Desde o início da pandemia no Brasil tem-se falado sobre a importância da manutenção do tratamento do câncer. Mas, na contramão da curva pandêmica, o Paraná registra agora a maior queda nas cirurgias oncológicas. No mês de julho, 70% dos procedimentos foram cancelados. No Brasil, esse impacto poderá ocasionar um aumento de mais de 40 mil óbitos por câncer em relação ao ano passado. Essas são estimativas da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica.
De acordo com o médico cirurgião oncológico, Marciano Anghinoni, do Centro de Oncologia do Paraná, o atual momento se explica porque há no país uma dinâmica epidemiológica padrão, porém vivida em épocas diferentes de acordo com o pico pandêmico de cada região. Devido a isso, o Paraná sente agora o que estados como São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, viveram em meses anteriores.
Anghinoni esclarece que nos primeiros meses da Covid-19, diagnósticos e tratamentos foram parcialmente paralisados por uma onda de temor que tomou conta da sociedade em geral. Passados os meses de março e abril, a rotina buscou um ponto de equilíbrio. Porém, o atual momento é o mais crítico e fatores como o medo dos pacientes de contaminar-se e a sobrecarga dos serviços de saúde são determinantes para a queda do número de cirurgias de câncer. “Existe um apelo para que não sejam realizadas cirurgias para as quais seja necessário o uso de UTI (Unidade de Terapia Intensiva)”, explicou, lembrando que redes pública e privada enfrentam a maior demanda da crise do coronavírus.
O atual momento exige a individualização dos casos, ou seja, avaliar a relação grau de agressividade do tumor e o cenário da pandemia. “É fundamental conversarmos abertamente com o paciente, não ter segredos para propiciar uma decisão compartilhada”, afirmou. “Não é o paciente que toma a decisão individualmente. O especialista é quem sabe o comportamento daquele tumor e isso varia muito de acordo com o tipo de câncer”, salientou, preocupado em conscientizar a todos sobre a importância de não interromper o tratamento clínico. “Confie no médico. A gente está escolhendo o melhor momento para operar em ambiente seguro”.
Diagnóstico
De acordo com o cirurgião oncológico, apesar da queda no número de procedimentos, os diagnósticos não devem ser postergados. Independente da pandemia, “o diagnóstico precoce é importante para manter a taxa de cura e diminuir a mortalidade por câncer”.
Tipos mais agressivos de câncer não esperam e apresentam risco de morte significativamente maior do que o coronavírus. Dentre os com maior índice de agressividade estão, por exemplo, os do sistema nervoso central, de pâncreas, estômago, ovário, esôfago, pulmão e melanoma.
Ainda que seja uma doença silenciosa, alguns indícios podem ajudar a detectar um tumor em fase inicial, como a perda de peso e dores incomuns. A orientação é para sempre procurar um especialista.
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