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Delfim Netto é alvo de buscas da Lava Jato em investigação sobre Belo Monte

ANA LUIZA ALBUQUERQUE E GÉSSICA BRANDINO CURITIBA, PR, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Polícia Federal deflagrou na manhã desta sexta-feira (9) a 49ª fase da Operação Lava Jato, denominada “Buona Fortuna”. A etapa mirou políticos e agentes sob suspeita d

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 09.03.2018, 13:45:00 Editado em 09.03.2018, 13:45:10
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ANA LUIZA ALBUQUERQUE E GÉSSICA BRANDINO

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CURITIBA, PR, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Polícia Federal deflagrou na manhã desta sexta-feira (9) a 49ª fase da Operação Lava Jato, denominada “Buona Fortuna”. A etapa mirou políticos e agentes sob suspeita de terem obtido vantagem indevida de consórcio de empreiteiras interessadas nos contratos de construção da usina de Belo Monte, no Pará. O ex-ministro Antônio Delfim Netto, 89, e seu sobrinho Luiz Appolonio Neto, foram alvos da operação.

Segundo o Ministério Público Federal, o governo federal agiu para direcionar a licitação para o consórcio Norte Energia, que reuniu dez empresas que não teriam capacidade para construir Belo Monte. O caso foi noticiado em reportagens da Folha.

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O ex-ministro, de acordo com as investigações, ajudou a estruturar o consórcio em conjunto com o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula. Por enquanto, os procuradores não encontraram indícios de pagamento de vantagens indevidas ao empresário.

Segundo os investigadores, a Norte Energia direcionou o contrato de construção da usina a outro consórcio, composto por empresas que deveriam pagar propina em benefício de partidos políticos e seus representantes. O PT e o MDB ficariam com 1% do valor do contrato, de R$ 14,5 bilhões. Assim, cada partido receberia cerca de R$ 70 milhões.

Por sua atuação no esquema, teria sido destinado a Delfim Netto 10% dos valores direcionados aos partidos, em um total de R$ 15 milhões. O pagamento teria sido realizado por meio de contratos fictícios de consultoria firmados com empresas Aspen Consultoria e LS Consultoria, que estão em seu nome e de seu sobrinho.

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De acordo com o procurador Athayde Ribeiro Costa, o ex-ministro Antônio Palocci, que busca acordo de colaboração premiada, foi o porta-voz do governo federal na solicitação do pagamento de propina aos partidos políticos e a Delfim Netto. Os investigados podem responder pelos crimes de fraude à licitação, corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa.

O Ministério Público afirma que, até o momento, já foram rastreados pagamentos ao ex-ministro em valores superiores a R$ 4 milhões, de um total estimado em R$ 15 milhões, entre 2012 e 2015. Os valores foram repassados pelas empresas Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Odebrecht, OAS e J. Malucelli, todas integrantes do consórcio de Belo Monte, em favor de pessoas jurídicas relacionadas a Delfim Netto, por meio dos contratos fictícios de consultoria.

O juiz Sergio Moro determinou o bloqueio de cerca de R$ 4,4 milhões de Delfim Netto, de seu sobrinho e das empresas administradas por eles. O montante corresponde aos pagamentos identificados em favor dos dois, realizados pelas empreiteiras do consórcio.

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No caso da Odebrecht, os pagamentos foram registrados no sistema de controle de propinas da empresa, com o codinome “Professor”, e as apurações demonstraram que realmente não foi prestado nenhum serviço pelo ex-ministro às empreiteiras que efetuaram os pagamentos.

Em abril de 2016, o alto executivo da Andrade Gutierrez Flávio Barra disse em acordo de delação premiada que a empreiteira pagou propina de R$ 15 milhões ao ex-ministro na fase final das negociações para a construção da usina.

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Segundo Barra, o pagamento teria chegado a Delfim por meio de contratos fictícios de empresas de um sobrinho dele, com a Andrade Gutierrez. Barra, que presidiu a AG Energia —braço da Andrade para esse mercado— afirmou que os pagamentos foram uma gratificação por Delfim ter ajudado a montar consórcios que disputaram a obra.

As apurações relativas ao pagamento de vantagens indevidas ao MDB no contexto de Belo Monte ocorrem em inquérito que tramita no STF (Supremo Tribunal Federal), sob investigação da PGR (Procuradoria-Geral da República). De acordo com o Ministério Público, há indícios de que a maioria da propina destinada ao PT e ao MDB foi transferida por meio de doações eleitorais oficiais. À época, a defesa de Delfim negou que o ex-ministro tivesse forjado contratos fictícios, tendo prestado consultoria para as empresas, de forma lícita. Em depoimento para o inquérito do STF, Delfim corroborou esta versão, confirmando que participou da estruturação do consórcio.

O esquema foi revelado, segundo a Procuradoria, por acordos de leniência firmados pelo Ministério Público Federal com as empresas Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa, assim como acordos de colaboração premiada da Odebrecht homologados pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em razão do envolvimento de pessoas com prerrogativa de foro.

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Os investigadores também realizaram quebras de sigilos bancário, fiscal, telemático e de registros telefônicos, que segundo a procuradoria revelaram a existência de estreitos vínculos entre os investigados e confirmaram as informações dos colaboradores.

Na manhã desta sexta (9), a PF cumpriu dez mandados de busca e apreensão em Curitiba e nas cidades de São Paulo, Guarujá e Jundiaí, expedidos pela 13ª Vara Federal no Paraná. Na capital paulista, os agentes estiveram na casa e no escritório de Delfim Netto. O Ministério Público não reuniu elementos suficientes para pedidos de prisão temporária ou preventiva.

