A repercussão negativa de declarações do presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre um encontro com adolescentes venezuelanas levou integrantes do comitê de campanha a repensarem estratégias para o debate televisivo da Band, marcado para a noite deste domingo, dia 16. "Passei as piores 24 horas da minha vida", disse o presidente na chegada aos estúdios da Band.
Ao falar sobre o caso a um podcast na última sexta-feira, 14, Bolsonaro disse que, ao avistar as menores bem arrumadas na periferia do Distrito Federal, "pintou um clima". O presidente, então, decidiu visitar a casa onde elas estavam, segundo sua versão, se preparando para "ganhar a vida". A frase foi o estopim para que Bolsonaro fosse associado ao crime pedofilia, por adversários e pela campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O tema mobilizou todas as atenções da campanha de Bolsonaro. Nas redes sociais, Lula pediu sugestões de perguntas, e seguidores responderam com o caso das adolescentes venezuelanas.
O presidente chegou a transmitir uma live na madrugada, com a voz rouca, para se defender. "O PT ultrapassou todos os limites", disse ele. Advogados acionaram a Justiça para evitar a exploração da frase. A campanha mobilizou a primeira-dama Michelle Bolsonaro para reagir e visitar as menores em São Sebastião (DF).
O receio de que o "estado de nervos" do chefe do Executivo possa atrapalhar seu desempenho no debate com Lula foi "colocado na balança" por estrategistas. Mas, integrantes da coordenação de marketing e comunicação disseram que o presidente já estava sendo treinado para o embate direto com Lula nos últimos dias
Neste domingo, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, proibiu a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de explorar a entrevista em que o presidente Jair Bolsonaro (PL) fala sobre um encontro com adolescentes venezuelanas.
A restrição vale tanto para publicações nas redes sociais quanto para propagandas no rádio e na TV. A multa é de R$ 100 mil por cada eventual descumprimento. O presidente do TSE disse que a declaração de Bolsonaro foi tirada de contexto.
O YouTube retirou o vídeo do ar.
Cadeira vazia
O comitê do presidente entende que uma possível ausência do debate poderia ser mais danosa, deixando a "cadeira vazia" e dando espaço privilegiado a Lula para falar, sem colocar em prática seus planos de ataque ao petista.
Um integrante da campanha de reeleição assumiu ao Estadão/Broadcast Político, sistema de notíias em tempo real do Grupo Estado, que há um "enorme temor" com o "estado de nervos do presidente, que já não é de se conter em momentos comuns". Antes do episódio com as venezuelanas já existia um temor interno sobre o "clima" do debate desta noite, o primeiro de confronto direto entre os dois adversários neste segundo turno.
Um ministro do governo chegou a dizer que "tem certeza" que o presidente "vai perder a cabeça", mas minimizou diante do "golpe baixo do PT". "Depois da covardia que o PT fez com ele, ninguém pode esperar outra coisa", declarou, em referência às acusações de pedofilia.
A campanha prepara um repertório de respostas "minuto a minuto" para provocações que possam surgir por parte do adversário. Para cada tema levantado, eles organizam "um (tema) pior contra Lula e PT", disse o ministro.
Entenda o caso
A fala que viralizou nas redes sociais faz parte de uma entrevista de Bolsonaro, concedida a um podcast na última sexta-feira, 14. Ele relatava um passeio de moto em São Sebastião, nas proximidades de Brasília. O presidente disse que, ao encontrar meninas "bonitas" de 14 e 15 anos, "pintou um clima" e, em seguida, pediu para ir à casa delas. Segundo contou, elas estariam se arrumando para "ganhar a vida".
"Eu estava em Brasília, na comunidade de São Sebastião, de moto. Parei a moto numa esquina, tirei o capacete e olhei umas menininhas bonitas, de 14, 15 anos, arrumadinhas, no sábado, numa comunidade, e vi que eram meio parecidas. Pintou um clima, voltei, 'posso entrar na sua casa?', entrei", contou o chefe do Executivo.
Adversários foram ao Twitter acusá-lo de pedofilia. A campanha de Lula repercutiu em inserção na TV a declaração de Bolsonaro. Aliados do petista pediram investigação no Supremo Tribunal Federal e acionaram a Procuradoria-Geral da República. "Você que é mãe, você que é pai, veja só o que Bolsonaro falou sobre meninas de 14 anos", diz o vídeo, que em seguida traz a fala do presidente. "Pintou um clima? Com uma garota de 14 anos? É esse homem que diz defender a família?", emendou a locutora.
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