A zona rural de Mandaguari, a 5 quilômetros da área urbana, guarda uma raridade geológica do Brasil: a Caverna do Cambota. A cavidade em basalto, rocha de origem vulcânica, foi a segunda do tipo descoberta no Brasil e a primeira no Paraná.
Essa rara formação é conhecida de longa data dos moradores da região e atrai curiosos, mas quem não está muito habituado com cavernas tem a impressão de que não passa de um mero buraco no solo provocado por água da chuva.
Cavernas de basalto, como a do Cambota, em Mandaguari, são extremamente raras no país, representando apenas 0,2% (ou 45 unidades) das 21.505 formações catalogadas pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas. Esse tipo de cavidade é popular no Havaí.
Quem colocou a Caverna do Cambota oficialmente no mapa foi o geólogo Angelo Spoladore, professor do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Em 2005, ele e mais quatro pesquisadores catalogaram a área, recolheram fragmentos de rochas para análise, fizeram medições e registros que entraram para a história.
Foi a partir do trabalho de Spoladore que se descobriu que a caverna é uma formação de basalto, uma rocha vulcânica, que tem de 20 metros a 25 metros de extensão, quando colocada em linha reta, e que teria sido formada há 120 milhões ou 130 milhões de anos. “A idade da caverna é complicado acertar, mas ela pode ter surgido no final do ciclo magmático, há 120 milhões de anos.”
A entrada da caverna, de 1,3 metro de diâmetro, está a menos de 4 metros de uma estrada rural, a 811 metros de altitude. Lá dentro, a locomoção é extremamente difícil em razão da altura limitada, de apenas 1,5 metro. Alguns espaços só são possíveis de acessar rastejando ou engatinhando. Foi o que o grupo de pesquisadores fez.
Durante o mapeamento, eles descobriram que a cavidade é composta por dois salões unidos por um corredor baixo e estreito. O primeiro salão surge logo na entrada da caverna, e no segundo, e maior, é possível ficar sentado. Mas a caverna termina ali? Spoladore diz que não. Embora o acesso de pessoas seja inviável, a cavidade se estende por mais 10 metros. “Possivelmente, essa área está em desenvolvimento.”
Um detalhe que chamou a atenção dos exploradores foi o teto da caverna. Por ser formado por rocha cheia de bolhas preenchidas por cristais de quartzo, calcita e zeólita, quando é iluminado por luz artificial proporciona um visual impressionante. “É uma caverninha bem simples e pouco desenvolvida, mas muito bonita”, diz o geólogo, que mapeou 160 cavernas no Paraná. Ao todo, o Estado tem 507 cavidades naturais subterrâneas.
Descobertas arqueológicas
Alguns registros apontam que foram encontrados artefatos indígenas na caverna. São cerca de 10 objetos, entre fragmentos de rochas e restos de granito. Spoladore se recorda de ter visto os objetos pelas mãos de um morador da região, mas não acredita que eles estariam “naturalmente” na caverna. “Existe divergência sobre a quem pertenciam, se aos indígenas ou se alguém teria os deixado lá.”
Visitas à caverna não são indicadas
Enquanto algumas cavernas pelo Brasil são exploradas pelo turismo, a do Cambota não apresenta esse potencial, segundo o geólogo. Ele diz que as condições não são favoráveis à visitação, pois o acesso é difícil, a altura é restrita e não há como ficar de pé. “No primeiro salão, você só consegue rastejar, e no segundo, apenas fica sentado”, conta. Além disso, há relatos de moradores de que pode haver cobras no local.
A caverna, apesar de rara, não conta com área de produção adequada. Para isso, afirma Spoladore, deveria haver uma área de defesa de um raio de 30 metros e ser proibida a circulação de veículos nas proximidades.
A expedição do geólogo a Mandaguari também contribuiu para que outras formações de basalto no Paraná fossem descobertas nos anos seguintes e reconhecidas como cavernas, principalmente no sudoeste, totalizando 23 formações nas cidades de Pato Branco, Marmeleiro, Manfrinópolis, Francisco Beltrão, Flor da Serra do Sul e Enéas Marques.
Com informações: GMC Online
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