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'Operadores' faziam pagamentos no exterior e entregavam dinheiro vivo, diz delator

AGUIRRE TALENTO, GABRIEL MASCARENHAS, RUBENS VALENTE E MARIO CESAR CARVALHO BRASÍLIA, DF, E SÃO PAULO, SP - O dinheiro de propina recebida no exterior pelo ex-gerente de engenharia da Petrobras Pedro José Barusco Filho foi depositado por uma série de "op

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 05.02.2015, 18:04:37 Editado em 27.04.2020, 20:03:13
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AGUIRRE TALENTO, GABRIEL MASCARENHAS, RUBENS VALENTE E MARIO CESAR CARVALHO
BRASÍLIA, DF, E SÃO PAULO, SP - O dinheiro de propina recebida no exterior pelo ex-gerente de engenharia da Petrobras Pedro José Barusco Filho foi depositado por uma série de "operadores" de empreiteiras que mantinham contratos com a petroleira. Foi o que o próprio Barusco revelou em depoimentos, que vieram à tona nesta quinta-feira (5), prestados em acordo de delação premiada na Operação Lava Jato.
Em seus depoimentos, Barusco mencionou diversas pessoas que, segundo ele, atuavam nos bastidores em nome das empreiteiras, acertavam pagamentos, ordenavam transferências ao exterior e entregavam dinheiro em espécie em hotéis e casas no Rio de Janeiro. Cada "operador" agia em nome de uma empreiteira ou de um grupo de empreiteiras.
Barusco disse ter recebido em propinas, entre 2003 e 2013, um total estimado entre US$ 40 e US$ 50 milhões. Segundo ele, 90% do total foi enviado ao exterior e o restante foi entregue em espécie no Brasil.
Segundo Barusco, um dos "operadores" era o consultor Shinko Nakandakari, de São Paulo. Em depoimento naquela ocasião, o empreiteiro Erton Fonseca, da Galvão Engenharia, afirmou ter pago R$ 5 milhões a Nakandakari, que dizia agir em nome da diretoria de Serviços da Petrobras, então comandada por Renato Duque, indicado pelo PT.
Segundo Barusco, Nakandakari é "um ex-diretor aposentado da Odebrecht". Eles eram amigos, "jantavam juntos e já viajaram". O delator contou que "Shinko operacionalizava o pagamento de propinas por conta de contratos firmados entre a Galvão Engenharia, representada por Erton Fonseca, e a EIT Engenharia".
O ex-gerente disse que os contratos de interesse de Shinko custaram à Petrobras cerca de R$ 2,6 bilhões, entre 2008 e 2013.
"Shinko entregava pessoalmente o dinheiro em euros, reais ou dólares, sempre na quantia correspondente a aproximadamente R$ 100 mil, normalmente nos hotéis Everest, Sofitel e Ceasar Park, onde 'tomavam um drink ou jantavam'", descreveu Barusco.
Relação de amizade semelhante Barusco mantinha com outro "operador", Atan Barbosa, descrito pelo ex-gerente como "empregado de carreira da Petrobras, já aposentado há mais de 15 anos".
"De outubro de 2008 até abril de 2013, o declarante [Barusco] recebeu a título de propina a quantia de US$ 29 mil por mês em razão de contratos, de uma forma global, fora do modus operandi que envolvia o PT, Renato Duque e outros. [...] Waldir Carreiro é o presidente da Iesa Óleo e Gás e era o contato da empresa com Atan, mas o declarante só falava a respeito de propinas com Atan."
O valor era depositado em uma das contas de Barusco, a Rhea Comercial Inc., no Banco Safra, na Suíça, "proveniente da conta da offshore Heatherley Business Ltd., mantida no banco Clariden Leu AG, em Zurique, controlada por Atan". Ainda conforme Barusco, Atan "atuou efetivamente como operador de propinas", em especial em torno de um contrato firmado "entre a Companhia Brasileira de Dragagem e a Petrobras, para locação do Estaleiro Inhaúma, no ano de 2009". A Iesa Óleo e Gás "é a dona da CBD; o contrato de locação do estaleiro era de R$ 4 milhões por mês, sendo que foi ajustada a divisão de pagamento de propinas em favor do declarante [Barusco] e Renato Duque". Nesse contrato o PT "não entrou na divisão".
"Apesar disso, como Atan Barbosa já pagava mensalmente a quantia de US$ 29 mil acima referida, continuou pagando, não tendo havido um depósito específico relacionado ao contrato do Estaleiro Inhaúma", disse Barusco.
César Oliveira, disse o delator, é "o dono da GDK e também agia como operador no pagamento de propinas". Segundo Barusco, "foram ajustados pagamentos de propinas sobre cinco contratos, [...] com algumas exceções, todos da área de Gás e Energia, no valor aproximo total de R$ 700 milhões."
Luiz Eduardo Barbosa era funcionário da ABB (Asea Brown Boveri) e depois foi trabalhar com Julio Faerman na Faercon e na Oil Drive.
Outro "operador" citado por Barusco foi Milton Pascovitch, que "atuava como operador da empresa Engevix, cujo representante era Gerson Almada, presidente da empresa". Barusco "saía para jantar e almoçar com ele e também mantinha relacionamento familiar, frequentando sua casa e vice-versa", no Rio e em São Paulo.
Segundo o ex-gerente, "a Engevix firmou sete contratos com a Petrobras sobre os quais houve pagamento de propinas".
De um total de US$ 4 bilhões em contratos, Barusco afirma que recebeu "muito pouco": R$ 100 mil em dinheiro no Brasil, US$ 260 mil em uma conta em Genebra, na Suíça, na sua conta Aquarius Partners Inc., e outros US$ 250 mil em 17 de julho de 2013, provenientes da offshore Farallon Investing Ltd.
Outro homem que, segundo Barusco, atuava em nome de empreiteiras era Mario Goes, que entregava "umas mochilas com alguns valores", que oscilavam de R$ 300 mil a R$ 400 mil, normalmente na sua própria casa na Estrada das Canoas, em São Conrado.
Segundo Barusco, Goes atuava "como operador das empresas UTC, MPE, OAS, Mendes Júnior, Andrade Gutierrez, Schahin, Carioca e Bueno Engenharia para viabilizar o pagamento das propinas relativos aos contratos específicos junto à Petrobras; pagou parte pequena da propina em dinheiro no Brasil em favor do declarante".
Barusco costumava guardar muito dinheiro na sua casa, em Joatinga, no Rio. Quando a Operação Lava Jato estourou, em março de 2014, Barusco disse que tinha em casa nada menos que R$ 3 milhões, que ele mandou retirar do esconderijo e depositar na Suíça.
Barusco disse também à PF ter elaborado planilhas relacionando os valores depositados em propina e os operadores de cada remessa. Os colaboradores eram identificados por siglas. O consultor Julio Faerman, outro "operador", segundo o ex-gerente, que atuava em nome da holandesa SBM, ganhou uma alcunha curiosa: "Batman", "porque ele andava sempre com Luiz Eduardo, e colocaram nos dois o apelido de Batman e Robin".
Em novembro passado, Nakandakari foi procurado pela reportagem mas preferiu não se manifestar, dizendo que daria as explicações à PF. A reportagem não localizou as outras pessoas citadas por Barusco.

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