O laudo falso divulgado pelo candidato Pablo Marçal (PRTB) contra o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) nesta sexta-feira, 4, tem potencial para gerar efeitos negativos no desempenho eleitoral do ex-coach, especialmente em um cenário de empate técnico apontado pelos principais institutos de pesquisa. Especialistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast avaliam que, se por um lado a estratégia criou um fato novo às vésperas da eleição, captando a atenção do eleitorado paulistano e ofuscando Ricardo Nunes (MDB) nesta reta final da corrida pela Prefeitura de São Paulo, por outro, a estratégia aumenta o risco de afastar eleitores indecisos e moderados, o que pode tirar Marçal do segundo turno.
Nesta sexta-feira, 4, Marçal publicou nas redes sociais um laudo falso que aponta o suposto uso de cocaína por Boulos. O documento afirma que, em 19 de janeiro de 2021, Boulos teria dado entrada em uma clínica com um quadro de surto psicótico grave. Segundo o receituário, um exame toxicológico apresentado por um acompanhante de Boulos indicaria resultado positivo para uso de cocaína. O Instituto de Criminalística da Polícia Civil concluiu, neste sábado, 5, que o laudo é falso.
Na avaliação do cientista político Antonio Lavareda, a divulgação do documento falso foi planejada com dois objetivos: frear o crescimento de Boulos na véspera da eleição, impulsionado pela presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em uma agenda de campanha ao lado do candidato do PSOL na Avenida Paulista, neste sábado, e ofuscar a declaração do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em uma live na noite de sexta-feira, na qual ele reforçou seu apoio ao atual prefeito. Ambos os candidatos disputam o mesmo segmento de eleitores conservadores e bolsonaristas.
Para Lavareda, a rápida reação da Justiça Eleitoral, com a determinação de retirada da postagem que divulgava o laudo falso e, posteriormente, a suspensão da conta de Marçal no Instagram neste sábado, ajuda a mitigar os impactos negativos na candidatura de Boulos e pode gerar um efeito Backfire na campanha do ex-coach - quando uma estratégia acaba tendo o resultado oposto ao esperado, prejudicando quem a utilizou.
Da mesma forma, o cientista político e diretor do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) Analítica, Vinicius Alves, avalia que, embora a tática de Marçal cumpra seu objetivo ao isolar Nunes e desviar o debate de questões que o prejudicam, como o voto útil, o movimento pode afastar eleitores que interpretam a estratégia como um ato de desespero.
"Até aqui pensava-se que a discussão seria focada em voto útil e rejeição nessa reta final de chegada ao primeiro turno, o que deixaria Marçal em uma situação de desvantagem em relação a Nunes, que é menos rejeitado", avalia.
A divulgação do receituário falso também coloca em risco a tentativa de Marçal de adotar um tom mais moderado na campanha, assim como a recuperação de seu desempenho eleitoral nas últimas pesquisas de intenção de voto, conforme explica Yuri Sanches, diretor de política do Instituto AtlasIntel.
"Me parece que é uma estratégia bastante arriscada, porque no debate da Globo ele se comportou de uma forma bastante moderada, além de estar se recuperando nas pesquisas. Isso poderia ter um impacto negativo contra ele, das pessoas olharem realmente e não enxergá-lo como uma alternativa viável, como alguém que está mais querendo causar do que efetivamente preocupado em gerir a cidade de São Paulo. Talvez até tira-lo do segundo turno", ressalta.
O estrategista de comunicação Marc Tawil, por sua vez, afirma que o episódio coloca a credibilidade de Marçal em xeque junto a três públicos essenciais para sua ida ao segundo turno: eleitores indecisos, bolsonaristas fiéis e evangélicos. Em sua avaliação, o episódio ainda tem o potencial de afastar nomes relevantes no cenário político brasileiro.
"Embora possa se beneficiar de uma atenção imediata graças à repercussão do caso na mídia e nas redes sociais, o impacto negativo de um eventual crime deve tirar dele apoios políticos importantes", completa.
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