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Delegado suspeito de atrapalhar Justiça declarou que 'se apaixonou' pelo trabalho de Marielle

O delegado Giniton Lages, primeiro a ser designado para investigar o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes na Delegacia de Homicídios da Capital, foi alvo de busca e apreensão realizada pela Polícia Federal (PF) neste domi

Pedro Augusto Figueiredo (via Agência Estado)

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Escrito por Pedro Augusto Figueiredo (via Agência Estado)
Publicado em 24.03.2024, 17:16:00 Editado em 24.03.2024, 17:23:45
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O delegado Giniton Lages, primeiro a ser designado para investigar o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes na Delegacia de Homicídios da Capital, foi alvo de busca e apreensão realizada pela Polícia Federal (PF) neste domingo, 24, por "atrapalhar" as investigações. Ele também foi afastado da Polícia Civil do Rio de Janeiro por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Giniton Lages lançou, em 2022, o livro "Quem Matou Marielle?", no qual diz que "se apaixonou" pela atuação da vereadora.

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O comissário de polícia Marco Antônio de Barros Pinto também foi afastado das funções públicas. Segundo as investigações, os dois atuaram para "embaraçar" a investigação, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), e terão que usar tornozeleiras eletrônicas. O porte de armas e os passaportes deles foram suspensos.

A PF deflagrou a Operação Murder Inc. que prendeu o deputado Chiquinho Brazão (União Brasil), o conselheiro do Tribunal de Contas do Rio, Domingos Brazão, e o ex-chefe da Polícia Civil, Rivaldo Barbosa. Os irmãos são suspeitos de terem ordenado o assassinato, enquanto Rivaldo Barbosa é suspeito de ter planejado o crime. As defesas dos três negam o envolvimento deles nos crimes.

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Além das prisões, a PF cumpriu 12 mandatos de busca e apreensão, entre eles os que tiveram como alvo Giniton Lages e o comissário Barros Pinto. Horas após o crime em março de 2018, Lages foi nomeado por Rivaldo Barbosa para conduzir a investigação. Segundo a PGR, tanto ele quanto o comissário atuaram posteriormente ao assassinato para "embaraçar as investigações" e proteger os reais mandantes.

Eles teriam criado a rotina de receberem informações anônimas para desviarem as investigações. Uma das tentativas foi incriminar o miliciano Orlando Curicica e o vereador Marcello Siciliano, o que foi descartado posteriormente por uma investigação da Polícia Federal.

"A posição dos dois na cadeia hierárquica da organização criminosa indica que, apesar de não terem participado do ajuste prévio do homicídio, ambos foram fundamentais para o sucesso da empreitada que garantiu a impunidade do crime até os dias atuais, visto que eram os responsáveis diretos pela apuração nas horas de ouro, fundamentais para qualquer investigação de homicídio", disse a PGR em trecho citado na decisão de Moraes.

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"Neste sentido, a dupla foi responsável direta pela orquestração da desídia na captação das imagens de circuito interno de TV do local, especialmente do Centro de Convenções Sulamérica e dos estabelecimentos adjacentes ao Quebra-Mar, ocasião na qual rememoramos a esfarrapada justificativa do defeito de codec lançada por Giniton em plena audiência de instrução e julgamento, o que demonstra seu desvio de caráter e cinismo", continua o parecer.

Delegado escreveu livro sobre o caso

Giniton Lages tocou a primeira parte da investigação, que resultou nas prisões do sargento reformado da Polícia Militar, Ronnie Lessa, e do também ex-policial militar Élcio Queiroz em março de 2019. Giniton foi afastado do caso no mesmo dia das prisões. À época, o então governador do Rio Wilson Witzel disse que convidou o delegado para fazer um intercâmbio na Itália porque o policial estava "esgotado".

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Queiroz disse em delação premiada no ano passado que Lessa foi o responsável por efetuar os disparos que mataram Marielle e Anderson. Ele também confessou que dirigia o carro em que estava o executor do crime. Ronnie Lessa também delatou e apontou o envolvimento dos irmãos Brazão como mandantes do crime. A delação premiada foi homologada no último dia 19 pelo STF.

O delegado Giniton Lages concedeu duas entrevistas aoEstadãonos últimos anos. Na primeira, em 2022, após o lançamento do livro "Quem Matou Marielle?", ele disse que ouviu horas de conversas pessoais da vereadora que gravava as ligações que fazia e recebia em seu celular.

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"Era uma pessoa absolutamente ética, com objetivos, uma excelente filha, uma mãe dedicada, apaixonada pelo seu mister, que acreditava que estava transformando as pessoas. A relação dela com os assessores, ela cuidava de cada um deles, a relação com a filha, com a companheira. Então, realmente, não tinha como não se apaixonar por ela", declarou Giniton na ocasião.

A segunda entrevista foi concedida em julho do ano passado, quando o caso já estava com a Polícia Federal. Na ocasião, Élcio Queiroz havia acabado de fechar o acordo de delação. Questionado sobre o motivo da delação ter ocorrido somente após a entrada da PF no caso e quatro anos depois da prisão, Giniton Lages afirmou que isso poderia ter ocorrido em qualquer momento e que os policiais federais souberam aproveitar uma "janela de oportunidade", ou seja, o enfraquecimento do elo de lealdade entre Queiroz e Lessa.

"É preciso ter fidelidade intelectual com a vida real; isso não é um filme de Hollywood em que a gente aperta um botão e as coisas vão acontecendo. O elo entre os dois era muito robusto e só se quebrou agora, às vésperas do julgamento, e a Polícia Federal, de forma perspicaz, soube perceber a janela de oportunidade. Mas também não podemos deixar de dar a devida relevância a tudo que foi produzido pela operação Lume (que resultou na prisão dos dois indiciados em 2019), feita pela Polícia Civil e pelo MPRJ", disse.

A operação Murder Inc. também teve a participação da Procuradoria-Geral da República e do Ministério Público do Rio de Janeiro, além do apoio da Secretaria de Polícia Civil do Rio e da Secretaria Nacional de Políticas Penais, órgão do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

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