O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez forte defesa da governança de esquerda, mesmo que com "equívocos", em relação a uma gestão sob comando da direita. Em uma espécie de autocrítica ao movimento, o presidente afirmou que a esquerda precisa rever seu discurso e reconheceu uma maior facilidade da direita na comunicação.
Durante fala na abertura do 26º Encontro do Foro de São Paulo, em Brasília, nesta quinta-feira, 29, Lula pontuou que a esquerda não é vista pela extrema-direita fascista como organização democrática, e sim que é tratada como terrorista, mas destacou que não se ofende ao ser classificado como comunista. "Nós não ficamos ofendidos. Nós ficaríamos ofendidos se nos chamassem de nazista, de neofascista, de terrorista, mas de comunista, socialista, nunca", disse.
No discurso, o chefe do Executivo brasileiro destacou ser preciso defender a democracia que, em sua visão, é feita de concessões, assim como um casamento. Contudo, ao apontar as derrotas da esquerda nas eleições da América Latina nos últimos anos, Lula destacou ser preciso reconhecer o que "fizemos de errado". "Não podemos ficar a vida inteira criticando os outros", pontuou.
"É muito melhor ter um companheiro da gente (esquerda) cometendo alguns equívocos para a gente criticar do que ter alguém da direta governando que não permite sequer que a gente tenha espaço para fazer crítica", declarou.
Em uma autocrítica à esquerda, Lula disse que as críticas devem ser feitas de forma discreta; já os elogios, publicamente. "Muitas vezes a direita tem maior facilidade que nós com o discurso fascista. Aqui no Brasil, enfrentamos o discurso do costume, da família, do patriotismo, ou seja, nós enfrentamos o discurso que aprendemos historicamente a combater", destacou, sem citar nominalmente o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Diante disso, o presidente criticou a falta de representatividade nos membros permanentes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). "(A ONU) Não pode continuar com a mesma dimensão que teve em 1945, é preciso aumentar os membros da ONU com África, América Latina e países asiáticos, mudar os membros permanentes do Conselho de Segurança", pontuando que os países que compõem o grupo "fazem guerra e produzem armas".
Na fala, Lula ainda citou que a América Latina viveu seu melhor momento entre 2002 a 2012, podendo ser estendido até o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Ao retomar a criação do Foro, o presidente disse que ele nasceu de um desejo para que a esquerda "voltasse a conversar entre si e disputar espaços democráticos existentes".
"O Foro de São Paulo foi a primeira experiência latino-americana em que a esquerda resolveu se juntar sem precisar tirar suas diferenças nem tampouco acabar com as divergências, mas resolver discutir, do ponto de vista da organização democrática, disputar os espaços políticos", declarou. Ele pontuou que o ex-presidente da Venezuela Hugo Chávez tentou fazer parte da organização, mas não foi autorizado pois "ele tinha tentado dar um golpe".
O Foro de São Paulo é uma organização de partidos e entidades de esquerda de países da América Latina e do Caribe fundada pelo presidente Lula e pelo ex-presidente de Cuba Fidel Castro, em 1990. Segundo o documento de criação, a organização busca reunir organizações de esquerda para "tratar da defesa da democracia, da integração e soberania dos países latino-americanos e do combate ao imperialismo e ao neoliberalismo".
O encontro de hoje reúne 150 delegações de partidos da América Latina e Caribe, além de convidados da Europa, Estados Unidos, China e África. Com a presença de Lula, da presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PT), e de outros partidos e movimentos de esquerda, o Foro de São Paulo retomou suas reuniões presenciais anuais hoje, depois de três anos sem encontros por conta da pandemia do coronavírus.
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