A fruticultura do Paraná tem sido valorizada por produtores, pequenos empresários e indústrias que investem na sobremesa queridinha do verão: o sorvete. A diversidade, um dos principais atributos da agricultura do Estado, que é um dos supermercados do mundo, aliada à qualidade dos produtos, atrai consumidores em todas as regiões. Algumas iniciativas contam com apoio do governo estadual.
Em Carlópolis, no Norte Pioneiro, a produção de sorvetes de frutas com DNA paranaense está ligada a uma tradição familiar desde a década de 1930, quando Benedito Salles abriu a primeira sorveteria. Na sequência a loja passou para o filho, Roberto, e para o neto, José Salles. “Sempre trabalhamos com vários tipos de fruta”, conta José.
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Há quatro anos quem comanda as vendas é a filha dele, Luzia Cristina Salles, que trocou a carreira de Enfermagem pela produção de sorvetes. “É uma tradição que passou de pai para filha e que leva nossa marca para todo lugar. Procuro sempre usar a fruta, evitando essências artificiais”, conta. “Às vezes me perguntam se eu vou voltar para a Enfermagem, mas não dá coragem, eu gosto muito do que eu faço”.
São 11 frutas diferentes, todas de produtores de Carlópolis. Abacate e goiaba são os sabores mais procurados. O município é reconhecido por uma Lei Federal como a Capital Nacional da Goiaba, e a fruta tem Indicação Geográfica (IG), um selo de reconhecimento do seu valor e da identidade. O pai de Luzia, hoje aposentado, é o principal fornecedor de abacate na sorveteria, e já frequentou cursos do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná Iapar-Emater (IDR-Paraná) para melhorar a produção.
A tradição familiar também é a marca registrada da sorveteria Primorato, em Morretes, no Litoral. Donos de um restaurante que servia como parada de caminhoneiros na Serra da Graciosa, os avós do empresário Márcio Jazar Zanikoski compraram uma máquina de sorvete em 1954 e tiveram muito sucesso no ramo. “Todos os filhos foram criados dentro do negócio e adquiriram habilidades na gastronomia”, conta.
Na década de 1980 foi a vez de seus pais abrirem uma sorveteria em Curitiba e, depois de se aposentarem, voltaram para Morretes. Em 2016 Zanikoski foi para o Litoral para dar continuidade ao negócio familiar. Hoje a sorveteria busca ressaltar os sabores da região, como banana, maracujá, açaí de juçara, goiaba, jabuticaba, pitanga, pitaya, limão rosa, entre outras.
“As receitas foram criadas por meu pai e eu mesmo gosto de inovar em sabores. A produção é toda artesanal, trabalhosa, mas vale a pena quando escutamos o ‘hummm’ do cliente. Usamos os frutos locais, pois, além de frescos, são procurados pelos moradores e turistas que vêm de toda parte”, diz.
INDUSTRIALIZAÇÃO
De acordo com a Associação Brasileira do Sorvete e Outros Gelados Comestíveis (Abrasorvete), que representa a indústria do setor, em 2023 o consumo de sorvetes em todo o Brasil cresceu 15%, atingindo 438 milhões de litros. Para 2024 a expectativa do setor é crescer mais 5%. Considerando vendas de açaí e massas servidas em casquinhas em sorveterias, o consumo total pode chegar a 600 milhões de litros ao ano.
O Paraná tem percebido esse aumento da demanda. No Centro-Oeste, a Cooperativa da Agricultura Familiar de Corumbataí do Sul e Região (Coaprocor) tem clientes diversos, como supermercados, indústrias de sucos e cosméticos. Mas parte da produção é destinada para sorveterias, e inclusive uma grande empresa de Minas Gerais utiliza a polpa do maracujá para a produção da sobremesa. São 650 associados de mais de 20 municípios que trabalham com frutas como maracujá, acerola, morango, framboesa, amora e goiaba.
A cooperativa já foi contemplada pelo programa Coopera Paraná, do Governo do Estado, o que colaborou com a logística, compra de câmara fria, entre outros investimentos. Também recebe assistência técnica do IDR-Paraná. “Nosso diferencial é que atuamos na cadeia toda: somos produtores, fazemos a comercialização, a logística, por isso somos competitivos, além do bom preço”, diz o presidente da Coaprocor, Olavo Aparecido Luciano. “Temos excelente qualidade, é uma polpa natural que está criando um caminho importante”.
Apesar de enfrentar desafios como a deriva, doenças e a dificuldade em manter a sucessão familiar, Luciano conta que cada vez mais empresas estão interessadas em industrializar a fruticultura da região. Nos últimos anos, principalmente pequenas culturas como framboesa e amora estão se destacando.
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