chácaras, para obrigar o Estado a negociar a libertação de Marcola ou sua retirada do sistema penal federal.

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"O resgate de Marcola é questão de honra para o PCC. Dinheiro tem de sobra", afirmou o promotor Gakiya ao Estadão. Gakiya era outro dos alvos do plano do PCC, ao lado de agentes penitenciários e policiais de Mato Grosso do Sul e de Rondônia. O ataque às autoridades era o chamado Plano B da facção. Ele estava pronto para ser executado quando o promotor e Sarrubbo chegaram a Brasília. Além de informar a cúpula da PF sobre o caso, os dois também avisaram a Polícia Legislativa. Foi quando Moro e sua mulher souberam que eram o alvo dos bandidos e passaram a ser escoltados.

"Nós acreditamos que ele (o plano) só não foi posto em prática porque faltou a ordem do Marcola", afirmou o promotor. Após o alerta dado pelo promotor, a PF passou a monitorar números de telefones e obteve quebras de sigilo para identificar os envolvidos na operação e localizá-los. Antes disso, há dois meses, um dos principais implicados na ação foi detido em São Paulo pelos homens das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota). Era Valter Lima Nascimento, o Guinho, outra liderança da Sintonia Restrita.

É Gakiya quem explica o que é a tal sintonia: "Eles são responsáveis apenas por assassinatos e resgates. Não se envolvem em outras atividades, exceto o tráfico de drogas." Nefo e Ré foram presos nesta quarta-feira, 22, durante a Operação Sequaz, da PF. O primeiro estava na região de Campinas, no interior, e o segundo, na Baixada Santista, um das mais importantes rotas do Tomate, como é chamado o tráfico internacional de drogas da facção. Em nome de laranjas e familiares, Nefo teria um patrimônio que inclui lancha, carros importados e imóveis. "Coisa de milhões", contou o promotor.

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Os atentados contra autoridades como o ex-juiz Moro e o promotor era chamado de Plano B na facção porque o Plano A - o objetivo principal dos bandidos - era o resgate de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder da facção. Há mais de um ano, a inteligência do Departamento Penitenciário Federal (Depen) e a PF acompanhavam as movimentações e diálogos mantidos por Marcola e outros presos da facção na penitenciária federal de Brasília. O plano envolvia o treinamento de mercenários na Bolívia e arregimentação de integrantes do chamado Novo Cangaço para a invasão do presídio e resgate de Marcola.

Em razão da descoberta do plano, o Depen transferiu Marcola em março de 2022 para o presídio federal de Rondônia, onde a organização criminosa traçou um novo planejamento para a fuga de seu líder. Ao mesmo tempo, resolveu cobrar seus integrantes pelo fracasso da operação. Marcos Roberto de Almeida, o Tuta, que tinha recebido a missão de libertar o chefe foi sequestrado na Bolívia, em maio de 2022, e levado a um tribunal do crime. Desde então, está desaparecido.

A responsabilidade para soltar Marcola passara, então, para Guinho e, depois, para Nefo. Marcola permaneceu em Rondônia até janeiro deste ano, quando foi trazido de volta à Brasília, após a conclusão da construção de uma muralha no presídio federal. Foi só então que a cúpula da facção teria começado a discutir a execução do plano B. Mas era tarde. A ideia de apanhar Moro já havia chegado aos ouvidos do Ministério Público. Os investigadores do caso calcularam que a facção gastou cerca de R$ 5 milhões nos planos de resgate de Marcola - os Plano A e B.

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ENTENDA A OPERAÇÃO SEQUAZ:

Operação

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A Operação Sequaz foi deflagrada pela Polícia Federal para desmantelar um plano que mirava o ex-juiz e agora senador Sérgio Moro (União Brasil-PR). A ofensiva ocorreu cerca de 45 dias após o início das investigações.

Investigações

A PF foi acionada pelo Ministério Público de São Paulo, que identificou risco à segurança de Moro e também do promotor de Justiça Lincoln Gakiya. Mais de cem agentes foram às ruas cumprir 11 mandados de prisão em Mato Grosso do Sul, Rondônia, São Paulo e Paraná. O efetivo vasculhou 24 endereços.

Histórico

Então ministro da Justiça e Segurança Pública, Moro coordenou a transferência e o isolamento de lideranças do PCC para presídios federais, entre eles Marcola. Já Lincoln Gakiya integra o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) e é responsável por investigações sobre a facção.

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