Os deputados Vinicius Gurgel (PL-AP) e Yury do Paredão (PL-CE) afirmam que têm sido perseguidos por colegas da bancada do PL por não votarem alinhados às posições do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na Câmara. As queixas apareceram primeiro em grupos de WhatsApp do partido e acabaram por abrir uma crise que demandou a intervenção do líder do partido na Casa, Altineu Côrtes (RJ).
A crise veio a público depois que o Estadão obteve reproduções de mensagens trocadas no grupo. Nelas, bolsonaristas radicais atacam deputados que divergem das posições do ex-presidente, em especial em plenário. Em consequência dos desentendimentos, Côrtes restringiu novas publicações, permitidas agora só aos administradores do canal.
A confusão estourou depois que o deputado André Fernandes (PL-CE) resgatou uma foto postada por Yury do Paredão em que este aparece ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante uma visita presidencial ao Ceará, em maio. Como mostrou o Estadão, Yury foi um dos oito deputados punidos pelo PL com a perda da participação em comissões, por terem votado de maneira favorável ao governo na medida provisória que colocou em prática a divisão de ministérios idealizada por Lula. A punição foi aplicada sob a justificativa de que o PL "fechou questão" contra a aprovação da MP dos Ministérios.
Segundo os deputados queixosos, o comportamento dos radicais destoa até daquele adotado pelo também deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente. De acordo com eles, Eduardo poupa os dissidentes de ofensas pessoais, embora turbine os argumentos do pai nas redes.
Reforma
Os parlamentares se dizem perseguidos desde que deram votos favoráveis ao governo na votação do arcabouço fiscal na Câmara, ocorrida em 23 de maio. Na ocasião, 30 deputados do PL votaram a favor do governo. Os ataques teriam aumentado depois que a reforma tributária foi a plenário. Nessa votação, 20 dos 99 votos da bancada do PL foram a favor da reforma.
A liderança do partido orientou voto contra a reforma e Bolsonaro se empenhou pessoalmente em convencer correligionários a se posicionarem contra o texto. Só que, além dos ataques internos, a desobediência a Bolsonaro também causa perseguição nas redes sociais, diz quem diverge da cartilha bolsonarista.
Vinícius Gurgel relatou que sua filha foi assediada por colegas na escola, porque bolsonaristas o chamaram de "traidor" do ex-presidente em montagens nas redes, depois que deu votos a favor do governo Lula. "Perguntaram para minha filha na escola: 'Por que teu pai traiu o Bolsonaro?' Eu não traí ninguém", afirmou Gurgel, que é deputado desde 2011 e rejeita ter qualquer dívida com Bolsonaro por sua reeleição para a Câmara.
'Respeitosos'
Quem não está alinhado com Bolsonaro calcula que, na bancada de 99 deputados do PL - a maior da Câmara -, há cerca de dez bolsonaristas "radicais", porque atacam correligionários, e outros 20 bolsonaristas fiéis, porém "respeitosos" aos colegas.
"Sou 1001% PL e presidente (do partido) Valdemar Costa Neto. Minha pior votação foi agora quando Bolsonaro veio para o partido, mas não tenho nada contra o ex-presidente. Infelizmente, quando não votamos com a pauta bolsonarista, somos agredidos nas redes sociais. Tem que ter respeito mútuo. A gente não fica criticando Bolsonaro ou bolsonaristas", disse Gurgel.
Já Yuri do Paredão declarou que não vai permitir interferência em seus posicionamentos na Casa. "A gente se elegeu com pauta diferente da deles. Mas fazem tudo para ganhar likes", afirmou o deputado ao Estadão. Gurgel disse também que se absteve de votar na MP dos Ministérios, em que seria favorável ao governo, justamente para não ser atacado por bolsonaristas. Ainda assim, foi punido pelo partido - perdeu assento nas comissões de Agricultura, de Integração Nacional e de Saúde.
Reclamação
Filho do senador Carlos Viana (Podemos-MG), o deputado Samuel Viana (PL-MG) fez uma longa argumentação no grupo de WhatsApp do PL, em que criticou colegas bolsonaristas por fazerem oposição a qualquer projeto do PT, "contra tudo a qualquer custo". O parlamentar reclamou especialmente da postura da ala bolsonarista da legenda durante a votação da reforma tributária.
"Vocês foram para o plenário se posicionar enquanto o jogo estava rolando. Ninguém se preocupou em chamar os governadores, associações, se juntar a bancada ruralista, indústrias, etc. e tentar fazer do 'limão uma limonada'. Ser o pai das alterações no texto e estar mais perto da construção que estava sendo feita para ser o 'pai da criança' ou mostrar que a oposição da direita seria diferente da esquerda. Que faria com que aquele texto inicial, cheio de problemas, fosse alterado a pedido e trabalho da oposição. Isso é ruim não é pra mim, é pro próprio PL", reclamou Samuel no grupo dos deputados do PL. "Ser um partido bolsonarista é agir assim? Como o PT e PSOL fazem? Contra tudo a qualquer custo?", criticou.
Calma
Depois de restringir as publicações no grupo de Whatsapp, Côrtes, o líder da bancada do PL na Câmara, afirmou que vai conversar com o presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto, e com Bolsonaro "para discutir e estabelecer nossos limites".
"Bolsonaro colocou na última reunião que nessa votação da reforma tributária não era o caso de fechar questão! Vamos manter a calma, com agressão não vamos resolver nada", disse o deputado aos colegas no aplicativo de mensagens.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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