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'O presidente faz uma bravata perigosa'

"Uma bravata perigosa." Assim o historiador José Murilo de Carvalho classificou a declaração do presidente Jair Bolsonaro apontando nas Forças Armadas o poder de determinar se o Brasil é uma democracia ou uma ditadura. Embora admita que o que o chefe do E

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 20.01.2021, 13:20:00 Editado em 20.01.2021, 13:27:54
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"Uma bravata perigosa." Assim o historiador José Murilo de Carvalho classificou a declaração do presidente Jair Bolsonaro apontando nas Forças Armadas o poder de determinar se o Brasil é uma democracia ou uma ditadura. Embora admita que o que o chefe do Executivo afirmou seja, em parte, verdadeiro - considera que a República brasileira é tutelada pelos quartéis -, o pesquisador avaliou que Bolsonaro não fala pelos altos-comandos de Marinha, Exército e Aeronáutica.

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José Murilo apontou, ainda, um risco nas atitudes de Bolsonaro, que, segundo ele, se dirige aos escalões inferiores da hierarquia castrense e às polícias militares. Para o professor, trata-se de "violação da hierarquia" e "veneno para as corporações militares". Na avaliação do historiador, Bolsonaro "fracassou" na "guerra da vacina" e tenta retomar espaço, mas não conseguirá bom resultado se tentar envolver os fardados. A seguir, a entrevista de José Murilo ao Estadão.

Onde o presidente Jair Bolsonaro quer chegar quando diz que depende das Forças Armadas se o Brasil vai ser uma democracia ou uma ditadura?

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A declaração é contraditória. Dizer que a democracia depende das Forças Armadas é dizer que já não há democracia, o que, em parte, é verdade na medida em que temos uma República tutelada. Só teremos uma República democrática quando ela não depender de apoio militar. A República norte-americana passou por uma crise séria, sem que os militares se manifestassem.

Essa declaração é bravata ou há uma ameaça real de golpe?

É uma bravata perigosa. Ele fala em "nós militares", colocando-se como porta-voz do grupo, o que certamente não é. Pela lei, quem fala pelos militares são seus comandantes. Se falasse como presidente, chefe das Forças Armadas, seria ainda pior, porque estaria colocando a Presidência como defensora de um grupo social. A bravata é perigosa para ele por estar usurpando a autoridade dos comandantes das três Forças. É uma bravata perigosa.

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Bolsonaro tem apoio das Forças no seu todo ou em parte, para esse tipo de declaração?

Como já indicou o comandante do Exército, general (Edson) Pujol, aliás colega dele na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras), quando condenou a politização das Forças Armadas, ele (Bolsonaro) não fala em nome delas. O presidente tem feito um jogo perigoso ao se dirigir a escalões inferiores da hierarquia militar e às polícias militares. Essa violação da hierarquia é veneno para as corporações militares.

Bolsonaro tenta usar as Forças Armadas como "espantalho" contra um eventual impeachment?

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Se for o caso, acho que será mais um erro político, um tiro que poderá sair pela culatra por estar comprometendo as Forças Armadas com seu projeto político pessoal. Esse envolvimento não interessa às Forças Armadas, que vêm tentando fugir à acusação de que estamos diante de um governo militar e não apenas de um governo com militares.

O que explica que Bolsonaro sempre volte à temática da ditadura, já que ela é passado distante e ele, que ainda não era militar profissional no período mais duro do autoritarismo, deve à democracia a eleição à Presidência?

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O cadete Bolsonaro, número 531, cujo apelido era Cavalão, frequentou a Aman de 1974 a 1977, em plena ditadura. Teve como instrutores oficiais que lutaram contra a guerrilha do Araguaia montada por militantes do PCdoB, chamados por Bolsonaro em 2009 de "cambada comunista". Está no livro de Luiz Maklouf Carvalho sobre ele, página 34. A paranoia anticomunista dele nasceu ali e, no caso dele, como no de muitos outros militares, continua viva, agora talvez mais como jogada política.

Declarações desse tipo seriam uma tática, lançando uma polêmica quando ele está em desvantagem na opinião pública, como agora, com a tragédia de Manaus e a ameaça de impeachment?

É certamente tática de despistamento. A obsessão dele, como era a de Trump, é a reeleição. Ele vai inventar tudo que possa compensar as perdas.

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Diante dessas declarações, podemos esperar uma nova fase de radicalização por parte do presidente?

Ele fracassou redondamente na guerra da vacina e procura voltar à tona. Mas não se dará bem se quiser envolver as corporações militares desafiando sua hierarquia.

Poderemos voltar a 2020, com manifestações apoiadas por Bolsonaro pedindo fechamento do Congresso e do STF?

Se tentar, terá o destino de seu líder norte-americano, sobretudo se os outros dois poderes da República se comportarem com maior responsabilidade. As pessoas estão cansadas da luta contra a pandemia, em que ele lutou do lado errado.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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