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Bando desviou respiradores de hospitais para atender 'família'

Na tarde de 29 de junho de 2020, o piloto Hugo Trindade enviou uma foto de uma bolsa recheada de notas de cem e cinquenta reais para sua mulher. "Pagava nossas contas, amor! Um milhão. E no bagageiro da frente tem mais 6 milhões", disse Trindade, eufórico

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 20.02.2022, 08:30:00 Editado em 20.02.2022, 08:39:37
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Na tarde de 29 de junho de 2020, o piloto Hugo Trindade enviou uma foto de uma bolsa recheada de notas de cem e cinquenta reais para sua mulher. "Pagava nossas contas, amor! Um milhão. E no bagageiro da frente tem mais 6 milhões", disse Trindade, eufórico. Ele se preparava para decolar de Belém rumo a São Paulo com a dinheirama e apenas dois passageiros: o médico Cleudson Montali e o empresário Nicolas Morais, apontados como cabeças de uma organização criminosa especializada em desvios milionários na área da saúde.

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O Pará foi a "Serra Pelada" da maior organização criminosa descoberta no País que atuava na Saúde. Só no Estado, diz a PF, o grupo desviou R$ 455 milhões em contratos públicos para a gestão de hospitais de campanha em meio à pandemia da covid-19.

Ambos foram alvo da Operação SOS, da PF naquele Estado, que chegou a cumprir buscas em endereços do governador Helder Barbalho (MDB), e a prender três secretários do governo. No mesmo dia, sofreram buscas na Operação Raio X, da Polícia Civil de São Paulo, que levou à condenação de Cleudson a 200 anos de prisão por desvios e corrupção.

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Cleudson e seus colegas conseguiram contratos de R$ 1,2 bilhão para gerir cinco hospitais apenas entre 2019 e 2020. As OSSs de Cleudson subcontrataram mais de 200 empresas de médicos a ele ligados usadas para escamotear os desvios.

Em grande parte, o dinheiro foi usado na compra de fazendas e gado em nome de um laranja escolhido pelo médico, o homem por trás de organizações sociais contratadas para gerir os hospitais. Já Nicolas, conhecido na quadrilha como "Gordinho Bandido", é visto como o lobista do grupo no Pará. Sua missão era garantir novos contratos por meio da aproximação com políticos.

Entre eles estava o então secretário de Transportes, Antonio de Pádua de Deus de Andrade, que acabou preso. Apontado como beneficiário de R$ 331 mil de repasses de Nicolas, ele mantinha uma relação com o operador, que se desgastou em razão do desejo de Andrade de obter carros de luxo.

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"SW4 e a BMW. E aí, meu irmão. Tá bom! Importante nesse momento. Os dois. Blindado", pediu Andrade a Nicolas, em agosto de 2020. "Tô na procura amigo... dá X6, tá? Faz dias, essa semana toda, o cara tá atrás e a outra tá vindo", respondeu o operador em um diálogo interceptado pela PF. Andrade cobrou a chegada do carro diversas vezes. "Quando a X6 chega ? 'Tá' muito difícil assim", disse, irritado com a demora.

Cestas

O grupo de Cleudson é investigado também em razão da empresa Kaizen, que fechou um contrato de R$ 73 milhões para a distribuição de cestas básicas na pandemia. "O cara que trouxe nós pra cá, que é ligado ao governo aí, pegou um sócio pra fornecer um milhão e meio de cesta básica, aqui pro Estado do Pará", disse Régis Pauletti, apontado como operador financeiro de Cleudson. Ao saber dos valores do contrato, outro integrante da organização disse: "Nossa Senhora, Ricardo, tem muita gente que vai ficar rico com isso né?"

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Até na aquisição das cestas, haveria uma "comissão embutida", confessou um integrante do grupo em uma mensagem. Com o telefone grampeado, Pauletti contou ter dito a Cleudson que a empresa não passava de fachada. Com ajuda de Nicolas, o grupo teve de promover um evento de entrega de cestas básicas com a presença do governador. Funcionários dos hospitais geridos por Cleudson entraram no evento.

"Fomos à noite lá, 'pegamo' os pião do hospital e... que hoje o governador foi lá fazer uma filmagem, fazer entrevista tudo, pras televisão. Aí eu tive que organizar. E hoje liguei pro Glauco. Vê se tem alguma firma que faz isso e se entrega aqui pra nós, 'prucê' ganhar dinheiro", diz Pauletti.

Pauletti foi flagrado confessando que a quadrilha comprava kits de exame contra a covid-19 por US$ 8 e repassava ao Pará por US$ 40. No começo da pandemia, ele contou em um telefonema que desviou três respiradores artificiais para atender a ele e aos familiares da organização criminosa, enquanto o equipamento faltava em hospitais gerenciados pela quadrilha. "Porque se der o surto, bicho, nós temos respirador. Cê monta em casa mesmo."

O jornal O Estado de S. Paulo procurou a defesa de Andrade, Nicolas, Cleudson e Pauletti, mas não os encontrou. O governo do Pará informou que encerrou o contrato com as organizações sociais dirigidas pelos citados. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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