O presidente do Senado e do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), criticou o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), pelo anúncio de uma frente para "protagonismo" das regiões Sul e Sudeste. O senador afirmou que o Estado não cultiva a exclusão e citou o ex-presidente Juscelino Kubitschek, que também era mineiro, como exemplo de promoção da união no País. "Não cultivamos em Minas a cultura da exclusão. JK, o mais ilustre dos mineiros, ao interiorizar e integrar o Brasil, promoveu a lógica da união nacional. Fiquemos com seu exemplo."
A crítica de Pacheco, que fez sua carreira política por Minas, foi em relação à entrevista que Zema concedeu ao Estadão, publicada no fim de semana. "Ao valoroso povo do Norte e Nordeste, dedico meu apreço e respeito. Somos um só país", escreveu o senador nas redes sociais.
A fala de Zema ganha importância pelo fato de que o governador mineiro é visto como presidenciável, um dos possíveis "herdeiros" do voto de direita depois que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi tornado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Na entrevista, Zema afirmou que os Estados do Sul e do Sudeste devem ter mais protagonismo político, por serem os que têm mais produção. "Nós queremos é que o Brasil pare de avançar no sentido que avançou nos últimos anos - que é necessário, mas tem um limite - de só julgar que o Sul e o Sudeste são ricos e só eles têm que contribuir sem poder receber nada", disse o governador.
"Isso não pode ser intensificado, ano a ano, década a década. Se não você vai cair naquela história do produtor rural que começa só a dar um tratamento bom para as vaquinhas que produzem pouco e deixa de lado as que estão produzindo muito", complementou.
Repercussão
As declarações do governador de Minas reverberaram mal entre outros chefes de Executivos estaduais e renderam críticas de autoridades, como o ministro da Justiça, Flávio Dino. Ainda no domingo, 6, ele disse, via rede social, que criar distinções entre brasileiros é proibido pela Constituição Federal e que aquele que optar por esse caminho é "traidor da Pátria".
Eduardo Leite (PSDB), governador do Rio Grande do Sul, defendeu Zema. "A união deles (Norte e Nordeste) em torno de pautas de seus interesses serviu de inspiração para que, finalmente, possamos fazer o mesmo, nos unirmos em torno do que é pauta comum e importante aos Estados do Sul e Sudeste", disse o tucano. Outros governadores, no entanto, interpretaram a fala de Zema como um incentivo à cisão.
Para o governador da Paraíba e presidente do Consórcio Nordeste, João Azevêdo (PSB), o governador mineiro foi infeliz. "É um grande equívoco quando se estimula uma divisão no País, que já foi dividido pelo processo eleitoral. Estamos em um processo de reconstrução e aí vem alguém e faz uma declaração dessa", afirmou Azevêdo ao Estadão.
O líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), afirmou que Zema deveria ter feito algo pelas regiões Sul e Sudeste nos últimos quatro anos em vez de "bajular" Bolsonaro. "Essa elite carcomida e preconceituosa não passará", disse o parlamentar.
O líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), disse que o governador mineiro utilizou "práticas preconceituosas" para destilar ódio contra nordestinos e nortistas. "A xenofobia é um dos crimes mais cruéis e nefastos contra nosso próprio povo. Esse tipo de discurso de ódio e de separatismo não pode mais ter espaço em nosso país."
O governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), que se apresenta como um político de direita, assim como Zema, disse que é perigoso estabelecer um "cabo de guerra" entre as regiões do País. "Uma declaração dessa é muito ruim porque a pobreza se concentra no Norte e no Nordeste. Sul e Sudeste não querem abrir mão do que eles têm em termos de competitividade, mas é necessário um equilíbrio. É muito perigoso estabelecer um cabo de guerra entre as regiões e colocar uma população contra a outra", afirmou o ao Estadão.
Após a repercussão da entrevista, Zema tentou esclarecer o tema, afirmando que a frente não vai se posicionar contra outras regiões. "A união do Sul e Sudeste jamais será para diminuir outras regiões. Não é ser contra ninguém, e sim a favor de somar esforços", escreveu ele no Twitter.
Auxílio
Não é a primeira vez que Zema defende o protagonismo dos Estados mais ricos do País. No começo de junho, durante a abertura do 8.º Encontro do Consórcio de Integração Sul e Sudeste, realizado em Belo Horizonte, o governador disse que os Estados do Sul e do Sudeste têm mais pessoas trabalhando do que vivendo de auxílio emergencial e que "boa parte da solução do nosso país está nesses Estados (do Sul e do Sudeste)". Como agora, a insinuação do mineiro foi recebida como preconceituosa.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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