Uma pesquisa da Universidade Estadual de Maringá (UEM) está analisando se produtos naturais podem ser usados no combate ao coronavírus. Conduzida pelo professor doutor Flavio Seixas, a pesquisa busca identificar substâncias que bloqueiem as enzimas responsáveis pela multiplicação do vírus.
O vírus se multiplica no organismo por meio de estruturas específicas chamadas de enzimas. A estratégia é encontrar substâncias que se ligam seletivamente a estas enzimas para inativá-las e com isso impedir a multiplicação e a progressão da doença.
“É muito importante termos pesquisas em diferentes frentes para buscar soluções no combate ao coronavírus. As universidades paranaenses contam com pesquisadores de excelência que estão trabalhando incansavelmente nestas frentes”, afirma o superintendente estadual de Ciência e Tecnologia, Aldo Bona.
O pesquisador explica que os colaboradores da pesquisa já identificaram vários componentes de extratos vegetais, que estão armazenados em um banco de dados virtual. Em seguida, um programa de computador faz simulações para calcular a probabilidade destes componentes se ligarem às enzimas virais, estratégia chamada de varredura virtual. O programa consegue analisar milhares de componentes por dia, o que agiliza o processo de investigação.
“As vantagens de se chegar a um componente natural que combata o vírus é que muitos deles já são usados há séculos na medicina popular e seus efeitos benéficos ou tóxicos já são bastante conhecidos. Alguns deles já possuem atividade comprovada contra outros vírus”, explica.
Os pesquisadores já identificaram cerca de 10 componentes dos extratos vegetais que, em teoria, teriam maior chances de inibir a proteína viral, comparado a medicamentos sintéticos já testados. “Isso é um forte indício que estes componentes poderiam inibir a enzima do coronavírus”, afirma.
Com os compostos identificados, os pesquisadores estão agora extraindo-os e isolando-os. A próxima etapa é confirmar se as substâncias naturais isoladas, de fato, se ligam à enzima viral que foi produzida em laboratório.
Se esta fase da pesquisa apresentar resultado positivo, o próximo passo será testar os compostos extraídos em células infectadas. Nesta fase, a pesquisa segue em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), que possui laboratórios apropriados para este tipo de pesquisa.
“Se for possível eliminar o vírus de células infectadas, partimos para os testes pré-clínicos, feitos em animais, para depois testar em seres humanos”, diz.
Seixas afirma que outras pesquisas semelhantes estão sendo feitas, mas usando produtos farmacológicos. “Nós chamamos isso de reposicionamento de fármacos. Estão buscando encontrar algo já disponível no mercado e que tenha efeito deletério sobre o vírus”, explica. “Nossa estratégia é diferente porque usamos produtos naturais para chegar a este efeito deletério”, acrescenta.
Participam da pesquisa estudantes de pós-graduação da UEM e os pesquisadores João Mello, do Laboratório de Biologia Farmacêutica; Rosane Peralta, do Laboratório de Bioquímica de Microrganismos e Alimentos; Maria Fernandez do Laboratório, da Organização Funcional do Núcleo.
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