Convocados por grupos de centro-direita, os atos em defesa do impeachment do presidente Jair Bolsonaro reuniram cerca de 6 mil pessoas na Avenida Paulista, em São Paulo, o maior contingente entre as 15 capitais onde foram registrados protestos no domingo, 12. O Movimento Brasil Livre (MBL), o Vem Pra Rua e o Livres até sinalizaram baixar o tom das críticas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para atrair adesões da esquerda e do PT, mas o mote "nem Lula nem Bolsonaro" seguiu em destaque na maioria das manifestações.
Pesquisa do Monitor do Debate Político no Meio Digital, da USP, ajuda a demonstrar os desafios para unir partidos e grupos de orientação diversa em torno da mobilização pelo impeachment do presidente. De acordo com o levantamento, realizado durante o ato na Paulista, 85% dos manifestantes são favoráveis à criação de uma frente ampla contra Bolsonaro, mas 38% dos entrevistados disseram que não iriam para rua com o PT. De todo o público ouvido, 37% dos manifestantes disseram ser de esquerda ou centro-esquerda e 34% de direita ou centro-direita.
A divisão entre os partidos e movimentos de oposição ao governo levou a protestos esvaziados. O levantamento foi coordenado pelos professores da Universidade de São Paulo Pablo Ortellado e Márcio Moretto. Foram entrevistados 841 manifestantes, entre 13h e 17h30. A margem de erro é de 4 pontos porcentuais, para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%.
Na avaliação de Ortellado, a pesquisa revela um "paradoxo" que só poderá ser resolvido com a superação de "ressentimentos" entre petistas e segmentos da direita, como o discurso de que Lula foi preso "injustamente". Para ele, a criação de uma frente ampla passa naturalmente pela inclusão do PT no grupo. "Trata-se de um partido hegemônico na esquerda, sem ele, nenhuma proposta de frente ampla é suficientemente ampla", disse.
"Embora a pesquisa tenha constatado esse nó na direita, ele também está acontecendo do lado da esquerda, que tem a mesma dificuldade de ir pra rua com lavajatistas", afirmou.
Apesar de contar com a participação de cinco potenciais candidatos à Presidência em 2022, a corrida eleitoral esteve no pano de fundo da manifestação na Paulista, cuja bandeira.
Eleições presidenciais
A pesquisa também questionou os eleitores sobre a intenção de voto para a eleição de 2022.
O pedetista Ciro Gomes, um dos presentes na Avenida Paulista, foi o mais citado pelos manifestantes (16%), seguido do ex-presidente Lula (14%) e do ex-juiz Sérgio Moro (11%). Na sequência, João Amoedo (Novo) e João Doria (PSDB), ambos presentes no ato em São Paulo, têm 8% e 7%, respectivamente. Outros 31% afirmaram não saber em quem votar.
Pesquisas nacionais de intenção de voto têm apontado que, se a eleição fosse hoje, Lula e Bolsonaro chegariam ao segundo turno, com vantagem do petista. Nesse cenário, 54% dos manifestantes disseram que votariam em Lula, enquanto 40% afirmaram que anulariam ou votariam em branco. A taxa é próxima a que afirma não aceitar ir às ruas ao lado do PT.
Perfil dos manifestantes
Nos atos de 7 de Setembro, os pesquisadores também foram às ruas para traçar o perfil dos manifestantes. Em comparação com os atos do dia 12, os resultados mostram que em um intervalo de cinco dias, o público que esteve na Avenida Paulista ficou, em média, mais jovem, mais escolarizado, com maior renda e mais branco do que os apoiadores de Bolsonaro.
Entre os manifestantes de 12 de setembro, 69% tinham até 44 anos; 79% tinham ensino superior (completo ou incompleto); e 56% tinham renda familiar acima de cinco salários mínimos. A maior parte dos entrevistados, 67% se declarou branca. Autodeclarados negros somaram 29%.
Entre os manifestantes bolsonaristas, a maioria, 53% tinham mais de 45 anos; 43% tinham renda familiar maior que 5 salários mínimos; e 60% tinham curso superior (completo ou incompleto). Autodeclarados brancos somaram 60% e negros, 33%.
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