LETÍCIA CASADO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), conversou com o senador Aécio Neves (PSDB-MG) no dia 25 de abril de 2017, quando deu decisão favorável ao tucano para que ele não precisasse prestar depoimento à Polícia Federal em um dos inquéritos da Lava Jato.
A informação consta de relatório da PF incluído em uma das ações que tramitam no tribunal. O documento, datado de 15 de agosto de 2017, não está sob sigilo na corte. No total, considerando dois celulares de Aécio e em dois períodos diferentes, há o registro de 46 ligações por meio de WhatsApp entre eles.
O conteúdo das conversas é desconhecido. A PF fez uma análise dos telefones de Aécio apreendidos em 18 de maio, na Operação Patmos.
Em um dos aparelhos estão registradas 38 chamadas entre os dias 16 de março e 13 de maio de 2017.
Aécio ligou 25 vezes para Gilmar. Destas, conseguiram se falar 12 vezes -as chamadas duraram entre dois segundos e oito minutos e 34 segundos. Há registro de sete ligações perdidas de Gilmar para Aécio.
O laudo destaca que Aécio é investigado em sete inquéritos no STF, sendo que Gilmar é relator de quatro. O relatório foi divulgado pelo site "Buzzfeed" e também obtido pela reportagem no Supremo.
"Nota-se que algumas dessas ligações, ou simples tentativa, ocorreram no dia 25/04/2017, mesma data em que o ministro Gilmar Mendes deferiu monocraticamente requerimento do senador Aécio Neves, relativo à suspensão de interrogatório que seria realizado nesta Policia Federal no dia seguinte, 26/04/2017", diz o texto.
Na decisão, Gilmar adiou o depoimento de Aécio por considerar que ele tem o direito de conhecer o que delatores disseram sobre ele antes de ser interrogado.
Por meio de nota, Gilmar Mendes "esclarece que manteve contato constante, desde o início de sua gestão, com todos os presidentes de partidos para tratar da reforma política" e que seus encontros "são públicos e institucionais".
Em nota, a defesa de Aécio diz que "mantém relações formais com Gilmar Mendes e, como presidente nacional do PSDB, manteve contados com o ministro, presidente do TSE, para tratar de questões relativas à reforma política".
O advogado Alberto Toron, que defende o tucano, afirma que a decisão que suspendeu o depoimento "encontra-se em harmonia com a orientação do STF".
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