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'Sou empresário', diz candidato do PC russo

IGOR GIELOW, ENVIADO ESPECIAL MOSCOU, RÚSSIA (FOLHAPRESS) - "Eu não sou comunista, nem membro do Partido Comunista. Sou empresário. Eles me escolheram para ser candidato, apenas isso", diz Pavel Grudinin com um sorriso amplo, mas algo desconfiado. Ao rece

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 18.03.2018, 06:30:00 Editado em 18.03.2018, 06:30:09
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IGOR GIELOW, ENVIADO ESPECIAL

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MOSCOU, RÚSSIA (FOLHAPRESS) - "Eu não sou comunista, nem membro do Partido Comunista. Sou empresário. Eles me escolheram para ser candidato, apenas isso", diz Pavel Grudinin com um sorriso amplo, mas algo desconfiado. Ao receber a reportagem em um escritório da Fazenda Estatal Lênin, faz perguntas sobre o Brasil. "Conheci Lula há uns dez anos, num evento de agricultura em Iowa (EUA). Como ele está?", pergunta.

A reportagem relata as agruras judiciais do ex-presidente, que pode ser preso por corrupção.

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"Mas ele disse que havia acabado com a fome no Brasil. Talvez corrupção não seja um problema tão grande para um líder tão importante", disse.

Isso vale para Vladimir Putin, seu rival no pleito deste domingo? "Tudo o que tenho a dizer para o presidente eu falaria olho no olho. Não critico outros candidatos", disse, tomando chá de frutas vermelhas e comendo pequenos chocolates.

Grudinin, 57, parece mais jovem. Bigode e cabelo grisalhos evocam o ditador soviético Josef Stálin, a quem admira o que chama de parte positiva do legado.

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Um enorme morango, carro-chefe da fazenda que dirige desde 1995, adorna a mesa e sua peculiar trajetória -é apelidado o rei do produto.

Tendo se formado em agricultura em 1982, passou a trabalhar na sovkhoz (fazenda estatal) Lênin, a 20 km de Moscou, área hoje dominada pelo gigantesco shopping Vegas e por blocos residenciais.

Naquela época, havia 25 mil sovkhozes, com produção centralizada. Em 1991, com o fim soviético, as fazendas retiveram o título mas viraram sociedades acionárias.

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A Lênin tinha um grupo pequeno de controladores, 40 pessoas, e quatro anos depois Grudinin assumiu o negócio.

Em 2002, novas leis permitiram a venda das áreas, que foram parar nas mãos de gente como Aras Agalarov, construtor do Vegas e conhecido como Rei dos Shoppings. As 11 sovkhoz próximas da Lênin sumiram.

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Já deputado regional, eleito em 1997, o empresário foi esperto: vendeu apenas pedaços da área que controlava, parte para Agalarov, parte para a rede sueca de móveis e coisas do lar Ikea.

Segundo Grudinin, o dinheiro poderia ir para alguma das contas na Suíça que a Comissão Central Eleitoral russa disse ter identificado em seu nome e que ele afirma ter fechado. "Quase todos os candidatos são mais ricos do que eu", afirma.

Ele investiu no desenvolvimento da área de 13 km², que tem escola e parque de diversões e parece um condomínio fechado decorado com morangos nos postes de luz.

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Fornece produto fresco, morangos e vegetais, para redes chiques de Moscou.

Faturou R$ 230 milhões em 2017, pagando salario anual de R$ 1,1 milhão a Grudinin e, mensalmente, em média R$ 4.400 aos trabalhadores -o dobro do resto da Rússia.

"O que eu quero fazer é repetir em todo o país o que eu faço aqui na fazenda", afirmou ele, que tem 6,7% de intenções de voto na última pesquisa antes do pleito, divulgada segunda (12) pelo instituto FOM.

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Sua indicação pegou o mundo político russo de surpresa. Desde 1993, após o fim da União Soviética, a sigla é dominada por Guennadi Ziuganov, eterno presidenciável que quase chegou lá com 41% dos votos em 1996. Ele ainda manda no partido, mas cedeu a vez para Grudinin.

O empresário diz que o comunismo é só um dogma. "Não há contradição entre o que faço e as ideias do marxismo-leninismo", diz ele. O PC viu na sovkhoz uma espécie de paraíso socialista 2.0 a ser vendido ao eleitorado.

Isso o faz alvo de analistas, que enxergam nele discurso populista vazio. "Fala livremente porque é confortável para o Kremlin também, já que tem ligação anterior com Putin", afirmou ao jornal The Moscow Times Gleb Pavlevski, ex-assessor do presidente Boris Ieltsin.

Grudinin aderiu ao partido putinista Rússia Unida em 2001 e só saiu em 2010, quando perdeu espaço para outro candidato. Aproximou-se dos comunistas, mas só passou a criticar abertamente o governo há dois anos.

Ele é opaco sobre detalhes do negócio. Se recusa a explicar como uma empresa deficitária de investimentos, a TT, pagou pela ampliação das áreas de lazer da fazenda. "É segredo", disse ao site investigativo letão Meduza.

Além da reportagem, ele recebeu também uma equipe cubana da rede Telesur e um jornalista da publicação L'Humanité, órgão oficial do Partido Comunista Francês até 1994.

Os latino-americanos da rede criada pelo regime de Hugo Chávez estão interessados no papel de Grudinin e do partido que o adotou para a autodeterminação dos povos, antigo bordão comunista. Tentam arrancar declaração de apoio à ditadura de Nicolás Maduro na Venezuela. Saem decepcionados. Grudinin fala genericamente em melhorar laços com a América Latina. Teriam mais sorte se entrevistassem Putin, aliado de Maduro.

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