O comandante do Exército, general Tomás Miguel Paiva, telefonou nesta terça-feira, 28, para o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, e disse que suas afirmações sobre a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram tiradas de contexto. Em reunião com oficiais do Comando Militar do Sudeste, no dia 18 de janeiro, Paiva afirmou que "infelizmente" o resultado da eleição havia sido "indesejado" para a maioria ali presente, mas destacou não ter havido fraude na contagem dos votos.
Na ligação para Múcio, o general se mostrou preocupado com a repercussão do episódio, considerado por ele como "fogo amigo". O comandante do Exército insistiu em que o tom de suas declarações foi no sentido de destacar que as Forças Armadas não encontraram qualquer irregularidade no processo eleitoral. Paiva disse a Múcio que em nenhum momento teve intenção de ofender Lula. Ao contrário: afirmou ter feito um discurso legalista, pedindo aos subordinados que aceitassem o resultado da disputa entre Lula e Jair Bolsonaro.
A conversa com os oficiais, em São Paulo, ocorreu três dias antes de Paiva assumir o Comando do Exército no lugar de Júlio César de Arruda. O general foi substituído treze dias depois dos ataques golpistas de 8 de janeiro por se recusar a cumprir a ordem de Lula para revogar a nomeação do tenente-coronel bolsonarista Mauro César Barbosa Cid.
Paiva tem boa interlocução com o Palácio do Planalto e é próximo do vice-presidente Geraldo Alckmin. O governo não pretende dispensá-lo porque seria o mesmo que contratar mais uma crise.
O discurso do comandante do Exército, que agora veio à tona, foi gravado sorrateiramente por um dos presentes à reunião de 18 de janeiro e divulgado pelo podcast Roteirices. Além disso, desde a semana passada circula em grupos de WhatsApp de militares.
Antes, apenas trechos do pronunciamento do general haviam se tornado públicos. Na manifestação que agradou a Lula, Paiva exaltava a democracia, argumentando que "quando a gente vota, tem de respeitar o resultado da urna". As referências ao que classificou como desfecho "indesejado" da disputa não tinham aparecido.
Nos bastidores, auxiliares de Lula disseram ao Estadão que o governo terá trabalho além do esperado para se aproximar das Forças Armadas. Mesmo com problemas, porém, Lula não pretende se submeter ao que petistas chamam de "tutela" dos militares. Procurado, Múcio disse que não comentaria o assunto.
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