FABRÍCIO LOBEL
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Com atraso de um ano, o governador Geraldo Alckmin inaugura na manhã deste sábado (3) a obra de interligação entre o rio Paraíba do Sul e uma das represas do sistema Cantareira, o principal reservatório de água da região metropolitana de São Paulo.
Alckmin é pré-candidato do PSDB ao Palácio do Planalto e, de acordo com a legislação eleitoral, tem até a primeira semana de abril para deixar o cargo no governo para concorrer na eleição deste ano.
Por isso, o governador tenta emplacar uma extensa agenda positiva em seus últimos dias no governo paulista.
Essa obra estava inicialmente no plano do governo paulista para ser entregue em 2020, mas, com a crise hídrica que castigou o estado de São Paulo em 2014 e 2015, o projeto teve de ser adiantado. Durante a crise, a interligação chegou a ser prometida para novembro de 2016, mas será entregue neste sábado, ao custo de R$ 555 milhões, financiados pelo BNDES.
A Sabesp (companhia paulista de saneamento) diz que o atraso se deu à demora na liberação de licenciamento da interligação.
OBRAS
A obra liga por meio de bombas, túneis e adutoras duas fontes de água que antes não se comunicavam. Assim, uma poderá abastecer a outra em caso de estiagem, como a que deixou o Cantareira próximo a um colapso.
Apesar de serem de duas bacias hidrográficas diferentes, os dois pontos agora interligados ficam relativamente próximos, a 13 km.
A água que sair do Paraíba do Sul, na represa de Jaguari, será bombeada até um ponto a mais de 200 metros de altura. Depois disso, a água cairá por um túnel até a represa de Atibainha, no Cantareira.
O projeto é para que o mesmo caminho possa ser aproveitado no sentido contrário, ou seja, que a Grande São Paulo também possa ceder água ao rio Paraíba do Sul, que abastece parte do Vale do Paraíba e também à região metropolitana do Rio de Janeiro.
A Sabesp disse que a transferência de água para o lado do Paraíba do Sul entrará em operação neste mês.
O bombeamento tem a capacidade de transferir 5.100 litros de água por segundo no sentido do Cantareira e 12,2 mil no sentido Paraíba do Sul.
Nesta última sexta (2), o Cantareira tinha 40,6% de sua capacidade, caso seja considerado o volume de água abaixo dos tubos da captação de água da Sabesp na represa, o chamado volume morto.
Esse índice coloca o Cantareira no estado de atenção, quando a Sabesp tem que reduzir a captação dos tradicionais 33 mil para 31 mil litros de água por segundo.
Desde o início da estação chuvosa, em outubro, o Cantareira tem recebido 22% menos chuva do que o esperado.
CONFLITO
A interligação das duas bacias chegou a causar conflito entre três estados do Sudeste: São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Embora as obras ocorram todas em território paulista, a água transferida pertence a um rio federal e que abastece também o Rio de Janeiro e Minas.
O Ministério Público também alegou que a transposição poderia causar danos ambientais, com consequências inclusive para a saúde.
Na época, o ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, disse que não toleraria que São Paulo tirasse água do Rio.
Após o embate entre os estados, um acordo entre os três estados teve que ser costurado com a ajuda da Ana (Agência Nacional de Águas) e o Supremo Tribunal Federal. Pelo acordo, os estados irão acordar o volume de água transferido nas situações de crise.
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