O Ministério Público Federal abriu inquérito civil para apurar se a empresa Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais S.A. (Usiminas) colaborou com órgãos de repressão na ditadura militar. A investigação se dá na esteira de apontamentos da Comissão da Verdade em Minas, que identificou violações contra trabalhadores da Usiminas no Massacre de Ipatinga, no dia 7 de outubro de 1963, cinco meses antes do golpe de 31 de março. A Procuradoria quer saber se a empresa colaborou com a ação que deixou oito mortos e 92 feridos. Na ocasião, militares dispararam contra trabalhadores da siderúrgica que protestavam na porta da Usiminas, em Ipatinga, localizada na região do Vale do Aço. Segundo a Comissão da Verdade em Minas, 'trata-se do conflito operário mais sangrento e com maior número de vítimas no Brasil'. Este é o quarto inquérito aberto pelo Ministério Público Federal em Belo Horizonte para investigar a colaboração de grandes empresas sediadas em Minas com a ditadura militar. A Comissão Nacional da Verdade ressaltou o envolvimento do empresariado com o regime militar para reprimir a organização dos trabalhadores. A Comissão identificou estratégias como a infiltração de agentes da repressão entre operários e atuação das Assessorias de Segurança e Informação nos departamentos de recursos humanos das empresas, com a elaboração de 'listas negras' a órgãos como o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). As outras apurações em curso na Procuradoria miram a Fiat Automóveis S.A e as Siderúrgicas Belgo Mineira e Mannesmann. Segundo a CNV, tais empresas teriam colaborado com o sistema de repressão do governo militar em troca de informações sobre o movimento sindical. No bojo desses inquéritos, a Procuradoria lança mão de uma série de estratégias como a requisição de documentos, a oitiva de testemunhas e vítimas e trabalhos de pesquisa histórica - desenvolvida por estudiosos, coordenados pela Universidade de São Paulo e financiados por recursos de um Termo de Ajustamento de Conduta firmado pelo MPF. De acordo com a Procuradoria, as pesquisas sobre as siderúrgicas Belgo Mineira e a Mannesmann tiveram início em janeiro e devem terminar em dezembro. O estudo sobre a Fiat foi iniciado em 2022 e aguarda complementação, que deve ser finalizada até o final do ano.
"A Usiminas informa que não foi oficialmente notificada da ação do MPF. A companhia respeita o trabalho de preservação da memória do país e ressalta que o triste episódio de 7 de outubro de 1963 ocorreu em momento histórico diverso, quando a Usiminas ainda estava sob gestão estatal. É importante lembrar, ainda, que os relatos e documentos coletados indicam que os fatos ocorreram fora das dependências da empresa, com forças de segurança pública. A empresa não teve envolvimento no lamentável conflito".
COM A PALAVRA, A FIAT, A BELGO MINEIRA E A MANNESMANNAté a publicação deste texto, a reportagem do
buscou contato com as empresas citadas pela Comissão da Verdade e pelo Ministério Público Federal em Minas, mas sem sucesso. O espaço está aberto para manifestação.
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