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Oscar levanta bandeira da diversidade mas consagra filme água com açúcar

INÁCIO ARAUJO SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Sabia-se, desde o começo, que este seria um Oscar um tanto diferente. O escândalo Weinstein e os que vieram a seguir, a reação radical das mulheres (não só as do cinema) diante de assediadores em geral... Isso nã

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 05.03.2018, 16:00:00 Editado em 05.03.2018, 16:00:10
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INÁCIO ARAUJO

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Sabia-se, desde o começo, que este seria um Oscar um tanto diferente. O escândalo Weinstein e os que vieram a seguir, a reação radical das mulheres (não só as do cinema) diante de assediadores em geral...

Isso não é tudo. Longe disso: entre os candidatos a melhor filme, havia uma produção em que o amor entre gays é aberto; havia o filme-surpresa da temporada americana, dirigido por um negro, estreante e com um pensamento racial ostensivo (“Corra!”).

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Há muito tempo, em suma, não acontecia nada parecido na noite do Oscar. Tudo: gênero, cor, opções sexuais –tudo mesmo apontava para uma mudança cultural profunda nos hábitos ocidentais.

Hollywood pode até não ser a ponta de lança dessas mudanças, mas é um indicador poderoso (não é à toa que Harvey Weinstein foi um produtor de cinema de peso).

Para que lado penderia a Academia? Para o da aceitação da homossexualidade? Por que não? Se existe até uma atriz transexual em “A Mulher Fantástica”, concorrendo a melhor filme estrangeiro. Ou penderia ao enfrentamento franco do racismo, questão urgente nos EUA (e em quase todo o mundo)?

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Até alguns meses atrás, tais escolhas podiam parecer impossíveis. Não mais.

O fato é que desta vez até as opções mais, digamos, “light”, são atravessadas por esse tipo de questões, e suas tensões apareciam desde o famoso “tapete vermelho”, e logo em seguida, na primeira entrada do apresentador Jimmy Kimmel, farta em menções a sexualidades e cores da pele.

Tudo quase tão surpreendente quanto o aparecimento de Eva Marie Saint, do alto de seus 95 anos, a evocar uma era em que o cinema era a grande arte. A terceira idade (a popular velhice) foi salva pelo prêmio de melhor roteiro adaptado para James Ivory, 89, o mais velho a receber um Oscar na história, por "Me Chame pelo Seu Nome". Mas foi tudo o que os veteranos conseguiram na noite. Nem Christopher Plummer nem Agnès Varda ganharam nada.

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O primeiro grito político da noite veio com “Uma Mulher Fantástica”: transexualidade num filme chileno. Como pedir mais? Bem, seria legal se a atriz negra ganhasse como melhor coadjuvante. Não rolou.

Segundo grito político: “Coco” ganha o prêmio de melhor animação: um prêmio para a comunidade latina? Bem, até aqui mulheres, gays e negros estão meio por baixo.

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Esses ganham destaque num clipe em que se pregava a diversidade nos filmes, nos elencos, nos personagens, mas até aqui é pouco. Os negros ao menos levam em seguida o Oscar de roteiro original, que vai para “Corra!”. É pouco para o que o filme é, mas é muito para o Oscar, até aqui bem hostil aos filmes mais combativos da experiência negra (nem Denzel Washington ganhou por sua antológica atuação em “Malcolm X”).

Fotografia vai para Roger Deakins por “Blade Runner 2049”. Mais um troféu na conta da terceira idade, é verdade, mas sobretudo da resiliência: era a 14ª indicação do fotógrafo, e esta é a primeira vez que leva.

Já melhor direção fica, previsivelmente, para o mexicano Guillermo Del Toro, que fez um “A Forma da Água” um tanto água com açúcar. O discurso de agradecimento soa melhor que o filme: “eu sou um imigrante”, diz ele. Ok, é improvável que esteja na mira de Trump para efeito de deportação, mas o recado foi dado sucintamente.

Pode-se dizer que o prêmio de melhor ator para Gary Oldman é mais um triunfo da terceira idade, o que é certo tão certo quanto a ideia de que o mundo à busca de “grandes homens” (como Churchill), num momento em que eles parecem sumir do mapa.

Já o de melhor atriz acaba, como se previa, com Frandes McDormand: uma concessão aos indignados deste mundo. Frances convoca todas as presentes a se levantar e contar suas histórias. Ganhou a estatueta mas não calou a boca: encarnou a personagem de “Três Anúncios para um Crime”, afinal, e deu a última palavra política às mulheres e à ideia de inclusão.

Também não era imprevisível que “A Forma da Água” ficasse com o Oscar de melhor filme. Estranha Hollywood: num ano tão político, premia, no fim das contas, o mais água com açúcar dos filmes propostos.

Verdade que há ali uma proposta simpática, em torno da tolerância e do reconhecimento do outro. Mas é rala o bastante para consagrar, afinal, o gosto formalmente conservador do Oscar. Para além de inclusões e sexualidades, o “show must go on”.

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