REYNALDO TUROLLO JR.
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Apontado como lobista da Coaf, cooperativa suspeita de ter fraudado a venda de suco para a merenda em São Paulo, Marcel Ferreira Julio foi convocado a depor à CPI que apura o caso na Assembleia Legislativa, mas permaneceu em silêncio.
A pedido da defesa de Marcel, a CPI marcou para esta terça (11) uma sessão fechada à imprensa e ao público. Mesmo com sua exigência atendida, o suspeito alegou que tinha o direito de permanecer calado, conforme lhe garantiu um habeas corpus expedido pelo Tribunal de Justiça.
O depoimento era um dos mais esperados, porque Marcel é considerado o elo entre a Coaf e agentes públicos que teriam recebido propina em um contrato da Secretaria Estadual de Educação.
Em acordo de delação premiada fechado com o Ministério Público e homologado pelo TJ em abril, o lobista afirmou que pagou propina a ex-assessores do presidente da Assembleia, Fernando Capez (PSDB), e que parte do dinheiro foi para a campanha do deputado de 2014. Capez nega.
Ao sair da CPI, Marcel reafirmou à imprensa que pagou a ex-assessores do gabinete do tucano, e citou nominalmente Jeter Rodrigues Pereira e José Merivaldo dos Santos. Ele não quis dar mais informações.
Pereira e Merivaldo já foram ouvidos na CPI e negaram ter recebido propina referente ao contato entre a Coaf e o governo Geraldo Alckmin (PSDB).
Tanto o deputado Alencar Santana Braga (PT), de oposição ao governo, como Barros Munhoz (PSDB), da base, afirmaram que a CPI deve reconvocar os ex-assessores.
Ambos são servidores de carreira na Assembleia. Pereira se aposentou em maio deste ano, em meio às investigações sobre a merenda. Merivaldo está de licença desde o início do ano para tratar uma doença.
Eles são alvo de uma sindicância interna na Assembleia que pode levá-los à perda dos benefícios e ao desligamento do serviço público -a sindicância, porém, já se arrasta em sigilo há mais de seis meses, sem resultados.
SUMIÇO DE DOCUMENTO
Além de Marcel, a servidora da Secretaria da Educação Dione Pavan também foi convocada a depor à CPI nesta terça.
Dione era nutricionista da coordenadoria responsável, entre outras coisas, pela compra de merenda. Ela foi a última pessoa da pasta a ver um documento da Coaf que sumiu dos arquivos.
Trata-se de um pedido de reequilíbrio econômico, espécie de aditivo que a Coaf protocolou na secretaria em dezembro de 2015 -um mês antes de a polícia descobrir o esquema- pedindo para aumentar em 22% o fornecimento de suco.
O documento era considerado importante para a investigação porque, conforme grampos telefônicos, foi feito pela Coaf seguindo orientações de ex-assessores do governo.
Sobre esse documento, o ex-chefe de gabinete da Casa Civil Luiz Roberto dos Santos, o Moita, foi flagrado em uma ligação com Marcel. Nesse grampo, Moita ainda citava o ex-chefe de gabinete da Secretaria da Educação, Fernando Padula. Ambos estiveram na CPI na semana passada e negaram irregularidades.
"[O pedido de reequilíbrio econômico] Não foi endereçado a mim, mas chegou até mim", disse Dione, sobre o papel que desapareceu.
"Minha sala [na secretaria] é aberta, 20 pessoas trabalham lá. Eu não sumi com o documento, o documento é que sumiu da minha mesa", afirmou a servidora.
Ela não soube explicar por que um documento sobre ampliação de contrato foi enviado para o Departamento de Nutrição, onde ela atuava. Não era atribuição dela analisá-lo.
Dione foi exonerada do cargo comissionado que ocupava na secretaria e voltou a trabalhar numa diretoria regional, onde é concursada. À CPI ela disse que não sabe o motivo de ter sido demitida.
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