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Mochila e objetos pessoais encontrados no Vale do Javari são de Dom e Bruno, diz PF

Um sentimento de consternação tomou conta de indígenas do Vale do Javari, na Amazônia, no fim da tarde de ontem, com a localização pelo Corpo de Bombeiros de uma mochila e outros objetos pessoais que, segundo a Polícia Federal, pertencem ao indigenista Br

Vinícius Valfré, enviado especial (via Agência Estado)

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Escrito por Vinícius Valfré, enviado especial (via Agência Estado)
Publicado em 13.06.2022, 13:35:00 Editado em 13.06.2022, 13:37:41
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Um sentimento de consternação tomou conta de indígenas do Vale do Javari, na Amazônia, no fim da tarde de ontem, com a localização pelo Corpo de Bombeiros de uma mochila e outros objetos pessoais que, segundo a Polícia Federal, pertencem ao indigenista Bruno Pereira e ao jornalista Dom Phillips, desaparecidos há uma semana.

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Os materiais foram encontrados em uma área alagada, de difícil acesso, no Rio Itaquaí. O local é próximo à região em que eles faziam o caminho de volta de uma incursão à comunidade ribeirinha de São Rafael para Atalaia do Norte. Foi nessa comunidade que os dois foram vistos pela última vez no último dia 5.

Em nota divulgada na noite de domingo, a Polícia Federal informou que na mochila havia um cartão de saúde, uma calça, um chinelo e um par de botas pertencentes a Bruno. Também tinha um par de botas e uma mochila com roupas de Dom Phillips. Bombeiros informaram à reportagem que a mochila de marca Equinox continha ainda um notebook e diversos livros. "No esforço de busca foram percorridos cerca de 25 km, com procuras minuciosas pela selva, em trilhas existentes na região, áreas de igapós e furos do Rio Itaquaí", destacou a PF no comunicado.

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A polícia ainda informou que localizou uma embarcação "aparentemente" de propriedade de Amarildo da Costa Oliveira, o Pelado, que se encontra com prisão temporária. Ele é investigado pelo desaparecimento de Bruno e Dom e teria perseguido o barco dos dois.

A princípio, a mochila foi mostrada por militares a indígenas que acompanhavam os trabalhos de busca e que conheciam ambos. Eles afirmaram que os materiais eram semelhantes aos que costumavam ser usados pelo indigenista e pelo jornalista em expedições. Os achados foram levados em um helicóptero do Exército para que fossem periciados. A princípio, segundo delegados federais, a investigação seria feita em Manaus.

Desde sábado as equipes de busca trabalhavam a partir de uma observação feita por indígenas sobre as condições de um trecho da mata em uma margem do Itaquaí. A vegetação indicava a passagem de uma embarcação por ali, numa manobra pouco usual.

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Varredura

Eles usaram equipamentos que fazem varreduras no fundo do rio em busca de objetos e até de possíveis destroços do barco em que estavam Bruno e Dom. Uma parte da mochila estava para fora da água. "As nossas mesmas suspeitas continuam. Acreditamos que eles podem estar feridos em algum lugar, ainda vivos", disse Beto Marubo, principal líder indígena do Vale do Javari.

A falta de coordenação nas buscas tem sido criticada por entidades e indígenas. O comando da operação está em Manaus. Até então, vinha sendo comum que homens do Exército, da Marinha e de outras agências federais fizessem incursões paralelas.

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Neste domingo, os trabalhos foram retomados. Segundo o chefe das operações da Marinha em Atalaia do Norte, Ricardo Sampaio, a área vasculhada tem cerca de 100 km². Pela primeira vez, as ações militares foram realizadas em conjunto com os indígenas.

O objeto foi encontrado por mergulhadores do Corpo de Bombeiros do Amazonas. Eles só conseguiram acessar a área quando recorreram a um barco capaz de navegar em áreas muito rasas. "Tivemos a grata satisfação de ter êxito e encontrar uma mochila. Nessa mochila, tinha notebook, todos os pertences, meias, camisas, bermudas", disse um porta-voz do Corpo de Bombeiros, em Atalaia do Norte. Além da mochila, as equipes de busca encontraram uma lona semelhante à que estava na embarcação usada pelos desaparecidos.

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Os materiais foram encontrados por volta das 16 horas, horário local (18 horas em Brasília). A movimentação no porto de Atalaia do Norte atraiu moradores curiosos. Eles acompanham com apreensão as buscas e as consequências do caso. A rotina da cidade que tem um dos acessos ao Vale do Javari, onde está a maior concentração de povos isolados do mundo, mudou desde o desaparecimento de Bruno e Dom. Há uma mobilização militar e dezenas de jornalistas nacionais e estrangeiros.

Ameaças

Os dois sumiram durante uma viagem de barco entre a comunidade ribeirinha de São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte. Como mostrou o Estadão, Pereira foi mencionado em um bilhete apócrifo com ameaças, escrito por pescadores ilegais que atuavam na área e dirigido à entidade para a qual o indigenista trabalhava.

Bruno estava na região ensinando matises, kanamaris, mayorunas, kulinas e marubos a vigiar a floresta e capturar imagens que comprovariam crimes na área. Razão pela qual estava ameaçado de morte. Ao desaparecer, levava à Polícia Federal um novo conjunto de diários, fotos, vídeos e informações georreferenciadas feitos pela equipe. O jornalista inglês, colaborador do The Guardian, que o acompanhava, percorre a Amazônia para a produção de um livro.

Há muito mais riqueza que peixes, ouro e madeira nos rios e florestas do Vale do Javari, região que concentra o maior número de comunidades isoladas do mundo. Com recentes descobertas de áreas de nióbio, potássio, manganês e óxido de tântalo em outras regiões da Amazônia, o território indígena no extremo oeste do País voltou a atrair a cobiça internacional. Possíveis campos de extração de gás e óleo na reserva de 85 mil quilômetros quadrados foram mapeados ainda nos anos 1980, quando a Petrobras realizou pesquisas de campo.

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