MÔNICA BERGAMO E BELA MEGALE
SÃO PAULO, SP, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) está finalizando os textos com as informações para o acordo de delação premiada que pretende fechar com procuradores da Operação Lava Jato.
Preso há oito meses no CMP (Complexo-Médico Penal), em Pinhais (PR), ele já rascunhou mais de cem anexos para a colaboração. Cada anexo traz resumos dos fatos apresentados ao longo da negociação que precisam ser detalhados nos depoimentos.
Cunha deve envolver diretamente o presidente Michel Temer, os ministros Moreira Franco (Secretaria-Geral) e Eliseu Padilha (Casa Civil) e o senador Romero Jucá (PMDB-RR) em sua delação.
Ex-presidente da Câmara, ele integrava o núcleo do PMDB formado por Temer, Jucá e os dois ministros. O grupo liderou o movimento que culminou no impeachment da petista Dilma Rousseff, em 2016.
Cunha teria participado não apenas das grandes negociações políticas, mas também é acusado de integrar esquemas de arrecadação de recursos para campanhas eleitorais e recebimento de propina. Ele teria provas sólidas das acusações que fará.
Envolvidos nas negociações relataram à Folha que a proposta de delação de Cunha será "casada" com a de Lúcio Funaro --doleiro apontado em investigações como principal operador do político em esquemas de corrupção como os que envolvem a Caixa Econômica Federal.
Pessoas próximas a Cunha relataram que ele se viu sem saída, já que o operador iria esvaziar suas chances de delação, além de tornar a sua libertação ainda mais difícil.
Procuradores que integram a força-tarefa da Lava jato têm conversado com os advogados de Cunha e acompanham de perto cada passo que ele dá em direção a um acordo com as autoridades. Envolvidos nas tratativas afirmam que o político nunca esteve tão perto de negociar.
As conversas têm sido consideradas satisfatórias, e a expectativa é de que Cunha entregue os documentos confessando e delatando crimes já na próxima semana.
Enquanto Funaro foi transferido do Complexo Penitenciário da Papuda, onde estava detido desde julho passado, para a carceragem da PF, em Brasília, para facilitar conversas com seus advogados, Cunha continua no CMP.
No entanto, passou a ter acesso a uma sala reservada para se encontrar com seus defensores, que redigirão os termos da delação.
O advogado de Cunha Délio Lins e Silva Júnior nega que o peemedebista já esteja negociando acordo de delação premiada. Lins e Silva Júnior fez o acordo do ex-governador do Mato Grosso Silval Barbosa, também do PMDB.
As delações de Cunha e de Funaro podem integrar a segunda denúncia que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deve apresentar ao STF (Supremo Tribunal Federal) contra Temer, agravando a situação do presidente.
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