GABRIEL BOSA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A quietude que permeia o relacionamento de Diana (Carolina Dieckmann) e Mario (Leonardo Sbaraglia), protagonistas do filme O Silêncio do Céu, é mais complexa do que a falta de diálogo. A comunicação truncada funciona como instrumento de agressão, escondendo velhos medos, rancores e incertezas.
Essa foi uma das conclusões do debate que se seguiu à exibição do filme brasileiro, de 2016. O longa conta a história de um casal que reata o relacionamento após uma separação de dois anos, mas enfrenta uma situação violenta na primeira semana em que o marido volta para casa. Diana é estuprada, Mario assiste à cena, escondido, sem conseguir agir. Ela não conta que foi agredida e ele não diz que viu tudo.
A decisão da mulher em esconder a agressão aflora antigos transtornos em Mário, tornando o segredo uma forma distinta de violência. Toda tranquilidade tem caráter encobridor, funciona como uma fachada que oculta os verdadeiros e perturbadores pensamentos e vivências dos protagonistas. Nessa história, o mal-estar é o silêncio, e o silêncio é a violência, afirmou a psicanalista Susana Muszkat, autora do livro Violência e Masculinidade (ed. Casa do Psicólogo, 218 págs., R$ 39).
O colunista da Folha de S.Paulo Marcelo Coelho viu no filme várias referências ao voltar. A ideia de estar enraizado, de não poder sair e ter medo de regressar, é uma característica que prende cada um de nós no lugar em que estamos.
A conversa, mediada pela psicanalista Luciana Saddi, abriu o primeiro debate do Ciclo de Cinema e Psicanálise, na noite de quarta-feira (7). A mostra é realizada pela Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e pela Cinemateca Brasileira, com apoio da Folha de S.Paulo.
A relação do casal do filme foi classificada por Susana em dois eixos: o plano real e os pensamentos íntimos de cada personagem. Enquanto o primeiro expõe o cotidiano pré-definido de Mário e Diana, o outro escancara um isolamento cada vez mais profundo. Diana e Mário vivem em mundo isolado e enlouquecedor, tendo a ilusão de o que os enlouqueceria seria compartilhar o que os assustam, quando é justamente o contrário.
O primeiro módulo da mostra, intitulado Mal-estar na Civilização e Família, segue até o dia 25 de abril, com apresentações de filmes sempre às 19h de quarta-feira, na Cinemateca Brasileira.
Todas as sessões serão seguidas de um debate sobre o filme e o contexto psicanalítico. A programação terá apresentação de Amor (21/3), O Jantar (4/4) e Uma Mulher Fantástica (25/4). A entrada é gratuita, basta se inscrever em www.sbpsp.org.br
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