De volta à política nove anos após o último mandato, o ex-deputado federal Sandro Mabel (União Brasil) venceu o adversário Fred Rodrigues (PL), apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e se elegeu prefeito de Goiânia neste domingo, 27. A vitória na capital é um feito histórico para o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), que apoiou a candidatura de Mabel. Nunca um candidato apoiado pelo Palácio das Esmeraldas havia vencido em Goiânia.
Mabel obteve 55,4%, ante 44,6% de Fred. O triunfo na capital do Estado consolida Caiado como o principal líder da política local, mesmo contra figuras de alcance nacional, como Bolsonaro. A eleição em Goiânia foi marcada pelo racha na direita e ataques abaixo do nível da cintura num segundo turno acirrado entre dois candidatos apadrinhados por políticos extremamente populares na cidade.
Fred Rodrigues surpreendeu ao vencer ao primeiro turno com 31% dos votos contra 27% de Mabel. Antes do dia 6 de outubro, data da primeira disputa, a expectativa no núcleo caiadista é de que poderiam ter uma vitória mais fácil. As principais pesquisas de intenção de voto indicavam que Mabel disputaria o segundo turno contra a deputada federal Adriana Accorsi (PT), que, embora popular e respeitada em Goiânia, sofria forte resistência por causa do partido.
Sem a esperada disputa com a esquerda, Mabel precisou medir ainda mais o impacto das suas ações ao se apresentar como um candidato moderado contra um extremista, sem com isso ser associado ao campo progressista, que desperta rejeição entre os eleitores goianienses. Para contornar essa situação, Caiado centrou esforços na campanha do aliado.
O governador de Goiás apareceu com frequência nas inserções de eleitorais de Mabel e marcou presença em carreatas e outros compromissos de rua. Contudo, o esforço de Caiado para eleger o aliado acabou na mira da Justiça Eleitoral e pode ter repercussão negativa para ambos. A juíza Maria Umbelina Zorzetti considerou que Caiado e Mabel cometeram abuso de poder político ao distribuírem cestas básicas em eventos do governo estadual entre os dias 17 e 20 de outubro.
A distribuição de cestas básicas durante duas edições do evento Goiás Social. "O Programa Social 'Goiás Social', ainda que seja um programa social em andamento pertencente ao Governo do Estado de Goiás, foi utilizado de maneira deliberada para promover o candidato à prefeitura de Goiânia Sandro Mabel, desequilibrando o pleito eleitoral, portanto, vedado pela legislação eleitoral", decidiu em caráter liminar a juíza do Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (TRE-GO).
Caiado e Mabel foram proibidos pela decisão judicial de "realizar atos políticos partidários praticando conduta vedada, em específico a entrega de benefícios eventuais com pedido de voto cumulada com a entrega de material de campanha". Mas, os dois ainda respondem a ações judiciais de investigação eleitoral que podem impor penas mais duras, como a cassação do diploma de Mabel.
A vitória de Caiado com Mabel se converteu em uma derrota expressiva para Bolsonaro, que, dentre diversos aliados concorrendo no segundo turno, inclusive contra o PT, escolheu acompanhar a apuração ao lado de Fred Rodrigues, em Goiânia neste domingo, 27. Mais cedo na capital, o ex-presidente afirmou que "não há racha na direita" e disse respeitar o governador de Goiás. "A direita, em grande parte, são pessoas conscientes que sabem o que está em jogo", afirmou.
A despeito da leitura de Bolsonaro, outros políticos da extrema-direita fizeram ataques frontais a Caiado. O deputado federal Gustavo Gayer (PL) publicou um vídeo neste domingo com ataques ao governador, a quem chamou de "canalha". O parlamentar afirmou que é "impossível apoiar esse governador, que não tem nada de direita".
Sem apresentar provas, ele acusou o chefe do Executivo estadual de ter envolvimento com a operação da Polícia Federal (PF) que o atingiu na última sexta-feira, 27, por suspeita de desvios de recursos de cota parlamentar.
O post recebeu diversos comentários de apoio de políticos e apoiadores da extrema-direita, inclusive da família Bolsonaro. A ex-primeira-dama e presidente do PL Mulher, Michelle Bolsonaro, escreveu em resposta a Gayer que "quem nasceu para ser Caiado, jamais será Bolsonaro". O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) disse, por sua vez, que o posicionamento de Caiado é 'mais do que lamentável...bizarro".
Caiado, por sua vez, afirmou que só iria falar sobre Bolsonaro e os seus correligionários após o fim do segundo turno.
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