Um grupo de professores da Universidade Estadual de Londrina (UEL) desenvolveu um produto dermocosmético contra bactérias multiresistentes. O produto é um gel-creme para a pele humana que ajuda no combate a fungos, vírus e bactérias. O produto é inovador e contém nanopartículas de prata biogênicas e um composto químico com propriedade antimicrobiana e antifungicida chamado violaceína.
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O dermocosmético é resultado de uma pesquisa científica desenvolvida no Departamento de Microbiologia do Centro de Ciências Biológicas da UEL. O produto já foi patenteado e, atualmente, está em fase de prospecção de parcerias para disponibilização no mercado.
Produto pode levar três anos para chegar ao mercado
A expectativa é que o novo produto dermatológico esteja em plena comercialização em até três anos. Para viabilizar a inserção dessa inovação no mercado, os pesquisadores estão em articulação com grandes empresas, como Natura, Aché e Ourofino (especializada em produtos veterinários), por meio da Rede Emerge, que reúne cientistas de diferentes áreas do conhecimento em projetos de inovação. A rede facilita a conexão dos pesquisadores com grandes indústrias e investidores com foco na transferência de conhecimento e tecnologia para o mercado.
Combinação de ativos
O produto dermatológico resulta da combinação de dois ativos, as nanopartículas de prata, derivadas do sal de prata, e a violaceína, um pigmento bacteriano roxo, geralmente encontrado no Rio Negro, que nasce na Colômbia e percorre, principalmente, a região Norte do Brasil.
A união dos dois componentes acontece pela abordagem de síntese verde, uma metodologia que busca desenvolver processos e produtos químicos de maneira sustentável e que minimiza ou elimina os impactos ambientais ao longo do ciclo de vida do produto.
Uma das principais vantagens desse método é a capacidade de atuar na resistência de bactérias patogênicas para diferentes tratamentos dermatológicos, com aumento da eficácia e redução da dose necessária do produto para alcançar o efeito desejado. A síntese com substâncias biológicas, especificamente plantas, torna o processo proposto na pesquisa da UEL mais ecológico e sustentável, embora seja mais caro do que os métodos convencionais de reação química, que podem resultar em produtos tóxicos.
Segundo o coordenador do projeto, Gerson Nakazato, professor de Microbiologia da UEL, a eficácia do potencial antimicrobiano das nanopartículas de prata biogênicas e da violaceína aumenta de forma significativa ao atuarem de forma combinada. “Quando esses dois ativos biológicos funcionam de forma combinada é possível reduzir as doses e as quantidades de cada um para alcançar o efeito desejado”, afirma. “Outra vantagem é que para cada ativo antimicrobiano, o microrganismo pode se defender, responder e gerar resistência, porém ao usar os dois ativos ao mesmo tempo a chance de gerar resistência é menor”, explica.
Inovação científica
Esse projeto representa uma inovação científica com potencial para substituir conservantes como o Triclosan e o Parabeno, considerados nocivos, mas ainda presentes em cosméticos da indústria brasileira. Esses dois compostos foram proibidos em alguns países devido aos efeitos tóxicos, inclusive associados ao câncer. O Triclosan, por exemplo, é encontrado em uma variedade de produtos de consumo, como sabonetes, pastas de dentes, desodorantes, sabão para lavar roupas, antissépticos e perfumes. A busca por alternativas tem sido desafiadora devido aos custos envolvidos.
Atualmente, a equipe de pesquisadores está concentrada no desenvolvimento da formulação para iniciar os testes pré-clínicos, com o objetivo de aplicação em dermocosméticos, especificamente em um cosmético para o tratamento de acne, uma condição causada por bactérias na pele. As evidências científicas indicam que essa formulação em gel-creme pode proporcionar um desempenho superior nos diferentes produtos.
Essa abordagem proposta no estudo da UEL é considerada menos complexa em comparação a opções de medicamentos, uso em alimentos ou aplicação veterinária, embora essas possibilidades permaneçam como considerações futuras, devido ao potencial do ativo para combater todos os tipos de bactérias. A principal questão enfrentada é o custo elevado e a necessidade de adequação às normas estabelecidas pelos órgãos reguladores.
Além do professor Gerson Nakazato, a pesquisa envolve as professoras Renata Kobayashi, Sueli Ogatta e Audrey Lonni, da UEL; e o professor Nelson Durán, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em São Paulo. O estudo conta, ainda, com a participação das estudantes de doutorado da UEL, Débora Dahmerr e Laís Spoladori, e da doutora Marcelly Chue, egressa do Programa de Pós-Graduação em Microbiologia da UEL.
Pesquisa em parceira com Unicamp
A equipe de pesquisadores da UEL atuou nos estudos relacionados à nanopartícula de prata. Os trabalhos acadêmicos são realizados no Laboratório de Bacteriologia Básica e Aplicada e no Laboratório de Biologia Molecular de Microrganismos do Centro de Ciências Biológicas (CCB). A equipe sintetizou nanopartículas de prata utilizando substâncias biológicas (plantas) para desenvolver um agente capaz de combater bactérias, fungos e até mesmo vírus.
Já a Unicamp atuou na pesquisa com a violaceína. A bactéria responsável pela produção da violaceína está sendo reproduzida em laboratório, eliminando a necessidade de recorrer a amostras do Rio Negro. Os resultados da pesquisa apontam que a substância, conhecida anteriormente pelo uso em tinturas de tecido, é promissora como agente antibacteriano, antiviral e anticancerígeno.
O projeto de pesquisa da UEL foi financiado pelo Governo do Paraná, por meio da Fundação Araucária, principal instituição de fomento científico no Estado, ligada à Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti). A inciativa contou, ainda, com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), órgão vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).
Prêmio inventores 2023
O projeto do gel-creme com atividade antimicrobiana ganhou o Prêmio Inventores 2023, dedicado ao reconhecimento de professores e estudantes que atuam com pesquisa científica e inventores de organizações envolvidas com propriedade intelectual e transferência de tecnologia. Promovida há 16 anos pela Unicamp, a premiação conta com as seguintes categorias: proteção à propriedade intelectual; transferência de tecnologia; tecnologia absorvida pelo mercado; spin-off acadêmica; e propriedade intelectual licenciada.
Esta é a terceira matéria de uma série voltada para a divulgação científica e que tem como objetivo promover os resultados de estudos acadêmicos desenvolvidos por pesquisadores, professores e estudantes das sete universidades estaduais do Paraná. Os textos são publicados semanalmente com o selo Paraná Mais Ciência, um programa estratégico do governo, previsto no Plano Plurianual do Estado (PPA), que viabiliza os recursos financeiros do Fundo Paraná de fomento científico e tecnológico, administrado pela Secretaria da Ciência e Tecnologia e Ensino Superior (Seti).
A primeira reportagem abordou a pesquisa da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) sobre aspectos de mudanças climáticas, considerando a formação de ilhas de calor. A segunda, tratou de projeto desenvolvido na Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP) que analisa indicadores e aspectos epidemiológicos da saúde de mulheres paranaenses, a partir de dados do Datasus.
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