O governador eleito Beto Richa (PMDB) retornou ontem à cena política paranaense, após uma semana em viagem ao exterior, enfrentando o desafio de “destravar” os trabalhos de transição, emperrados por uma série de desavenças entre sua equipe e o governo Orlando Pessuti (PMDB). No período em que esteve fora, os problemas se acumularam, com intensa troca de acusações entre os representantes do tucano e do governador. O resultado é que a pouco mais de um mês para a posse, Richa não tem informações precisas sobre a situação financeira do Estado, nem sobre como vai receber o governo no próximo 1º de janeiro.
Na semana passada, a equipe de transição do governador eleito acusou a administração atual de onerar em até R$ 700 milhões o caixa do próximo governo, com medidas como como benefícios fiscais, antecipações de receita e licitações no final do mandato. Além disso, apontou que das 165 questões encaminhadas aos representantes do atual governo relativas a situação financeira do Estado, apenas 60% foram respondidas, mesmo assim, de forma parcial.
O futuro líder do governo Richa na Assembleia, deputado estadual Ademar Traiano (PSDB), acusou ainda o governador Pessuti de promover uma “farra” de contratações na reta final de sua administração. Segundo o tucano, entre abril e o início de novembro, o atual governo nomeou 835 pessoas para cargos de confiança, e demitiu apenas 189, o que implicou em um saldo de 643 novos contratados no perído. Somente neste mês de novembro, até o dia 11, Pessuti contratou 14 funcionários – e exonerou 2, afirmou Traiano.
Pessuti - que inicialmente prometeu abrir as portas do governo à equipe de Richa, garantindo uma transição tranquila - reagiu duramente aos questionamentos do líder da futura administração no Legislativo. “Eu gostaria que o Traiano, que pelo menos até onde eu saiba não está autorizado para isso, peça ao (Homero) Giacomini, que é quem comanda a equipe de transição, que apresente ao meu coordenador de transição, Alan Jones, esta lista de contratações e exonerações. Isto não procede. Isso é uma inverdade”, disse o governador.
O peemedebista cobrou ainda um encontro com o governador eleito, para esclarecer a situação. “Precisamos avaliar se o Traiano está falando por ele ou pelo Beto Richa, porque se o Beto está falando para ele mandar estes recados, ele não precisa fazer isto comigo. O Beto é meu amigo, tem meu telefone pessoal, tem o telefone da minha casa e, se o que eu estou fazendo não está de acordo com aquilo que ele deseja, é só ele pegar o telefone, me ligar, nós tomamos um cafezinho, e falaremos sobre o assunto”, afirmou.
Defensoria - Entre as questões que voltam à pauta da transição essa semana é a votação do projeto do atual governo que regulamenta a Defensoria Pública do Paraná. Na semana passada, Traiano conseguiu suspender a tramitação da proposta, pedindo vistas na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). A CCJ volta a se reunir amanhã para discutir parecer favorável do relator, deputado Tadeu Veneri (PT), ao projeto.
O atual governo defende a aprovação da matéria ainda este ano, argumentando que trata-se apenas da regulamentação de uma exigência constitucional, e afirmando ter reservado R$ 28 milhões no Orçamento do Estado para 2011 para a implantação do projeto. O líder do futuro governo defende que a votação da proposta seja adiada para o ano que vem, alegando que somente para os gastos com a criação de 400 novos cargos representaria um gasto de R$ 42 milhões.
Traiano admite que a transição não está sendo tranquila como se esperava. E que a falta de informações atrasou o diagnóstico da situação do Estado, que o governador eleito pretendia ter até o último dia 15. Ele nega, porém, que isso inviabilize o trabalho da equipe de transição. “Vamos tomar as providências necessárias independente do que acontecer. Vamos fazer as mudanças necessárias”, disse.
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