BRASÍLIA, DF - O Ministério Público Federal acusa o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró de ter omitido da Justiça o fato de possuir um passaporte espanhol, em ofício anexado nesta sexta (16) ao inquérito que resultou na prisão preventiva dele, na última quarta (14).
O passaporte facilitaria a fuga do país, já que é difícil conseguir que países estrangeiros extraditem para o Brasil cidadãos que tenham a nacionalidade desses países.
A defesa de Cerveró, porém, rebate dizendo que ele ainda não havia sido informado pela Justiça de que estava sendo processado ou investigado e que, na quinta (15), já havia informado possuir cidadania espanhola, ao entrar com habeas corpus pedindo a soltura do ex-diretor.
O Ministério Público Federal apresentou a informação como um adendo à prisão preventiva de Cerveró, com o intuito de reforçar a sua necessidade. Segundo os procuradores, o passaporte foi emitido pelo consulado da Espanha no Rio de Janeiro em junho de 2012 e tem validade até junho de 2022.
"Cumpre informar que em momento algum o investigado informou a dupla cidadania espanhola, ou seja, omitiu tais informações da Justiça certamente para se beneficiar de tal situação. A ocultação dolosa do passaporte é um indicativo, portanto, de que Nestor planeja utilizar sua cidadania espanhola como meio para escapar de qualquer punição", diz a peça, assinada pelos procuradores Carlos Fernando dos Santos Lima e Orlando Martello.
A Procuradoria até cita o caso do ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolatto, que conseguiu fugir do Brasil mesmo após sua condenação no mensalão por ter um passaporte italiano, afirmando que "nem mesmo a apreensão completa de passaportes serviu para garantir que se sujeitaria à Justiça brasileira".
OUTRO LADO
Quando foi preso, Cerveró estava voltando de uma viagem à Inglaterra.
Em depoimento à Polícia Federal, ele afirmou que "a sua viagem internacional teve o intuito de visitar parentes da sua esposa na Inglaterra e que para tanto utilizou o seu passaporte brasileiro, tendo comunicado a viagem à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal".
Sua defesa afirma que, se ele tivesse a intenção de fugir, não teria voltado do exterior em alguma das viagens que fez.
"Ele só foi citado pela Justiça anteontem para responder à ação. Como estava viajando, marcamos com a oficial de Justiça para que fosse à casa dele hoje [16] citá-lo. Se ele quisesse fugir, não teríamos marcado horário para isso", afirmou o advogado Edson Ribeiro.
O advogado também afirma que Cerveró já havia enviado ofícios ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal informando estar à disposição para ser ouvido e nunca foi chamado.
Cerveró só foi ouvido nesta semana, após ser preso. A defesa anexou ao habeas corpus ofícios de março do ano passado encaminhados ao diretor-geral da PF, Leandro Daiello, e ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
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