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Pressão pelo politicamente correto enfraquece causas, dizem jornalistas

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Pressões de minorias para introduzir no debate público uma linguagem considerada politicamente correta têm contribuído para enfraquecer suas causas e dividir a sociedade, em vez de ampliar o apoio aos interesses desses grupos,

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 19.02.2018, 15:30:00 Editado em 19.02.2018, 15:30:09
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Pressões de minorias para introduzir no debate público uma linguagem considerada politicamente correta têm contribuído para enfraquecer suas causas e dividir a sociedade, em vez de ampliar o apoio aos interesses desses grupos, na opinião de três jornalistas reunidos pela Folha de S.Paulo para um debate nesta segunda-feira (19).

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"Estamos deixando de articular a narrativa geral capaz de galvanizar a sociedade em torno de objetivos comuns", disse William Waack. ex-apresentador da Rede Globo, durante o 2º Encontro Folha de Jornalismo, em São Paulo.

"Quando você concentra demais a atenção na linguagem, fica com a sensação de que resolve o problema se resolver a língua", disse o colunista da Folha de S.Paulo Sérgio Rodrigues. "Mas mudar a realidade é muito mais difícil do que simplesmente censurar palavras."

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Para Waack, a onda conservadora que deu a vitória a Donald Trump nas últimas eleições presidenciais americanas, em 2016, pode ser explicada em parte como uma "reação" de eleitores que se sentem alijados do debate político por causa do avanço de minorias como negros e imigrantes.

"O politicamente correto pode ser é um tiro no pé", disse Rodrigues. "Muitos grupos restringem o debate de certos assuntos e querem cassar o direito de quem não está no grupo de dar opinião, o que inviabiliza qualquer possibilidade de aliança para a defesa desses interesses."

O jornalista Carlos Maranhão, ex-diretor da Editora Abril, reconheceu que a linguagem politicamente correta foi importante para o combate à discriminação e para a defesa dos direitos das mulheres e de minorias, mas disse que ele ultrapassa os limites do bom senso quando se torna "barreira para a liberdade de expressão e pensamento".

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"É o que acontece quando substituímos a clareza pelo eufemismo, a transparência pela hipocrisia, o diálogo pela intolerância", afirmou Maranhão. Ele citou como exemplos o uso da palavra "comunidade" para nomear favelas, a transformação de funcionários em "colaboradores" das empresas e a identificação de pessoas cegas como "deficientes visuais".

Rodrigues disse que deixou há alguns anos de usar o verbo "judiar", por reconhecer a origem antissemita do termo, e também evita a palavra "preto". Ele observou que só um negro pode chamar outro negro de "crioulo" sem ser acusado de racismo no Brasil.

O colunista rejeitou o uso do termo "afrodescendente" para nomear negros, por considerar a expressão "artificial", e lembrou que o movimento pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos avançou quando se mostrou capaz de conquistar o apoio de estratos mais amplos da sociedade.

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"A ofensa passou a ser usada como capital político por muita gente", disse Rodrigues. "O discurso de que algo é ofensivo passou a ser suficiente para condenar muitas opiniões, e isso inviabiliza qualquer debate."

REDE GLOBO

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Demitido pela Rede Globo no ano passado após o vazamento de um vídeo em que aparece fazendo um comentário racista durante a cobertura das eleições presidenciais americanas, Waack se declarou impedido por contrato de discutir o episódio, ao responder a um questionamento da plateia. Afirmou apenas que sua saída da emissora aconteceu em comum acordo.

Ele fez o comentário racista após ouvir um motorista buzinar na rua, quando se preparava para entrar no ar ao vivo. "Tá buzinando por quê? Ô, seu merda do cacete, merda", disse o jornalista, dirigindo-se ao diretor do Brazil Institute, do Wilson Center, Paulo Sotero, que aguardava para ser entrevistado. "Preto, né?", acrescentou. "Sabe o que é isso? É coisa de preto".

Waack quebrou o silêncio sobre o episódio em janeiro e se defendeu em artigo publicado na Folha de S.Paulo. Ele disse que não é racista, afirmou que o comentário feito em 2016 tinha sido uma piada dita sem a menor intenção racista e pediu desculpas pela ofensa.

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O jornalista trabalhou para a Globo durante 21 anos e foi o âncora do "Jornal da Globo" por mais de uma década. Questionado sobre a qualidade do jornalismo na televisão brasileira hoje em dia, ele foi crítico. "Horrivelmente chato, maçante, insuportável", afirmou.

Waack disse que as dificuldades impostas pelas mudanças nos hábitos de consumo dos espectadores e seu acesso a novas plataformas de distribuição de conteúdo visual tornam necessária a busca de novos formatos para o jornalismo audiovisual e classificou como "ultrapassado" o que se vê hoje na televisão brasileira.

Questionado pelo secretário de Redação da Folha de S.Paulo Vinicius Mota, que mediou o debate, sobre normas de conduta profissional nas redes sociais como as propostas pelo novo "Manual da Redação" lançado pela Folha de S.Paulo, Waack disse ser contrário a qualquer tipo de regulação do trabalho dos jornalistas.

"Sou libertário", afirmou. "Manuais são bons para quem precisa responder a críticas e servem para apoiar o aparelho de televisão, mas são pouco usados na prática."

"Eu sou contra a regulamentação e a favor de que cada um arque com sua responsabilidade. Sou a favor do bom senso."

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