A cada dia, alguns dos principais candidatos à Prefeitura de São Paulo provam que não há limites para atos e fatos na disputa deste ano. A cadeirada de José Luiz Datena, postulante do PSDB, em Pablo Marçal, candidato do PRTB, acentuou o clima de vale-tudo na política - inclusive a violência física - durante a campanha da maior metrópole da América Latina. Marçal deixou o hospital na manhã desta segunda-feira, 16, e sua defesa registrou queixa contra Datena por lesão corporal. O candidato do PSDB reiterou que não se arrependia da agressão ao afirmar que "não deixaria de repetir o gesto" e dizer que esperava "ter lavado a alma de milhões de pessoas". Os dois candidatos e os outros mais bem colocados nas pesquisas confirmaram presença e voltam a se enfrentar nesta terça, 17, no debate da RedeTV! em parceria com o UOL.
O Ministério Público Eleitoral abriu uma investigação para apurar as circunstâncias do episódio. A cadeirada de Datena em Marçal foi desferida no fim da noite de anteontem, durante o debate promovido pela TV Cultura. Em razão disso, a RedeTV! tomou uma decisão inédita e resolveu parafusar no chão do estúdio as cadeiras, do tipo banqueta, que serão usadas pelos candidatos. A informação foi repassada ao Estadão por uma integrante da organização e confirmada pela superintendente de Jornalismo da emissora, Stephanie Freitas.
A agressão envolvendo os candidatos em São Paulo ganhou repercussão internacional. Marçal disse que vai pedir a cassação da candidatura de Datena, que garantiu que não vai desistir da disputa. O influenciador falou com a imprensa ao deixar o Hospital Sírio-Libanês - usando uma tipoia e uma tala ortopédica - para fazer exame de corpo de delito no Instituto Médico-Legal (IML). O hospital informou que Marçal teve "traumatismo na região do tórax à direita e em punho direito, sem maiores complicações associadas".
'Guerra'
"Vamos pedir a cassação do registro dele (Datena). Vamos pedir tudo o que precisa ser pedido em nome da sociedade", disse Marçal. "Ontem (domingo, 15) eu fui vítima do Datena, mas eu não sou vitimista. Nós vamos para a guerra. Foi só um esbarrão, não é, Datena?", acrescentou. Depois, afirmou que, no seu entendimento, a cadeirada deveria ser enquadrada juridicamente como "tentativa de homicídio". Na madrugada de ontem, o advogado Tassio Renam registrou boletim de ocorrência no 78.º Distrito Policial como lesão corporal e injúria real.
Advogado do PSDB, Guilherme Ruiz avaliou que o pedido de cassação não avançará. "Na legislação eleitoral não há previsão de cassação por agressão física. Datena continuará sendo candidato. Marçal, por outro lado, poderá ficar inelegível em face da ação por abuso do poder econômico movida pelo partido de Tabata", disse, em referência à candidata do PSB, deputada Tabata Amaral.
Mais cedo, o apresentador divulgou nota em que reconhece que errou, mas diz não se arrepender e que repetiria a cadeirada diante dos ataques que Marçal tem feito contra ele e outros candidatos. Embora tenha cancelado compromissos de campanha ontem, entre eles a sabatina do Estadão, Datena reafirmou que sua candidatura está mantida.
'Jack'
O desentendimento dois ocorreu quando Marçal chamou Datena de "jack", gíria utilizada na prisão para se referir a estupradores, e mencionou uma acusação de assédio sexual de uma repórter contra o apresentador, que respondeu que a denúncia havia sido arquivada por falta de provas.
Na nota divulgada ontem, Datena declarou que preferia que o episódio não tivesse ocorrido, mas, diante das mesmas circunstâncias, "não deixaria de repetir o gesto" - que chamou de "resposta extrema a um histórico de agressões" de Marçal aos adversários. "Espero, também, ter lavado a alma de milhões de pessoas que não aguentavam mais ver a cidade tratada com tanto desprezo e desamor por alguém que se propõe a governá-la, mas que quer mesmo é saqueá-la, de braços dados com o crime organizado", completou.
Saldo
Na avaliação das campanhas, Marçal exagerou na exploração do caso e deve colher um saldo negativo. Assessores que atuam na linha de frente das candidaturas do próprio Datena, de Ricardo Nunes (MDB), de Guilherme Boulos (PSOL) e de Tabata Amaral acreditam que o influenciador "passou da dose" ao comparar a agressão aos atentados contra Jair Bolsonaro (PL) e Donald Trump. Bolsonaro foi esfaqueado durante a campanha presidencial de 2018, enquanto Trump foi alvo de atentado a tiros em comício na Pensilvânia este ano.
Análises iniciais indicam que a comparação com Trump e Bolsonaro, aliada ao que consideram uma tentativa de vitimização, foi malvista nas redes sociais. Além disso, há entendimento de que Marçal exagerou na superprodução de conteúdos sobre o caso, atribuindo uma gravidade maior do que a realidade. Um exemplo citado pelas campanhas é o vídeo em que ele aparece dentro de uma ambulância usando uma máquina de oxigênio.
Como mostrou a Coluna do Estadão, Marçal publicou 20 vídeos sobre o episódio nas 12 horas consecutivas. A série de publicações gerou 94 milhões de visualizações no Instagram, rede em que ele tem 4,9 milhões de seguidores. O primeiro vídeo tinha 18 milhões de exibições às 12h de ontem. Estrategistas das campanhas, porém, acreditam que é cedo para definir o impacto do episódio nas pesquisas. Além disso, os desdobramentos, incluindo o debate de hoje, podem influenciar o cenário.
Para o debate da RedeTV!/UOL, a equipe de Marçal fez dois pedidos que não foram atendidos pela organização. O primeiro, que Datena não estivesse presente. Contudo, o convite ao tucano é obrigatório em razão da representação mínima do partido no Congresso. Marçal queria ainda que seus seguranças pudessem ficar mais perto do palco para qualquer eventualidade.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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