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Pesquisadora da UFPR desenvolve sistema com cadeira especial

Assento possibilita criar medições que servem de base a produtos específicos para pessoas com dificuldades motoras

Da Redação

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Cadeira especial foi desenvolvida por pesquisadora
Icone Camera Foto por Isabella Sierra/UFPR Acervo
Cadeira especial foi desenvolvida por pesquisadora
Escrito por Da Redação
Publicado em 26.12.2023, 18:49:30 Editado em 26.12.2023, 18:49:28
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Quem não tem muita certeza se veste tamanho M ou G tem noção do desafio industrial que é padronizar uma roupa. Em geral, os modelos das roupas — e dos móveis, das próteses e de diversos outros produtos — vêm de padrões criados por meio de medições de base populacional. Uma tecnologia em ascensão nesta área é a antropometria digital, que usa digitalizadores (escâneres) para obter as medidas de partes de todo o corpo humano. Desta forma é possível obter as dimensões de centenas de pessoas, a fim de criar padrões mais precisos para determinada população.

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A questão é que essa tecnologia exclui pessoas com deficiência motora, que não conseguem ficar em pé enquanto esperam o escâner funcionar — o que pode levar tempo. São pessoas com deficiência motora, usuários de cadeiras de rodas, muletas e pessoas que têm dificuldade em permanecer de pé por muitas horas. A inclusão desse público é o alvo da tese defendida pela professora e pesquisadora Isabella Sierra no Programa de Pós-Graduação em Design (PPGDesign) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), vencedora do Prêmio Capes de Tese 2023 na área de Arquitetura, Urbanismo e Design.

-LEIA MAIS: Governo do Estado congela novamente as taxas do Detran-PR para 2024

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Com base em revisão teórica e muita experimentação, Isabella propõe um sistema, batizado de ADap (sigla para antropometria digital adaptada), que guia a antropometria digital em todas as suas fases para possibilitar a inclusão de pessoas com deficiência motora: planejamento, registro e avaliação de medidas.Dessa forma, a pesquisa subsidia o mercado para pensar em produtos específicos ou até personalizados para esse grupo social, produzidos em escala maior e com adaptação mais precisa.

“A indústria para esse público existe no Brasil, ainda que pequena, e produz produtos adequados usando principalmente outros métodos mais antigos, como moldes de gesso e recortes manuais em espuma, por exemplo. No entanto, são métodos demorados e caros e não conseguem abranger toda a demanda, que é muito grande”, disse Isabella à Ciência UFPR.

Outro ganho prestado pela pesquisa aos setores que produzem para pessoas com deficiência motora é oferecer um guia de uso das tecnologias mais recentes. Isso ocorre por meio da plataforma digital que faz parte do ADap, responsável por orientar o planejamento do produto, que dá também noções sobre os protocolos da antropometria digital.“Essa indústria segue os embasamentos científicos, só que a maioria dos profissionais não tem formação em tecnologia, na área de escaneamento e modelagem 3D, o que dificulta que apliquem essas tecnologias. O sistema tenta ajudar nisso, capacitando os profissionais e auxiliando no desenvolvimento de produtos por meio de uma equipe multidisciplinar que pode usar técnicas inovadoras e muito mais ágeis”.

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Cadeira posiciona pessoas com deficiência para a antropometria digitalAlém dos protocolos e das ferramentas de auxílio à adaptação da antropometria digital, o sistema propõe um dispositivo ortoposicionador, ou seja, que consegue posicionar, de acordo com a necessidade, os membros da pessoa que terá o corpo escaneado. É uma cadeira feita de acrílico e metal que viabiliza a digitalização do corpo em posições sentadas, que também foram sistematizadas na pesquisa.

Já a antropometria digital convencional exige que a pessoa fique em pé, com braços e pernas abertos, como na famosa posição do homem vitruviano de Leonardo da Vinci.

Segundo a professora Maria Lúcia Okimoto, do Departamento de Engenharia Mecânica da UFPR e orientadora da pesquisa, o dispositivo vai ao encontro da reformulação das melhores posturas para medição corporal que a literatura científica tem apresentado.

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“Alguns estudos de antropometria já haviam identificado que a melhor maneira de medir as pessoas não era necessariamente em pé. Para medir altura com mais acurácia, por exemplo, o uso do estadiômetro inclinado [espécie de régua], com a pessoa na posição inclinada durante a medição antropométrica, ajuda porque reduz o efeito da compressão dos discos intervertebrais. Aplicar esse conceito a pessoas com deficiência traz grande vantagem, porque evita que elas fiquem em pé”, afirma Maria Lúcia, que coordena o Laboratório de Ergonomia e Usabilidade (Laberg) da UFPR.A pesquisa usou uma técnica chamada design iterativo, segundo a qual se parte de um protótipo mínimo que é aprimorado a cada experimentação.

Foi assim que testes com o grupo específico da pesquisa mostraram que a cadeira resolve o principal desafio da antropometria digital adaptada, que é permitir o escaneamento dos dois lados do corpo, frente e costas. Os apoios de acrílico têm o objetivo de posicionar membros sem interferir na captação da imagem. Também ajudam que o participante da medição possa ficar sem se mexer durante a digitalização.

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Apesar de a cadeira ser uma parte do sistema ADap, pode-se dizer que tudo começou com uma cadeira. Ou melhor, o interesse no desenho delas.

“Desde que entrei para a graduação em design industrial tive vontade de estudar cadeiras. É um assunto de interesse nos cursos de design por se tratar de um produto bastante comum, que possui uma certa complexidade e que é bastante antigo, podendo ser analisado em diversos períodos da história do design”, conta Isabella.

No mestrado na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), Isabella reuniu cadeiras à tecnologia assistiva e pesquisou cadeiras de rodas. “Após o mestrado o interesse só cresceu”, diz, para explicar como chegou à pesquisa de doutorado. Atualmente professora no Departamento de Expressão Gráfica da UFPR, Isabella continua as pesquisas na área de tecnologia assistiva.

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Tecnologia assistiva tem linha de pesquisa antiga na UFPRPelos resultados que superam a antropometria manual, que é a técnica mais usada para medições de pessoas com deficiência, o ADap foi patenteado e está disponível para licitações e parcerias por meio da Superintendência de Parcerias e Inovação (SPIn) da UFPR.

“A busca de patentes, em projetos de pesquisas, está cada vez mais atraente. O dispositivo desta pesquisa foi patenteado e, espera-se que em trabalhos futuros sejam geradas outras patentes”, explica Márcio Catapan, professor no PPGDesign da UFPR e coorientador da tese.

A tecnologia assistiva é um assunto fixo do Laberg desde 2015, com a criação da Rede de Pesquisa e Desenvolvimento em Tecnologia Assistiva (RPDTA), que reúne pesquisadores da instituição e das universidades federais Tecnológica do Paraná (UTFPR) e de Santa Catarina (UFSC), e as estaduais Paulista (Unesp) e de Santa Catarina (Udesc).

Mais recentemente, somou-se ainda o trabalho com os Novos Arranjos de Pesquisa e Inovação em Tecnologia Assistiva (Napi-TA), da Fundação Araucária, uma parceria entre universidades paranaenses, Hospital do Trabalhador e Secretaria do Desenvolvimento Social e Família (Sedef).

Na avaliação de Maria Lúcia, há muita ciência pela frente para a antropometria digital. Escâneres ainda apresentam limitações para captar imagens de partes complexas do corpo, como mãos e pés.

“Acredito que este seja um desafio a ser superado em breve, com novas tecnologias. Associar a antropometria digital à inteligência artificial é algo também desafiador e parece caminho sem volta”.

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