ESTELITA HASS CARAZZAI
CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) - A Polícia Federal encerrou, nesta semana, a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba -ou seja, o grupo de delegados e agentes dedicados exclusivamente à operação.
Em nota, os procuradores da operação no Ministério Público Federal classificaram a decisão de "um evidente retrocesso". Para eles, a medida "prejudica as investigações da Lava Jato e dificulta que prossigam com a eficiência com que se desenvolveram até recentemente".
A PF informou que os policiais passarão a integrar a Delecor (Delegacia de Combate à Corrupção e Desvio de Verbas Públicas), dentro da própria superintendência da PF. Eram quatro delegados e mais um grupo de agentes, num total de 40 pessoas, dedicados exclusivamente à Lava Jato em Curitiba.
"Não há motivo orçamentário, nem político", disse o delegado Igor Romário de Paula, coordenador da Lava Jato em Curitiba, em entrevista nesta quinta (6). "É uma decisão operacional." Segundo a PF, a medida "prioriza ainda mais as investigações de maior potencial de dano ao erário" e aumenta o efetivo dedicado ao combate à corrupção e lavagem de dinheiro.
Hoje, cada um dos delegados da Lava Jato possuía cerca de 20 inquéritos, segundo a PF -um número bastante elevado em comparação com o auge da força-tarefa, que chegou a reunir 11 delegados. Havia relatos de sobrecarga de trabalho e acúmulo de funções.
Com a mudança, informa a nota da PF, a carga de trabalho será reduzida e distribuída entre outros policiais da Delecor, que vai reunir cerca de 80 pessoas, sendo 16 delegados.
A ideia, segundo Paula, é criar um núcleo de "investigação permanente contra crimes de alta corrupção" --ao contrário da força-tarefa, que era instituída por portaria e poderia ser revogada a qualquer momento. Para a instituição, o número de policiais na sede do Paraná "está adequado à demanda e será reforçado em caso de necessidade".
REPERCUSSÃO
Integrantes da Lava Jato na PF afirmaram que a mudança foi administrativa, a fim de compensar a redução no efetivo de policiais cedidos à força-tarefa.
A força-tarefa da PF já vinha sofrendo um corte progressivo de pessoal: em maio, o número de delegados dedicados à operação em Curitiba caiu de nove para quatro. O argumento, na época, foi a queda da demanda da operação, e a criação de grupos em outros Estados.
Na nota divulgada nesta quinta, os procuradores reclamam que o efetivo da PF dedicado à Lava Jato em Curitiba teve uma "drástica redução" no governo de Michel Temer (PMDB) e não está adequado à demanda. Segundo eles, o fim do grupo dedicado à Lava Jato "não contribui para priorizar ainda mais as investigações".
"Pelo contrário, a distribuição das investigações para número maior de delegados e a ausência de exclusividade na Lava Jato prejudicam a especialização do conhecimento e da atividade, o desenvolvimento de uma visão do todo, a descoberta de interconexões entre as centenas de investigados e os resultados", disseram, em nota.
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