A superintendência da Polícia Federal (PF) no Paraná deve investigar as últimas acusações do advogado Rodrigo Tacla Duran, ex-operador financeiro da Odebrecht, contra a Operação Lava Jato. Ele voltou a afirmar que procuradores da força-tarefa da Curitiba cobravam propinas nas negociações dos acordos de delação premiada e implicou novos nomes no suposto esquema.
O juiz Eduardo Fernando Appio, da 13.ª Vara Federal Criminal de Curitiba, encaminhou as denúncias para a PF tomar providências que considerar necessárias. O despacho cita a 'imensa gravidade dos fatos supostamente criminosos noticiados'.
As declarações foram feitas em uma audiência virtual na terça-feira, 9. Ele foi ouvido como testemunha. Tacla Duran afirmou que a força-tarefa de Curitiba cobrava uma 'taxa de proteção' e forçava delações.
"Essa era a regra do jogo naquele momento em Curitiba: tem que delatar quem e o que era exigido, se não quem estava preso não tinha liberdade e quem não estava preso era intimidado e coagido intensamente para fazer o acordo", declarou. "Alguns (executivos da Odebrecht) não tinham o que delatar e eram forçados para não ser presos."
A prática, segundo ele, teria começado ainda na investigação do Caso Banestado. O então procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima, hoje aposentado, foi acusado de receber uma 'mesada' de doleiros para blindá-los de investigações. Os pagamentos teriam sido feitos pelos doleiros Vinicius Claret, o Juca Bala, e Dario Messer, o 'doleiro dos doleiros'.
"Essa proteção era praticada mediante a cobrança de uma taxa para que o doutor Carlos Fernando se comprometesse à não persecução penal dos doleiros que participavam da mesada", narrou.
Procurado pela reportagem do Estadão, o procurador aposentado negou as acusações e chamou Tacla Duran de 'criminoso foragido'. "O que disse é mentira, como tudo que ele tem dito, sem qualquer prova e mudando as histórias e nomes, nos últimos cinco anos", disse.
O ex-operador da Odebrecht afirma que o doleiro chinês naturalizado brasileiro Wu Yu-Sheng teria repassado U$S 500 mil para não ser processado em Curitiba.
Os repasses seriam intermediados por escritórios de advocacia, de acordo com a versão de Tacla Duran. Ele citou nominalmente os advogados Antônio Augusto Lopes Figueiredo Bastos, um dos pioneiros nos acordos de delação premiada no País, Luiz Gustavo Rodrigues Flores e Marlus Arns de Oliveira. Os dois primeiros foram denunciados pela Lava Jato em 2020, acusados de cobrarem dinheiro de doleiros com a promessa de pagar propinas a autoridades para barrar investigações.
As acusações anteriores de Tacla Duran, que implicam o senador Sérgio Moro (União-PR), ex-juiz da Lava Jato, e o deputado Deltan Dallagnol (Podemos-PR), ex-coordenador da força-tarefa de Curitiba, estão no Supremo Tribunal Federal (STF). Antes de se aposentar, no mês passado, o ministro Ricardo Lewandowski abriu prazo para a Procuradoria-Geral da República (PGR) dizer se vê elementos para investigá-los.
Tacla Duran teve a prisão decretada no auge da Lava Jato e chegou a ser colocado na lista de foragidos da Interpol. Ele foi acusado pela força-tarefa do Ministério Público Federal de usar empresas no Brasil e no exterior para lavar propinas supostamente pagas por empreiteiras a agentes públicos em troca de contratos com a Petrobras.
COM A PALAVRA, O PROCURADOR APOSENTADO CARLOS FERNANDO DOS SANTOS LIMA
"Não presto atenção às palavras de um criminoso foragido. O que disse é mentira, como tudo que ele tem dito, sem qualquer prova e mudando as histórias e nomes, nos últimos cinco anos."
COM A PALAVRA, OS DEMAIS CITADOS
Até a publicação deste texto, a reportagem buscou contato com os citados, mas sem sucesso. O espaço está aberto para manifestação.
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