Em busca do apoio dos parlamentares evangélicos, o governo Lula está assumindo o compromisso de evitar pautas polêmicas - aborto, drogas e costumes. A sinalização tem sido dada aos líderes dos grupos religiosos, como o coordenador da bancada evangélica no Senado, Carlos Viana (PSD-MG), que, segundo disse ao Estadão, considera o gesto um sinal de pacificação e respeito. "Desde que nossas pautas não sejam afetadas, o governo terá o nosso apoio em todas as matérias que forem importantes para o Brasil", afirmou Viana.
Nesse clima de entendimento com o Planalto, Viana comentou a suposta indicação do ex-deputado Jean Wyllys, que ele considera um personagem muito polêmico, para uma função na Secretaria de Comunicação (Secom). Segundo Viana, se Wyllys não tiver nenhuma influência nas decisões do governo, naturalmente que essa será apenas uma questão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do PT.
No entanto, se Wyllys insistir em assuntos que não contam com o apoio dos parlamentares evangélicos, haverá reação. "Se ele trouxer novamente os assuntos que durante o governo de Dilma Rousseff levaram a um embate e até mesmo a um levante na política brasileira, naturalmente vamos nos manifestar contrários por que entendemos que ele não tem respeito pelos cristãos em nosso Brasil".
Desde a posse de Lula, integrantes da gestão petista e lideranças evangélicas refratárias a ainda manter a imagem colada na do ex-presidente Jair Bolsonaro têm buscado caminhos que resultem num diálogo e numa aproximação. Dessa forma começaram a ser promovidas reuniões e encontros, além de um trabalho de identificação de quem seriam os interlocutores de ambos os lados.
Segundo explicou um desses interlocutores, essas pessoas que fariam a ponte entre os evangélicos e governo seriam aquelas que "comungam das mesmas ideias". Para abrir diálogo com o segmento religioso, de acordo com essa visão, é necessário "saber ouvir e conhecer suas reais demandas".
Pelo lado do governo, esse diálogo tem sido liderado, entre outros, pelos ministros da Advocacia Geral da União (AGU), Jorge Messias; das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e da Secom, Paulo Pimenta que, apresentou aos demais ministros - Messias não conseguiu estar presente - uma pesquisa sobre a influência das igrejas evangélicas no voto dos fiéis.
Segundo esse grupo, existe uma preocupação do governo e de Lula com esse diálogo. O presidente considera que, passado o período eleitoral em que o apoio à candidatura de Bolsonaro foi mais intenso e superadas as marcas que ficaram, estava mais do que na hora de conversar.
O governo quer também identificar os parlamentares e as igrejas abertas a esse diálogo. No PL, por exemplo, a receptividade a essa abertura é pequena. O atual coordenador da bancada evangélica na Câmara, Eli Borges (PL-TO) não quer nem ouvir falar no assunto. Entretanto, seu sucessor já escolhido, Silas Câmara (PSD-AM), pastor evangélico da Assembleia de Deus, já se mostrou disposto a acolher as conversas com o governo.
O deputado André Janones (Avante-MG) evangélico e membro da Igreja Batista da Lagoinha, do pastor André Valadão - fundamentalista e crítico ferrenho dos grupos LGBTQI+ - também rejeitou o diálogo nesses termos. Janones, que cuidou das redes sociais durante a campanha de Lula - disse que o presidente sempre foi contra instrumentalizar a fé. "Ele (Lula) é chefe de Estado, não líder religioso", afirmou.
O deputado Cezinha de Madureira (PSD-SP), também pastor da Assembleia de Deus, avaliou que o diálogo tem avançado por que o governo identificou que o Congresso é conservador e "inteligentemente" focou nas bancadas evangélicas. "Não sendo a pauta ideológica, nós estamos abertos para atender e sabemos que temos a responsabilidade de construir e dialogar", disse Madureira.
Questionado se a posição de parlamentares como Borges, contra o diálogo, não poderia atrapalhar, ele respondeu que "estar contra não descredencia ninguém". "O deputado Eli Borges é um grande líder da minha Igreja e sua opinião deve ser respeitada", observou.
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