ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
CAMPINAS, SP (FOLHAPRESS) - "Nasceste para vencer", diz a inscrição na porta do complexo rosa em Campinas onde, 44 anos atrás, um moleque branquelo e espichado que atendia pelo apelido de "Parmito" (palmito) começou sua jornada militar.
O mesmo Jair Messias Bolsonaro é hoje cultuado numa página não oficial de Facebook que reúne antigos e atuais alunos da Escola Preparatória de Cadetes do Exército. "É melhor Jair se acostumando! Em 2018, vamos enDIREITAr este país", diz um post publicado em julho e curtido por 420 pessoas.
Na quarta (23), dezenas dos 440 estudantes da instituição -acesso para quem quer seguir carreira no Exército- marchavam antes do almoço à base de purê de batata, frango, arroz, feijão, suco artificial de laranja e gelatina de uva.
"Nobre infantaria/ Arma de respeito/ Faz amedrontar", entoava o pelotão de aspirantes a oficial das Forças Armadas.
Foram 29 mil inscritos para a turma de 2017, ou 66 candidatos por vaga (a média para medicina na USP: 63).
Jovens de 17 a 22 anos recebem uma ajuda de custo e moram no colégio-quartel, em três dormitórios coletivos. Novidade neste ano: uma ala para 37 alunas, as primeiras numa instituição há 76 anos dominada por homens. Do Mato Grosso do Sul, Mikaela Alcântara, 21, treinou flexão de braço com o pai militar para passar na prova física. No início, os colegas implicavam. "Não nos achavam capazes", diz.
O esmalte é claro. O coque, preso numa redinha, como zela o código de vestimenta. Anéis? No máximo três, inclusos aliança e anel de formatura, com preferência a "metais dourados e prateados".
Num percurso de cinco minutos, 30 alunos batem continência ao major Relva, 41, responsável pela comunicação da escola onde a implantação da ditadura militar, em 1964, é tratada como "revolução", diz.
Em 1973, auge do regime, o filho do dentista plástico Geraldo e da dona de casa Olinda deu o primeiro passo para concretizar um desejo despertado três anos antes. O Exército chegara a Eldorado (SP), onde vivia Bolsonaro, 15. As tropas estavam no encalço do capitão deserdado Carlos Lamarca, líder da guerrilha na região.
Bolsonaro escolheu ali seu lado no conflito e decidiu: seria o primeiro militar da família. Entrou na escola de cadetes aos 18 anos. Não chegou a se formar lá: fez concurso e foi direto para a Academia Militar das Agulhas Negras.
Nos anos 1980, segundo documento do Exército, oficiais viram no hoje presidenciável "excessiva ambição".
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