MARTHA ALVES, MARIANA ZYLBERKAN E ARTHUR RODRIGUES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os usuários do metrô de São Paulo amanheceram nesta quinta-feira (18) sem o serviço devido a greve da categoria contra a privatização das linhas 5-lilás e 17-ouro (monotrilho). Para chegar ao trabalho, o paulistano precisou enfrentar longas filas e ônibus lotados. Cerca de 4 milhões de pessoas utilizam o metrô diariamente.
Apesar da paralisação, trechos das linhas 1-azul (entre as estações Saúde e Luz), 2-verde (Ana Rosa até Vila Madalena), 3-vermelha (Bresser-Mooca até Marechal Deodoro) e 5-lilás (Capão Redondo a Adolfo Pinheiro) estavam funcionando parcialmente por volta das 7h58. A linha 15-prata (entre Oratório e Vila Prudente) está totalmente fechada, segundo o metrô.
Nas demais estações onde o metrô não circula, uma frota extra de ônibus está atendendo a população, como na estação Corinthians-Itaquera (linha 3-vermelha), que está completamente fechada para a circulação dos trens da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e do metrô.
Com a greve deflagrada, a prefeitura liberou o rodízio de carros de passeio e o serviço da zona azul. A SP Trans (empresa municipal de transporte) também pôs nas ruas uma operação especial de ônibus para manter o acesso à região central e às principais pontes da capital paulista. A CPTM antecipou o horário de abertura das estações a partir das 4h para atender o aumento da demanda. A concessionária da linha 4-amarela também informou que adequou a sua oferta de trens.
Sergio Avelleda, secretário municipal de Transportes, diz que o sistema de ônibus não consegue suprir totalmente a capacidade do metrô. E reafirmou a recomendação de utilizar bicicletas ou se locomover a pé para distâncias curtas ou utilizar caronas.
Avelleda presidiu o Metrô. Questionado sobre a motivação da greve, disse "não ter condições de entrar no mérito desses assuntos" por não estar na empresa, mas que "chama a atenção que a única linha privatizada [a linha 4-amarela] esteja operando normalmente". Segundo ele, a paralisação pode levar a opinião pública a apoiar as privatizações.
Em vídeo divulgado em seu perfil no Facebook, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) adotou posição semelhante. Para ele, a greve é "absurda" e "reforça a convicção de que está correta a concessão das linha 5 e 17". "A única linha operando totalmente é a linha operada pela iniciativa privada. Nós não vamos retroagir", afirmou.
NO MEIO DO CAMINHO
A paralisação parcial deixou passageiros presos no meio do caminho. A babá Neide Novaes, 50, veio de Mogi das Cruzes e, ao chegar na Luz, não tinha como chegar na Parada Inglesa por meio da linha azul a linha só funcionava entre Luz e Ana Rosa. "Já avisei minha patroa que não consigo chegar", diz.
Alguns passageiros criticaram os grevistas pela paralisação parcial. "Quer parar para tudo.Isso é uma palhaçada", afirma a analista de crédito Tércia Lacerda, 51, que faria o trajeto entre Itapecerica da Serra e Santana, mas também ficou presa na Luz.
A doméstica Kilma Taciana da Silva, 30, chegou na estação Itaquera antes das 6h e não conseguiu embarcar nos ônibus lotados que saiam rumo ao centro. "Na última greve, me machuquei na confusão. Não quis arriscar", diz ela que trabalha no Morumbi.
A auxiliar de limpeza Cristina Sobrinho, 41, chegou por volta das 4h na estação e se deparou com o embarque para os trens da CPTM fechado. "Tinham seguranças com cassetetes enormes barrando a entrada".
De acordo com passageiros vindos da Penha (zona leste) com destino ao Terminal Parque Dom Pedro, um trajeto que leva geralmente menos de uma hora demorou uma hora e meia neste dia de greve. Entre os usuários, havia vários passageiros que foram obrigados a alterar a rotina.
Funcionária de um escritório no centro, Stefani de Sá, 23, diz que levou o dobro do tempo no trajeto entre o Parque Dom Pedro e a Cidade Tiradentes. "Normalmente demora uma hora. Mas hoje demorou duas, porque estava muito congestionado o trânsito da Radial Leste", disse.
O Metrô lamentou a decretação da greve e disse que acionou uma operação de contingência para atuar nesta quinta. Na prática, isso significa que foram convocados funcionários do alto escalão da companhia capazes de operar os trens e manter as estações funcionando mesmo que parcialmente.
Para o sindicato dos metroviários, a decisão pode colocar a população em perigo "já que os trens devem ser conduzidos por profissionais treinados e habilitados para isso, os operadores de trem", segundo trecho de nota.
MOTIVOS
Os metroviários manifestam contra a concessão à iniciativa privada de duas linhas do Metrô, a 5-Lilás e a 17-ouro (monotrilho) feita pela gestão Geraldo Alckmin (PSDB). O resultado da licitação será conhecido nesta sexta-feira (19), e uma empresa ou consórcio será responsável pela operação das duas linhas.
Além das linhas 5 e 17, o Metrô pretende ainda conceder as linhas 2-verde e 15-prata, que já estão construídas. Entre as linhas que estão em construção e que também deverão ser concedidas estão a 6-laranja e 18-bronze. Neste modelo, o Metrô iria operar apenas as linhas 1-azul e 3-vermelhas.
Nesta semana, a Justiça do Trabalho chegou a determinar que 80% da categoria deveria trabalhar nos horários de pico da operação e 60% fora do horário de pico. A multa caso descumpram a determinação é de R$ 100 mil.
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