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Tragédia em cooperativa comove haitianos no Paraná

Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul concentram 60% dos imigrantes haitianos no Brasil, segundo dados do Sistema de Registro Nacional Migratório

Da Redação

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Michelet Bodouin e família em Apucarana, no Norte do Paraná
Icone Camera Foto por Arquivo da Família
Michelet Bodouin e família em Apucarana, no Norte do Paraná
Escrito por Da Redação
Publicado em 30.07.2023, 10:03:26 Editado em 30.07.2023, 10:10:16
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Há quase dez anos em Apucarana, no Norte do Paraná, o haitiano Michelet Bodouin, 43 anos, já viu muitas chegadas e partidas de conterrâneos. Em busca de novas oportunidades, milhares de imigrantes do Haiti desembarcaram no Estado após o terremoto que devastou o país em 2010. A maioria permaneceu por algumas temporadas e depois partiu para outros países, principalmente aqueles que pagam em dólares. Outros, como Michelet, acabaram ficando e construindo família.

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A tragédia na cooperativa C.Vale em Palotina, no Oeste do Paraná, na última quarta-feira (26), gerou comoção na ainda numerosa comunidade haitiana do Paraná. Oito trabalhadores, sendo sete haitianos, morreram nas explosões registradas em um silo de grãos. Eles trabalhavam no subsolo quando ocorreu o acidente. Cada imigrante espalhado pelo Estado sentiu a dor dessas perdas.

Segundo dados do Sistema de Registro Nacional Migratório (Sismigra), do Ministério da Justiça e Segurança Pública, os primeiros 607 haitianos chegaram ao Paraná em 2010. O ano de 2016 registrou o “boom” de registros: 7.301.

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A procura pelo Estado vem caindo desde então, mas o fluxo de imigrantes ainda é grande. Quase 6 mil vieram ao Paraná nos últimos três anos, segundo o Sismigra. Foram 3.971 em 2021, 1.341 em 2022 e 641 em 2023 (janeiro a junho).

O Sul do Brasil concentra 60% dos haitianos que desembarcaram no país desde 2021. Foram 27.645 no total, sendo 16.661 apenas nos três estados da região: Paraná (5.953), Rio Grande do Sul (3.629) e Santa Catarina (7.079).

“Recebi a notícia (morte dos trabalhadores haitianos) e fiquei muito triste. Foi uma tragédia muito grande”, afirma Michelet, ainda com forte sotaque francês. Ele mora no Distrito do Pirapó, em Apucarana, onde está concentrada uma pequena comunidade haitiana. O trabalhador de 43 anos mostra preocupação com as famílias das vítimas. “Você sabe me dizer se vão pagar indenização? Acho que deveria”, questiona.

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Michelet chegou ao Brasil em 2014. Trabalhou por seis anos e meio em uma empresa de molas até ficar desempregado recentemente. Há poucos dias, arrumou um novo emprego em uma fábrica de pão.

Ele não pensa em voltar, apontando que as dificuldades no país de origem são ainda maiores que as do Brasil, tanto na questão de segurança quanto de trabalho. No entanto, afirma que muitos haitianos deixaram de vir ao Brasil para ganhar em dólares. “Ganhando em dólares é mais fácil de ajudar os familiares que ficaram no Haiti”, explica.

Michelet tem sete filhos, dois nascidos no Brasil. Um, de 19 anos, ainda mora no Haiti e ele sonha em trazê-lo. “Minha mulher chora todos os dias, mas não consigo juntar dinheiro suficiente. Ficou mais difícil de trazer”, lamenta.

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O imigrante, que chegou sozinho ao Brasil e depois trouxe a família, afirma que o número de haitianos caiu no Paraná. No Distrito do Pirapó, há três anos, viviam cerca de 200. Hoje, são apenas 30.

Michelet é pastor e abriu uma igreja para a comunidade. No entanto, precisou encerrar os trabalhos. “Os haitianos ajudavam a pagar o aluguel, mas agora são poucos e não pude continuar. Precisei fechar as portas”, comenta.

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 Michelet, esposa e o filho nascido no Brasil
Foto por Arquivo da Família
Michelet, esposa e o filho nascido no Brasil


Em Apucarana, ele construiu um lar apesar das dificuldades. Depois ficar algum tempo em Sorocaba (SP) na sua chegada ao Brasil, ele afirma que "não pode reclamar”. “Eu estou trabalhando, minha mulher está trabalhando, tenho dois filhos que nasceram no Brasil... O meu sonho agora é trazer o meu outro filho que ainda está no Haiti”, completa.

Por Fernando Klein

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