GUILHERME MAGALHÃES
BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) - Em seu primeiro dia no cargo, o novo ministro alemão do Interior deu declarações que indicam um endurecimento na política de refugiados do país, uma das atribuições de seu ministério.
"O islã não pertence à Alemanha", disse Horst Seehofer ao Bild, em entrevista publicada nesta sexta-feira (16). "Os muçulmanos precisam viver conosco, não perto da gente ou contra a gente."
Em 2015, ano mais agudo da crise imigratória, a Alemanha recebeu cerca de 1 milhão de refugiados, a maioria vinda de Síria, Afeganistão e Iraque. A chanceler Angela Merkel defendeu uma política de portas abertas, o que levou seu partido conservador, a CDU (União Democrata-Cristã), a perder eleitores para o ultranacionalista AfD (Alternativa para a Alemanha).
Ex-governador da Baviera, Seehofer lidera a CSU (União Social-Cristã), aliada de Merkel. A aliança de décadas, porém, não o impediu de criticar abertamente a política de refugiados da chanceler.
Depois de um ataque terrorista matar 12 pessoas em Berlim em dezembro de 2016, Seehofer passou a defender um teto anual de 200 mil refugiados a serem recebidos por seu país.
"A Alemanha é moldada pelo cristianismo", afirmou o ministro ao Bild. "Isso inclui o domingo livre, os feriados religiosos e rituais como Páscoa, Corpus Christi e Natal. É claro que os muçulmanos que vivem conosco pertencem à Alemanha. Mas isso não significa que iremos desistir de nossas tradições por falsa consideração."
Dias antes de assumir a pasta que cuida do aparato de segurança interna da Alemanha, Seehofer dissera: "Queremos permanecer um país aberto ao mundo e liberal. Mas quando se trata da segurança dos cidadãos, precisamos de um Estado forte".
SEM ENDOSSO
Questionado, o porta-voz de Merkel não endossou as declarações. Apesar de historicamente moldado por cristãos e judeus, o país é lar de milhões de muçulmanos, disse Steffen Seibert em entrevista coletiva nesta sexta. "Com base em nossos valores e sistema jurídico, o islã agora também é parte da Alemanha."
Integrantes de outros partidos criticaram Seehofer e afirmaram que assim ele faz campanha para a AfD. "Esse é o discurso que se conhece: 'Não tenho nada contra estrangeiros, porém...'", disse o deputado dos Verdes Jürgen Trittin.
A sigla ultranacionalista, de fato, foi a única a elogiar o ministro. "O ministro Seehofer tirou essa mensagem precisamente do nosso programa", afirmou André Poggenburg, que até a semana passada liderava a AfD no leste da Alemanha.
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