THAIS BILENKY
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Ex-advogado da J&F preso na Operação Patmos, Willer Tomaz acusa Joesley Batista e o diretor do grupo Francisco Assis e Silva de terem preparado uma armadilha para ele e o procurador Ângelo Goulart Villela, também preso, com o objetivo de agradar ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e assim conseguir benefícios melhores na delação.
Em carta escrita para a Folha da penitenciária da Papuda, em Brasília, onde está preso, Tomaz relata que Joesley e Assis provocaram situações como forma de criar provas de que ele e o procurador atuavam juntos.
O advogado nega que tenha repassado R$ 50 mil a Villela, como acusaram os delatores.
Mas admite que entregou gravação de uma negociação de delação premiada entre procuradores e um ex-sócio e hoje inimigo de Joesley, Mário Celso Lopes, como forma de pressionar o empresário a fechar um acordo de colaboração.
Tomaz diz que não se constrangeu em repassar o conteúdo, de caráter reservado. "Esse áudio não trata de vazamento de nada sigiloso. Simplesmente demonstra que, se o Joesley não fizesse a delação, seu inimigo iria fazer. O Ministério Público usa isso como prática comum quando tem duas pessoas interessadas em delatar. Ele quer a mais forte", justificou.
Na conversa, cuja gravação foi obtida pela Folha, o ex-sócio de Joesley e procuradores negociam bens a serem desbloqueados e provas para comprovar supostas ações ilícitas do grupo J&F.
Janot pediu a abertura de inquérito contra Tomaz e Villela por tentativa de obstruir a Justiça. O procurador-geral sustenta que "o advogado, com possível ajuda do procurador, estava tentando atrapalhar o processo de colaboração premiada ora em curso com o escopo possivelmente de proteger amigos políticos integrantes do PMDB", os senadores Romero Jucá e Renan Calheiros.
A PGR também pede investigação contra Tomaz por corrupção ativa e violação de sigilo. O procurador é acusado, além de obstrução de justiça, de corrupção passiva e violação de sigilo funcional.
Tomaz contesta a versão dos delatores. Diz que não há prova a corroborar o repasse de propina, que não tentou poupar ninguém de delação e que, ao contrário do que afirmou Janot, ele próprio intermediava uma conversa entre Villela e a JBS com vistas a fecharem delação.
Em sua carta, Tomaz narra uma sucessão de episódios que, segundo ele, culminaram em sua prisão, em 18 de maio.
"Me deparei com a absurda armadilha engendrada pelos delatores Joesley e Francisco que, desvirtuando os fatos ocorridos, rifaram a mim e ao procurador Ângelo como moeda de troca para obterem os premiadíssimos benefícios de colaboração".
De acordo com Tomaz, o interesse de Joesley em entregar Villela surgiu em decorrência da informação de que o procurador era um adversário de Janot e apoiava um nome da oposição para a sua sucessão, Raquel Dodge.
Ela ficou em segundo lugar na lista formada após eleição interna da categoria nesta terça (27) para suceder Janot.
encontro em hangar
Tomaz diz que em fevereiro de 2017 foi procurado por Joesley para defender a Eldorado Celulose, do grupo J&F, investigada por supostas irregularidades no uso de recursos do FI-FGTS, bem como na compra de ativos de fundos de pensões na Operação Greenfield.
Em dado momento, de acordo com o advogado, os executivos e ele concordaram em abrir uma frente de conversa com o MPF, dada sua relação com Villela, que atuava na Greenfield.
Mas, segundo o advogado, Joesley se demorava a iniciar as tratativas, dizendo-se receoso de o procurador não ter o poder necessário para fechar um acordo vantajoso com ele.
Foi então que Villela mandou Tomaz entregar a Joesley a gravação das tratativas de delação da equipe do MPF com Mário Celso Lopes, "ex-sócio e arqui-inimigo do Joesley".
Os dois se encontraram em um hangar de aeroporto e Tomaz começou a mostrar a gravação.
Sem que Tomaz soubesse, Joesley gravou o advogado mostrando o áudio e entregou a gravação à Procuradoria-Geral da República.
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