Mensagens recuperadas pela Polícia Federal indicam que aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro continuaram mobilizados até janeiro de 2023, mesmo após a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para conseguir a adesão do Exército ao plano de golpe. Segundo a PF, diálogos de militares recuperados na Operação Contragolpe mostram que o então braço direito de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, às vésperas dos atos do 8 de Janeiro, "tinha ciência de que algo ainda estava por acontecer, que no seu entendimento seria bom para o Brasil".
Uma conversa do tenente-coronel do Exército Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros chamou a atenção dos investigadores. Um interlocutor de Cavaliere disse que, em reunião entre Bolsonaro, o general Hamilton Mourão (ex-vice-presidente) e outros generais, os militares "rasgaram o documento que Bolsonaro tinha assinado", "possivelmente se referindo ao decreto de golpe de Estado.
No diálogo, Cavaliere mandou para Cid quatro prints de uma conversa com 'Riva', não identificado pela PF. Nesta conversa, Riva encaminha o que seriam informações da reunião do então presidente Bolsonaro com o seu vice, general Mourão e outros generais.
Ele diz que Mourão negociou com outros generais a saída do Jair Bolsonaro, chamado de "01", fazendo referência a tentativa de golpe de Estado no Peru. Em seguida, diz que, os militares rasgaram o documento que Bolsonaro tinha assinado. Diz: "Rasgaram o documento que o 01 assinou", "possivelmente se referindo ao Decreto de Golpe de Estado", segundo a PF.
Após a revelação, Cavaliere e Cid passaram a atacar os integrantes do Alto Comando do Exército, que não embarcaram no golpe para manter Bolsonaro no Palácio do Planalto.
Para a PF, as mensagens ratificam que o então presidente tinha elaborado o decreto de golpe. Além disso, avalia a PF, os diálogos confirmam a adesão do almirante Almir Garnier, então comandante da Marinha, ao intento golpista.
Quem é Cavaliere na trama golpista?
O interlocutor de Cid, Cavilieri, teve, segundo a Polícia Federal, "atuação concreta nos atos golpistas desencadeados" pela organização criminosa indiciada no inquérito do golpe. Segundo os investigadores, ele foi um dos responsáveis por propagar e coletar assinaturas de militares para a "Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileiro" com teor antidemocrático.
"As evidências demonstram o dolo de propagação do conteúdo com o objetivo de pressionar o Alto Comando do Exército e incitar os militares a aderirem ao Golpe. Disse: "Logicamente que, 'acidentalmente', irá vazar". A intenção da organização criminosa em "vazar acidentalmente" o documento foi executada pelo influenciador com forte penetração no meio militar".
Na visão da PF, os diálogos identificados ao longo do inquérito são irrefutáveis de que o Cavaliere "agiu com dolo, consciência e livre vontade na execução de atos com intento golpista". Suas mensagens revelaram ainda que a carta golpista assinada por oficiais do Exército era de conhecimento e anuência de Bolsonaro, sendo uma estratégia para incitar os militares e pressionar o Alto Comando do Exército a aderir ao plano de golpe de Estado.
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