JOÃO PEDRO PITOMBO
SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) - O ex-ministro e ex-governador da Bahia Jaques Wagner (PT) é suspeito de ter recebido R$ 82 milhões das empreiteiras OAS e Odebrecht pelo superfaturamento do contrato de reconstrução e gestão do estádio da Fonte Nova. As suspeitas fazem parte de inquérito da Polícia Federal, que cumpriu nesta segunda (26) mandados de busca e apreensão em Salvador no âmbito da Operação Cartão Vermelho.
Ele é apontado como plano B do PT para o Planalto caso o ex-presidente Lula fique inelegível após ter sido condenado por corrupção em segunda instância. À imprensa o petista, que foi ministro de Lula e Dilma e hoje é secretário de Desenvolvimento Econômico da Bahia, negou a propina e o sobrepreço (leia ao lado).
As buscas foram realizadas em endereços ligados a Wagner e a dois supostos intermediários da propina -o atual secretário da Casa Civil da Bahia, Bruno Dauster, e o empresário Carlos Daltro. Ambos são ex-funcionários da OAS. Wagner, Dauster e Daltro foram indiciados. A PF solicitou a prisão temporária dos três, mas o pedido foi negado pelo Tribunal Regional Federal da Bahia.
Segundo os policiais, as delações de ex-executivos da Odebrecht e materiais apreendidos na sede da OAS apontam para o pagamento de recursos ilícitos ao ex-governador.
A delegada Luciana Matutino afirmou que, além dos depoimentos dos delatores, há provas de que dinheiro foi entregue a emissários de Wagner. Entre elas, disse, estão mensagens de celular que indicam pagamento da propina.
O inquérito que investiga o contrato de demolição, reconstrução e gestão da Arena Fonte Nova foi iniciado em 2013. Na época, estudo da UFBA apontou que a contratação da obra no modelo de parceria público-privada não era vantajosa para o Estado.
Perícias da PF apontaram direcionamento na licitação para beneficiar consórcio formado por OAS e Odebrecht. O consórcio foi o único habilitado no certame, que tinha exigências considerada muito específicas pela PF, como a expertise em demolição em áreas superiores a 150 mil m².
Além do direcionamento, laudos da PF apontaram ainda para superfaturamento. O sobrepreço chegaria a R$ 200 milhões em valores de 2009 (cerca de R$ 450 milhões em valores atuais).
Ouvidos pela PF, os secretários estaduais responsáveis pela licitação informaram que as decisões sobre o edital foram tomadas no âmbito da governadoria.
Em 2016, o Tribunal de Contas baiano considerou o contrato de PPP ilegal e apontou suspeita de sobrepreço de R$ 460 milhões. Também identificou ausência de informações de projeto básico e planilhas de custo que ajudassem a quantificar o valor global da obra.
As delações da Odebrecht também apontam que a empresa e a OAS receberam recursos extras do governo da Bahia para a obra por meio do pagamento de acordo judicial de R$ 290 milhões entre Odebrecht e Cerb --órgão do governo baiano responsável por obras contra a seca.
Segundo delação de Marcelo Odebrecht e do executivo André Vital, o acordo serviu para quitar pendência de R$ 60 milhões que o governo tinha com o consórcio OAS/Odebrecht motivada pela aceleração das obras da Fonte Nova.
A solução "heterodoxa", nas palavras do delator, teria sido sugerida por Wagner, que queria evitar novo aditivo no contrato da Fonte Nova e o consequente desgaste político. O acordo da Cerb também teria servido como contrapartida para colaboração da Odebrecht via caixa dois para a campanha vitoriosa do petista Rui Costa ao governo baiano.
RELÓGIOS
As investigações da PF também apontam que Wagner recebia presentes das empreiteiras. De acordo com o depoimento de delatores da Odebrecht, ele costumava pedir que as empresas comprassem relógios quando ele precisava presentear pessoas próximas.
Durante busca e apreensão nesta segunda, foram apreendidos 15 relógios -de luxo, segundo a PF- no apartamento do ex-governador.
Os presentes da Odebrecht ao petista já tinham sido citados na delação do ex-executivo da Odebrecht Cláudio Melo Filho, que informou que presenteou o ex-governador com um relógio estimado em R$ 20 mil em seu aniversário.
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