OUTRO LADO

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Em nota, os advogados de Delfim Netto, Ricardo Tosto e Jorge Nemr, afirmaram que os valores recebidos são referentes a honorários de consultoria prestara ao ex-ministro.

"O professor Delfim Netto não ocupa cargo público desde 2006 e não cometeu nenhum ato ilícito em qualquer tempo. Os valores que recebeu foram honorários por consultoria prestada."

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Também em nota, o advogado Fernando Araneo, que defende Luiz Appolonio Neto, afirmou que o cliente "refuta veementemente as acusações e esclarece que sua vida profissional sempre foi pautada pela legalidade".

O MDB e O PT se defenderam em nota.

"O MDB não recebeu proprina nem recursos desviados no Consórcio Norte Energia. Lamenta que uma pessoa da importância do ex-deputado Delfim Neto esteja indevidamente citado no processo. Assim, como em outras investigações, o MDB acredita que a verdade aparecerá no final", diz o texto da sigla.

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O PT afirma que que as acusações não têm fundamento e visam atacar o partido em razão da proximidade das eleições. "As acusações dos procuradores da Lava Jato ao PT, na investigação sobre a usina de Belo Monte, não têm o menor fundamento. Na medida em que se aproximam as eleições, eles tentam criminalizar o partido, usando a palavra de delatores que buscam benefícios penais e financeiros", afirma o texto.

BIOGRAFIA

Antonio Delfim Netto, 89, economista formado pela USP em 1951, participou dos governos dos generais Castello Branco (1964-1967), no Conselho Consultivo de Planejamento (Consplan); Costa e Silva (1967-1969) e Medici (1969-1973), como ministro da Fazenda; e Figueiredo (1979-1984), como ministro da Agricultura e secretário do Planejamento, controlando, a partir da primeira metade de 1979, o Conselho Monetário Nacional e o Banco Central. Atualmente, é colunista da Folha.

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No governo entre 1967-1973, com a expansão do comércio e a intensificação dos fluxos financeiros mundiais, adotou política de aumentar o gasto público e incentivar as empresas privadas e multinacionais a investirem na indústria – foram US$ 2872 milhões em investimento estrangeiro direto no período - e na infra-estrutura do país, reduzindo juros e ampliando crédito.

O resultado, considerando o período de 1968 a 1973, foi crescimento do PIB (11,1%), queda da inflação (19,2%) e aumento do poder aquisitivo do empresariado e da classe média para consumir bens duráveis, em especial eletrodomésticos e automóveis.

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O período da sua gestão foi chamado “milagre econômico”, pela expansão dos negócios financeiros, construção de obras faraônicas (“projetos de impacto”), alguns de utilidade controversa, como a todovia Transamazônica, a ponte Rio-Niterói, a empresa binacional de Itaipu e a Ferrovia do Aço – abandonada -, e pela propaganda ufanista do governo, com o uso da conquista do tri da Copa do Mundo de 1970 como mote para slogans como “ninguém mais segura este país”.

O governo contraía empréstimos de bancos privados estrangeiros para contornar os déficits da balança de pagamentos, causados pelo valor das exportações de manufaturados ser menor que o da importação de bens de capital, o que praticamente triplicou a dívida externa brasileira de 1967 a 1972, quando ficou em US$ 9,521 milhões. Delfim afirmava querer “fazer o bolo crescer, para depois dividi-lo”, mas os benefícios econômicos não atingiram pessoas de baixa renda, que tiveram seus salários reduzidos e sua participação na renda nacional decrescida de mais de 1/6 em 1960 para menos de 1/7 em 1970.

Em 1986, foi eleito deputado pelo PDS com mais de 76 mil votos e participou da Assembleia Nacional Constituinte (ANC). Foi reeleito deputado federal em 1990 e em 1994 pelo PPR.

Entenda o esquema investigado na Lava Jato:

A LICITAÇÃO > Em abr.2010, a Aneel (agência de energia) confirmou o consórcio Norte Energia como vencedor da disputa pela hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. Na época, o grupo propôs vender a energia gerada a R$ 78 por MWh (megawatt hora)

COMPOSIÇÃO DO CONSÓRCIO VENCEDOR

Oito empreiteiras venceram a licitação > Queiroz Galvão > Galvão Engenharia > Mendes Junior > Serving-Civilisan > Cetenco Engenharia > J. Malucelli > Gaia Energia e Participações (atualmente, não participa mais do grupo)

O QUE DIZ A INVESTIGAÇÃO > Foi o economista Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda, que ajudou a criar o consórcio, com a função de forçar as grandes empreiteiras a reduzir o valor que cobrariam pela obra > O arranjo teve a participação do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula investigado na Lava Jato

O PROBLEMA > As empresas que venceram o leilão eram pequenas e não tinham experiência numa obra da complexidade de Belo Monte nem garantias bancárias necessárias > Em ago.2010, o governo federal fechou acordo para incluir outras três empreiteiras na construção

NOVA COMPOSIÇÃO DO CONSÓRCIO

Três empreiteiras novas: > Andrade Gutierrez > Odebrecht > Camargo Corrêa

Oito anteriores: > Queiroz Galvão > Galvão Engenharia > Mendes Junior > Serving-Civilisan > Cetenco Engenharia > J. Malucelli > Gaia Energia e Participações

O QUE DIZ A INVESTIGAÇÃO > Delfim também atuou na formação do segundo consórcio, acomodando os interesses das 11 empreiteiras finais. Para isso, ele recebeu propina de R$ 15 milhões, por meio de contratos da Andrade Gutierrez com a empresa de um sobrinho do economista

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