LETÍCIA CASADO, CAMILA MATTOSO E RUBENS VALENTE
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A mulher do marqueteiro João Santana, Monica Moura, afirmou, em vídeo da delação premiada à Justiça, que cobrou diversas vezes pessoalmente a então presidente Dilma Rousseff sobre o pagamento de R$ 25 milhões em caixa dois, mas ela pedia "paciência".
Oficialmente, não havia dívida na campanha presidencial de 2014 de Dilma com Monica e Santana, mas pelo acerto que, segundo Monica, foi feito com o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, um total de R$ 35 milhões seriam pagos em caixa dois. Desse total, a Odebrecht pagou em espécie R$ 10 milhões ao longo de 2014, em diversas entregas em São Paulo, mas ficaram faltando R$ 25 milhões.
De acordo com a delatora, toda a campanha custaria R$ 105 milhões, dos quais R$ 70 milhões seriam em declaração registrada na Justiça Eleitoral. O valor foi acertado com Guido Mantega, indicado por Dilma, segundo Monica, como o responsável para tratar do assunto na campanha de 2014.
Monica achava que o pagamento da dívida de R$ 25 milhões seria feito por remessas no exterior para a conta da firma offshore do casal Santana, a Shellbill Finance, como a Odebrecht já havia feito em outras campanhas eleitorais.
Porém, com o avanço das investigações da Operação Lava Jato, os representantes da Odebrecht que cuidavam do tema da campanha presidencial, Fernando Migliaccio e Humberto Mascarenhas, passaram a dizer que não havia autorização para terminar os pagamentos.
Diante do impasse, Monica disse ter procurado a presidente Dilma em diversas ocasiões no Palácio do Alvorada, em Brasília. Os encontros ocorriam algumas vezes a pedido da presidente, outras vezes por iniciativa de Monica.
"Eu procurei a Dilma. Eu estive várias vezes com a Dilma em 2015 por conta desse atraso. Eu ligava para Hilberto, ligava para Fernando. [...] 'Não, não está liberado ainda. Não tem autorização ainda. Deixa baixar a poeira'. Depois dei como perdido esse que seria o lucro dessa campanha", disse Monica.
Segundo a mulher de Santana, Dilma procurava acalmá-la diante das cobranças. "Ela me pedia paciência. Eles iam resolver. 'Você só tem que ter paciência, espera que eles vão resolver'", disse Monica. Ela disse que nunca recebeu os R$ 25 milhões restantes.
Apesar da dívida, o relacionamento de Dilma com o marqueteiro João Santana continuou bom, segundo Monica. Eles não brigaram e Dilma, segundo Monica, tinha grande confiança pelo marqueteiro, ao contrário do que teria com a maioria dos seus auxiliares.
"O João ficou muito próximo da Dima e muito próximo do Lula depois das campanhas todas que fizemos juntos. Depois de 2010, que foi uma grande vitória, foi uma vitória expressiva e importante, eleger o 'poste Dilma', como todos diziam, a Dilma se apegou muito ao João", disse Monica.
"A Dilma não confia em ninguém. Ela tem um problema grave que ela não confia na capacidade de ninguém. Ela acha que todo mundo é burro, todo mundo é incapaz. Com o João, ao contrário, ela tinha uma confiança nele, na inteligência dele, na capacidade dele de pensar, então ela recorria sempre a ele, como ajuda mesmo", concluiu a delatora.
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