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Especialistas alertam para riscos da troca de remédios biológicos por biossimilares

LEONARDO NEIVA SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A discussão sobre a regulamentação de medicamentos biossimilares no Brasil já está superada. Agora, os principais temas que precisam ser debatidos são os problemas da substituição automática de fármacos biológic

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 22.02.2018, 14:35:00 Editado em 22.02.2018, 14:35:11
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LEONARDO NEIVA

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A discussão sobre a regulamentação de medicamentos biossimilares no Brasil já está superada. Agora, os principais temas que precisam ser debatidos são os problemas da substituição automática de fármacos biológicos pelos biossimilares correspondentes, a farmacovigilância (avaliação do uso e dos efeitos) e também formas de levar esses medicamentos para toda a população.

Foi a essa conclusão que chegaram especialistas que discutiram o tema nesta quinta-feira (22), em debate sobre acesso e regulação dos novos fármacos, que abriu o Fórum Medicamentos Biológicos e Biossimilares, realizado pela Folha de S.Paulo com patrocínio da Pfizer e da Roche.

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O evento aconteceu no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo. A mediação ficou a cargo da repórter especial e colunista da Folha de S.Paulo, Cláudia Collucci.

O medicamento biossimilar é uma cópia do biológico, que é obtido a partir de células vivas modificadas geneticamente. Biofármacos têm estruturas mais complexas do que remédios químicos e são voltados para o tratamento de doenças importantes como câncer, Alzheimer, diabetes, artrite reumatoide, entre outras.

Ao contrário do genérico, porém, o biossimilar não é idêntico ao fármaco de referência, devido à complexidade e variabilidade biológicas e ao fato de o processo de fabricação do biofármaco diferir dependendo do fabricante. O princípio ativo -substância responsável por exercer o efeito farmacológico no organismo-, no entanto, é o mesmo entre ambos.

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Como o princípio ativo já foi testado no desenvolvimento do fármaco de referência, a efetividade e segurança dos biossimilares estariam supostamente asseguradas. Alguns estudiosos, porém, não estão convencidos de que os testes realizados, que buscam assegurar a proximidade entre os medicamentos originais e suas cópias, são suficientes para mostrar que os biossimilares trazem os mesmos benefícios dos fármacos biológicos.

"A discussão está um passo à frente", afirmou o presidente da Interfarma (Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa), Antônio Britto. "Havendo medicamento biológico reconhecido e um biossimilar correspondente que também passou por regulação, um pode ser trocado pelo outro" A Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] decidiu que nenhuma relação é sempre intercambiável ou proibida de ser intercambiável. Caberá ao médico definir as circunstâncias em benefício do paciente."

De acordo com Britto, o problema é que, no SUS, o governo acaba priorizando medicamentos mais baratos e pode fazer simplificações perigosas, causando riscos aos pacientes ao igualar biossimilares, que teriam preços mais baixos, aos fármacos de referência. Ele defendeu uma maior conscientização e participação dos médicos na tomada de decisões.

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"Os governos vivem, diante da falta de dinheiro, convidados à ideia de que o barato, ainda que não totalmente adequado, é melhor do que nada. Mas os medicamentos biológicos colocam uma dificuldade nessa equação", segundo Britto.

Para o diretor de acesso ao mercado e relações governamentais da Roche, Eduardo Calderari, os biossimilares devem ajudar a dar suporte ao sistema de saúde brasileiro, mas não substituirão os biofármacos. Ele também colocou em dúvida o preço mais barato para biossimilares no país, citando os altos custos de desenvolvimento dos novos medicamentos.

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"Hoje temos produtos biológicos no Brasil com preços abaixo de biossimilares na Europa. Tenho dificuldade em assegurar que vai haver uma redução ainda maior", afirmou.

Calderari lembra também que a disseminação dos biossimilares não deverá garantir o acesso a toda a população. Segundo ele, para isso é importante lançar fármacos com benefícios claros, aliados a projetos de expansão do acesso que levem em consideração a realidade das diferentes regiões do Brasil.

EDUCATIVO

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Sílvia Storpirtis, professora associada da faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, defendeu iniciativas educativas por parte do governo para informar profissionais da saúde a respeito dos novos fármacos que estão chegando ao mercado.

Ela destacou a farmacovigilância -avaliação e monitoramento do uso e efeitos de medicamentos a partir do momento em que já entraram no mercado- como principal forma de acompanhar os resultados da inserção dos biossimilares.

Segundo Storpirtis, é importante que profissionais de saúde gerem dados clínicos confiáveis e que as negociações entre governo e indústria sempre levem em conta estudos de efetividade. "Através de parâmetros bem estabelecidos, com medicamentos utilizados por pacientes, é preciso avaliar se a tecnologia está cumprindo seu papel e entregando o prometido no momento da incorporação ao mercado", disse.

REGISTROS

Já o gerente-geral de medicamentos e produtos biológicos da Anvisa, Varley Dias Sousa, afirmou que a farmacovigilância ainda é pouco desenvolvida no Brasil em comparação com outros países. Segundo ele, a agência hoje está reduzindo prazos para a aprovação de novos medicamentos e precisa aumentar o rigor na avaliação de biossimilares que estiverem disponíveis para a população.

"Hoje temos sete biossimilares registrados e 14 ainda em avaliação. Esperamos que todos os processos sejam avaliados nos próximos dois ou três meses. Em breve, os medicamentos estarão triplicados em termos numéricos e de volume no mercado."

A Anvisa, no entanto, não inclui no campo regulatório a questão da intercambialidade entre biológicos e biossimilares. Segundo Sousa, com a justificativa de não incorrer em aspectos políticos da discussão nem precisar expandir seus prazos de regulamentação. Para ele, é necessário que pacientes e médicos tomem parte ativa no processo, avaliando as resoluções da agência e levando em conta as particularidades de cada doença.

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