O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) desmentiu, nesta quinta-feira, 17, as declarações do hacker Walter Delgatti Neto feitas na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro. Em uma entrevista à Jovem Pan, o ex-presidente afirmou que Delgatti estava "fantasiando" no depoimento para o colegiado e negou que teria conversado com o hacker sobre um grampo ao telefone do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes.
O ex-presidente confirmou que recebeu o hacker no Palácio da Alvorada em uma oportunidade. À CPMI, Delgatti disse que a reunião seria para organizar uma tentativa de mostrar que a urna eletrônica era passível de fraudes. Para a rádio, Bolsonaro disse que pediu para que ele falasse com os membros do Ministério da Defesa que integraram a comissão eleitoral do TSE antes das eleições presidenciais de outubro.
"Ele está inspirado hoje. Teve a reunião e eu mandei ele para o Ministério da Defesa para conversar com os técnicos. Ele esteve lá (no Palácio da Alvorada e no Ministério da Defesa) e morreu o assunto. Ele está voando completamente. Tem fantasia aí. Eu só encontrei com ele uma vez no café da manhã (no Alvorada), e não falei com ele no telefone em momento algum. Como ele pode ter certeza de um grampo? Nós desconhecemos isso", disse o ex-presidente à Jovem Pan.
Pela manhã, a maior parte do tempo da sessão da CPMI foi composta por perguntas feitas por parlamentares alinhados ao governo. Após o intervalo, à tarde, os políticos da oposição fizeram questionamentos ao hacker. Segundo o ex-presidente, Delgatti ficou em silêncio ao ser confrontado pelos seus aliados, e teria "se exaltado" anteriormente por estar "entre amigos".
"Silêncio do Delgatti agora à tarde foi o que mais chamou atenção. Várias contradições e em cima do que ele mesmo falou de manhã e não respondeu importantes questionamentos dos parlamentares. Se exaltou de manhã porque estava entre amigos", afirmou o ex-chefe do Executivo.
Hacker disse que Bolsonaro queria invasão de urnas e garantiu indulto
Na sessão da CPMI, o hacker disse que Bolsonaro ofereceu a ele um indulto para que violasse medidas cautelares da Justiça e invadisse o sistema das urnas eletrônicas para expor supostas vulnerabilidades. De acordo com Delgatti, a conversa com o ex-presidente aconteceu no Alvorada e teve a intermediação da deputada Carla Zambelli (PL-SP), do ex-ajudante de ordens Mauro Cid e do coronel Marcelo Câmara, ex-assessor especial da Presidência.
Ele não apresentou provas das acusações contra o ex-presidente, mas deu detalhes e listou supostas testemunhas. O hacker se colocou à disposição das autoridades para realizar acareações e comprovar o depoimento.
"Sim, recebi (proposta de benefício). Inclusive, a ideia ali era eu receber um indulto do presidente. Ele havia concedido indulto ao deputado (Daniel Silveira) e, como eu estava investigado pela (Operação) Spoofing, impedido de acessar a internet e trabalhar, eu estava visando esse indulto, que foi oferecido no dia", disse Delgatti à relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA).
"Fique tranquilo, se algum juiz te prender, eu mando prender o juiz", teria dito o ex-presidente, segundo a versão apresentada por Delgatti. O hacker ainda disse que o ex-presidente riu ao fazer a afirmação.
Em outra ocasião, Zambelli teria mediado uma ligação de Delgatti com Bolsonaro. Nesta conversa, o ex-presidente teria, segundo a versão do depoente, dito que obteve um grampo ilegal de Alexandre de Moraes, mas que o hacker precisaria assumir a autoria do crime. "Nesse grampo teriam conversas comprometedoras do ministro e ele (Bolsonaro) precisava que eu assumisse esse grampo", disse.
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