ESTELITA HASS CARAZZAI
CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) - Em um resultado surpreendente, o ex-prefeito Rafael Greca (PMN) vai disputar o segundo turno em Curitiba com o deputado estadual Ney Leprevost (PSD), que tirou o atual prefeito do páreo e chegou à segunda colocação na reta final da campanha.
Com 95% das urnas apuradas, Greca tinha 38% dos votos válidos neste domingo (2), e Leprevost, 23,8%.
O atual prefeito, Gustavo Fruet (PDT), ficou de fora, em terceiro lugar, com 20,1%.
Após assumir a liderança nas pesquisas e surgir como potencial vencedor em primeiro turno, Greca, 60, tropeçou em si próprio: doze dias antes da eleição, durante sabatina, ele afirmou que vomitou ao sentir "cheiro de pobre", quando carregou um mendigo em seu carro.
Foi o principal evento da campanha, que levou à reviravolta nos resultados finais.
Na época, com o bordão "Volta, Curitiba", o ex-prefeito liderava a disputa. De verve afiada e discurso saudosista, Greca, que comandou a prefeitura entre 1993 e 1996, sucedendo o urbanista Jaime Lerner, prometia a "volta para o futuro".
Numa coligação de sete partidos, e com o apoio do grupo político do governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), a candidatura do nanico PMN decolou, com estrutura e a força da máquina estadual.
Depois da "bobagem" que disse, como ele próprio assumiu e pela qual pediu desculpas, Greca desidratou: perdeu um em cada três eleitores, segundo pesquisa do Ibope. A frase foi bombardeada em redes sociais e programas eleitorais.
ASCENSÃO NA RETA FINAL
Leprevost, 42, deputado estadual em terceiro mandato, foi quem mais se beneficiou com a queda do adversário.
Duas semanas atrás, ele tinha 7% das intenções de voto, segundo o Ibope.
Cristão e conservador, tem um eleitorado semelhante ao do candidato do PMN, e absorveu os votos de quem não quis mais votar no líder após a famigerada frase sobre os pobres.
Em propaganda eleitoral, Leprevost surgiu conversando com moradores de rua, e prometeu "olhar solidário" e casas de recuperação para viciados em crack.
O candidato é apoiado pelo secretário estadual Ratinho Júnior (PSD), potencial postulante ao governo do Paraná em 2018. Ele, que concorreu à prefeitura quatro anos atrás, é bastante popular na periferia de Curitiba, e transferiu votos importantes ao deputado.
Leprevost, que foi radialista e é considerado um bom comunicador, diz ter feito uma campanha pautada em "princípios cristãos" e "honestidade".
Na reta final, ele prometeu cortar 40% dos cargos em comissão, compor um secretariado "ficha limpa" e ir trabalhar com o próprio carro, "para dar exemplo à equipe".
PREFEITO DE FORA
Fruet, eleito quatro anos atrás após uma hegemonia de 25 anos do mesmo grupo político na prefeitura, não conseguiu superar a insatisfação com sua gestão, aprovada por apenas 26% dos eleitores, segundo o Ibope.
Ex-deputado federal e conhecido pelo trabalho de legislador (foi relator da CPI que investigou o mensalão), o pedetista enfrentou crise econômica no Executivo e foi criticado por sua aliança eleitoral com o PT --rompida no meio do mandato.
Dizia que Greca prometia "terreno na Lua", e que era preciso "opor a demagogia ao realismo".
Aos eleitores, prometeu um "salto de qualidade" no segundo mandato, dizendo que "o mais difícil já fez". Destacou sua honestidade e o fato de manter a prefeitura funcionando em meio à crise. Mas não foi suficiente.
No quarto lugar, ficou a candidata Maria Victória (PP), filha do ministro da Saúde, Ricardo Barros, com 5,48%. Depois, aparecem Requião Filho (PMDB), com 5,4%; e Tadeu Veneri (PT), com 4,3%.
Xênia Mello (PSOL) e Ademar Pereira (PROS) fizeram 1%.
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